terça-feira, 27 de setembro de 2011

EU QUE ACREDITEI

EU QUE ACREDITEI
Não que eu seja uma cidadã vivida. Pelo contrário. Minhas experiências não resultaram em aprendizado nenhum. Continuo entrando em roubadas. Me dando mal em finais infelizes. Escolhendo os homens errados (quando eu bem sei quais são os certos, mas finjo não saber). Trocando o mocinho pelo bandido. Fazendo grandes investimentos em pequenas pessoas. Sei que isso acontece com todo mundo. Mas acho que comigo já deu. Sou pouco tolerante.

Tolero falta de grana. Tolero desemprego. Tolero ciúme. Tolero chatice. Tolero amigos chatos. Tolero futebol 57 vezes por semana. Tolero boteco com os amigos. Tolero amigas bonitas e peitudas. Tolero até homem bêbado. Mas certas coisas não descem mesmo. Não tolero falta de caráter. Não tolero mentira. Não tolero enrolação. Não tolero conversa pra boi dormir. Por um único motivo: detesto me sentir feita de idiota.

Nunca me iludi com palavras bonitas. Com frases bem formuladas. Com presentes bacanas. Com caras que pareciam bacanas. Sou pé-no-chão. Nunca me vendi pra carinhas que abrem a porta do carro e fecham a cara quando você pede a verdade. Nunca troquei minha companhia pela conta do restaurante. Nunca acreditei em pessoas que falam bonito. Nunca aceitei champanhe de estranho. Nunca precisei disso. Nunca precisei de um namorado pra me auto-afirmar. Pelo contrário. Vivo bem comigo mesma. Por isso reverencio a vida de solteiro. Namorar pra ter dor de cabeça não é pra mim.

Não gosto de dar conselhos. Não gosto quando as pessoas tentam se meter na minha vida com soluções mágicas. Acredito mesmo que a gente só aprende – ou não – dando cabeçadas na vida. Que a gente só aprende com as próprias experiências. Acredito também que quanto mais a gente vive, menos tolerante se torna. Acredito que as atitudes contam muito mais do que as palavras. Acredito que cidadãos que bancam os bons moços têm muito mais chances de te decepcionar. Acredito que mentira tem perna curta, como dizia minha avó. Acredito que a gente deve conhecer uma pessoa antes de se apaixonar (e não o contrário). Acredito que tudo que vem rápido demais vai embora com a mesma velocidade. Acredito que a gente só tem uma chance na vida de fazer uma grande merda. Acredito que perder a confiança é como quebrar um vaso: você pode até conseguir colar, mas vai ser sempre um vaso colado. Acredito em duendes, gnomos e em papai-noel. Mas não acredito nos homens. Não mais. Duvido até de mim mesma agora.

DAS REGRAS QUE EU CRIEI PRA MIM

DAS REGRAS QUE EU CRIEI PRA MIM
Eu só queria um namorado que lesse Quatro Rodas, jogasse futebol e não cuspisse no chão. Eu só queria um namorado que fosse homem, mas que fosse um gentleman. Eu só queria um namorado que me entendesse mesmo sendo homem. Que entendesse as minhas chatices e as TPMs que eu invento. Eu só queria um namorado que não assistisse Big Brother, que não tivesse fixação por revista de mulher pelada e que não fosse como todos os homens machistas deste mundo. Eu só queria um namorado que não fosse machista a ponto de achar que os homens devem sair com prostitutas.

Eu só queria um namorado que não me comparasse com as mulheres arreganhadas nas revistas com photoshop entre as pernas. Eu só queria um namorado que me permitisse ter um metro e sessenta e cabelos ondulados. Eu só queria um namorado que me permitisse não querer ter silicone e gostar dos meus peitos pequenos.

Eu só queria um namorado que não tivesse Orkut com milhares de barangas pulando em cima dele. Eu só queria um namorado que não tivesse 57 ficantes e 23 ex-namoradas no Messenger. Eu só queria um namorado que não usasse o chat do Gmail pra mascar as meninas deslumbradas que acham o máximo o que ele escreve. Eu só queria um namorado que fosse só meu.

Eu só queria que quando a gente estivesse deitado na minha cama, o mundo fosse só a gente. Que quando a gente se tocasse, ele estivesse de corpo e alma presentes. Que a minha foto não dividisse espaço com a bunda de um monte de gostosas na tela do seu computador. Que a minha escova de dente não morasse em cima de outros corpos estampados de frente, de costas, de trás, de viés.

Eu só queria não ser só mais uma. Eu só queria não ser só um corpo. Eu só queria que quando eu ficasse com raiva do seu comportamento machista, eu colocasse meu menor vestido e fosse me acabar na melhor balada eletrônica da cidade. Eu só queria dançar em cima da caixa de som e sentir que o mundo me deseja. Eu só queria que todos os bonitos das festas me olhassem e quisessem me levar pra casa. Eu só queria testar se corpos e bundas são tão importantes assim na vida das pessoas. Eu só queria ver mesmo se é isso que conta. Eu só queria ver se quem se tranca no banheiro com as Sheilas, Julianas, Giseles e Isabelas das revistas sente tesão por mulher de verdade. Pela magrela-sarada-baixinha, sem photoshop e sem maquiagem da vida real.

Eu só queria saber como são os homens na vida real. Eu só queria um namorado do jeito que eu queria. Mas isso tudo é uma grande bobagem. Agora, o que eu mais quero é ser solteira.Pq esse homem(namorado),não existe!

MENTIRAS SINCERAS

MENTIRAS SINCERAS
“De vez em quando, nessa vida, a gente engole um caô... pra se arrumar, pra se arrumar, pra namorar, pra namorar, pra ser feliz, pra ser feliz, pra ter amor.”

Elba Ramalho estava certa. Na vida, a gente precisa engolir umas mentirinhas de vez em quando e fazer cara de paisagem. Pra se dar bem. Pra ser feliz. E até pra namorar.

Sempre fui metida à pessoa-mais-sincera-do-mundo e sempre me dei mal. Portanto, não aconselho ninguém a seguir meus passos. Minha mania insuportável de falar a verdade faz com que eu exija o mesmo tipo de atitude das pessoas. E aí, qualquer deslize é o suficiente pra eu mostrar o cartão vermelho. Falta grave. Não tolero mentira de espécie alguma. Se um dia eu perguntar pra uma amiga qual o caminho que ela faz pra chegar até minha casa e ela mentir, a amizade se encerra junto com a resposta dela.

As pessoas mentem basicamente por duas razões: pra protegerem a si mesmas ou pra protegerem alguém. "Eu já disse mil vezes que eu não fiquei com essa garota". E assim, cada um protege o seu como pode. "Olha, seu guarda... eu acabei de estacionar aqui... já ia colocar a faixa-azul". E o “seu guarda” já ouviu esse papo centenas de vezes! "Se você se comportar bem, Papai Noel vai trazer presentes pra você no Natal". E essa era sua mãe te ensinando, desde pequeno, a mentir pra conseguir o que quer.

E assim, homens e mulheres mentem. Seja pra proteger o relacionamento, seja pra tirar o próprio da reta. "Essa é a última cerveja e nós vamos embora". E você esperou por duas horas e intermináveis 48 minutos enquanto o bebum do seu namorado contava piadas sem graça e falava de futebol com os amigos. "Eu nem acho a Sandrinha bonita, você sabe que eu não gosto de mulher com silicone". E lá estava seu namorado hipnotizado quando a cidadã adentrou seu baile de formatura com um decote no melhor estilo mamãe-quero-dar-pra-festa-inteira.

Minha avó dizia que mentira tem perna curta. E eu digo mais: tem perna curta e tropeça. Quem mente tropeça em si mesmo. Tropeça nas palavras. Embola frases. Mistura idéias. Se confunde. Tenta confundir o outro. Engasga. Contradiz a si mesmo a cada três frases ditas. Os olhos piscam mais rápido que o normal e vagueiam sem foco. Quem mente, mais cedo ou mais tarde, acaba se entregando de alguma forma.

E eu, que já me dediquei a estudar sobre mentiras e pessoas que mentem, hoje, preferia mentir pra mim mesma e fingir que nada sei. Preferia acreditar que minha amiga está dizendo a verdade sobre meu cabelo novo. Preferia acreditar quando meu namorado diz que me acha a mulher mais linda do mundo. Preferia acreditar quando minha mãe fala que meu nariz não é torto e que eu nem sou tão baixa assim. Preferia acreditar que a amiga do meu namorado é só amiga mesmo. Preferia acreditar que existe amizade entre homem e mulher e que todos meus amigos gostam de mim só porque eu sou gente fina e não porque me acham sarada e gostosa. Preferia acreditar que as pessoas podem mudar. Preferia acreditar que o que passou é só passado. Preferia acreditar só pra namorar. Só pra ser feliz. Só pra ter amor.

É SÓ O MEU JEITO

É SÓ O MEU JEITO
Você já devia saber que uma garota que já deu uma bolsada na cara de alguém não está pra brincadeira. Já deveria conhecer meu tom seco e sarcástico e minha insuportável mania de falar a verdade sem me importar com o que os outros vão pensar. Sem me importar se vão continuar gostando de mim mesmo assim. E mesmo assim você me quis. Mesmo conhecendo meus defeitos mais ácidos e meu (mau) humor oscilante. Mesmo assim você pagou o preço e apostou todas as suas fichas pra ver no que ia dar. Corajoso você.

Nunca precisei fingir que sou uma pessoa boa. Nunca precisei fingir que eu não to nem aí quando eu to mais aí do que aqui. Não faz meu tipo. Me esforço às vezes pra ser romântica, pra acreditar nos planos. Pra acreditar nas pessoas. Nunca chorei pra convencer. Talvez porque não faço questão de convencer. Ou, como você mesmo diz, sou direta. Fria. Seca. É. Nada disso é novidade pra ninguém. É só o meu jeito.

Mas o que você não sabe é que eu nunca precisei assistir novela pra construir frases bregas. Nunca li e-mails de auto-ajuda em Power Points coloridos - que piscam, cantam e mostram imagens de santos - e ainda assim sou brega. Nunca precisei ser melosa pra ser romântica. Nunca precisei fazer esforço pra dizer que amo. Só consigo chorar se estiver triste. Não sei fazer cena. Meu personagem é o mais puro retrato de mim. Sem máscaras.

Deve ser por isso que sou tão chata. Intolerante. Exigente. Dou 100% de mim e exijo o mesmo em troca. É alto o preço. Mas você - todo orgulhoso - ligou, insistiu, chegou e disse que queria pagar pra ver. E eu – confiante – disse sim, aceito. Aceitei que você ia aceitar minha chatice. Minhas “nóias” (como você diz). Aceitei trocar a boa vida de solteira pelo seu colo macio. Larguei a balada e me prendi a você. Soltei o mundo pra segurar a sua mão.

Não é qualquer um que agüenta, eu bem sei. Mas você arrumou um jeito de me dobrar. Fez um origami de mim e agora eu estou na sua mão. Por você, abri uma exceção. Virei minha vida do avesso. Abri minha casa. Meu coração. Por você eu apaguei os nomes do meu celular. Esqueci os abdomens sarados. Apaguei meu passado. Por você, parei de escrever, avacalhei a rima e esqueci os versos. Por você, abandonei os outros alvos. Acertei na escolha. Larguei as festas, os riscos. Larguei a vodca com energético. Misturei amor com você.

Não é nada fácil. Mas você é bom nisso. Você me amolece com suas palavras. Me suporta com esse seu jeito doce-azedinho. Você é uma pessoa boa e acha que o mundo é bom. Aprendeu a ver o mundo com seus olhos (me ensina?). E eu sou pura. Pura azedura. Puro teste de paciência com você. Testo seus nervos, sua pele, seu suor. Testo suas noites de sono. Seus sonhos. Misturo os meus com os seus. Me perco em você todo. Agora só falta a gente achar um caminho. Me ensina a falar a sua língua. Me ensina a ver o mundo bom que você quer me mostrar lá fora. A ver o que eu não vejo. Me leva pra você. Some comigo no mundo. Me coloca pra dormir e só deixa eu acordar se for do seu lado. Não me deixa sozinha nunca mais.
UMA LÁSTIMA

Quando eu era criança, me ensinaram que a gente deve fazer o bem sem esperar nada em troca. Me ensinaram que as pessoas não vão ser boas comigo porque eu sou boa com elas. Me ensinaram a nunca esperar nada em troca. Até no “catecismo” (é, eu fiz isso!) me contaram que seu Jesus ajudou não sei quantas pessoas e só uma voltou pra agradecer (não sei contar história direito, mas é mais ou menos isso). Eu já deveria ter aprendido nessa hora.

Mas não. A gente quebra a cara, apanha da vida, se ferra e não aprende. Você ajuda uma pessoa que depois quer puxar seu tapete, você respeita alguém que mal conhece essa palavra, você presenteia pessoas que fazem pouco caso de você no dia do seu aniversário, você é fiel ao cara que só está esperando a primeira oportunidade pra te colocar um par de chifres, você paga o jantar da sua amiga que depois quer rachar o estacionamento de três reais com você.

Seria muita hipocrisia minha dizer que gosto de fazer o bem pras pessoas e só tomar ferrada em troca. Mas não sou covarde o suficiente pra dizer que sou boazinha pra agradar o mundo e não me importo se as pessoas agem com descaso comigo. Me importo sim. Não tolero descaso, falta de consideração, falta de respeito. Não tolero gente sem educação porque sou educada com as pessoas. Não tolero gente que não cumpre com a própria palavra porque, a partir do momento que eu me comprometer com algo, vou cumprir com o que foi dito.

Nunca admiti, na minha vida, homem que diz que vai ligar e não liga. Nunca entendi minhas amigas que tomam end dos caras e insistem em ligar pra eles mesmo assim. Nunca entendi mulher que toma chifre e finge que não sabe. Na verdade, nunca entendi gente que finge de burro pra continuar pastando. Descaso, falta de consideração, falta de educação, falta de respeito, falta de hombridade, falta de coleguismo, falta de ser gente. Nunca vou entender como alguém acha isso normal.

Sempre esperei que as pessoas agissem comigo da mesma forma que ajo com elas e é por isso - e só por isso - que sou honesta. Que sou franca. Que sou amiga. Que sou fiel. Só por isso me esforço pra ser uma pessoa boa. Porque espero das pessoas o mesmo tipo de atitude. E não porque quero ser a Madre Teresa de Calcutá ou almejo algum tipo de canonização. Mas sabe de uma coisa? Bobagem. Na hora que a coisa aperta, é com um ou outro que você pode contar e só. Aí, cadê aquela sua amiga pra quem você pirateava cds do Jota Quest porque ela não tinha dinheiro pra comprar? Cadê aquela outra que, quando a mãe dela ficou doente, você se ofereceu pra ir com ela de madrugada pro hospital? Cadê aquela amiga que você buscou e levou em casa durante os quatro anos de escola? Cadê aquelas que freqüentavam todas as festas e que la eram amissisismas? Cadê aquela que você levou em casa lá no fim do mundo quinhentas vezes depois das festas? Cadê todo mundo quando você precisa de uma coisa muito simples?

Não sei onde estão essas pessoas e agora, de verdade, prefiro não saber. Prefiro que todas elas se lasquem porque agora vou ser uma pessoa pior. Cansei de fazer o bem e me dar mal. Cansei de esperar atitudes das pessoas e mofar esperando. Cansei desse povo sobrando inútil na minha vida. Cansei de ser a boazinha. A que sempre se fode. Cansei dessa hipocrisia de fazer o bem de graça. Cansei de ser a única a me lascar. Cansei de me lascar de graça.

EU QUERO TER CERTEZA

EU QUERO TER CERTEZA
E, depois que ouvi essa frase, todas as únicas certezas que eu tinha na vida foram pro ralo. Escorreram pelo meu rosto lavando o resto de alma que eu ainda tinha nele. Logo eu, que nunca tive sequer uma certeza na vida, preciso dar garantias pra alguém de algo que eu não faço a mínima idéia. Eu digo que amo, mas talvez eu não saiba o que é amor. Eu ouço juras de amor de gente que confunde os sentimentos. E me confunde.

Dizem que, quando a gente ama alguém, deve deixar livre. Então, realmente não sei amar. Não consigo dizer que amo e ficar longe. Não consigo gostar e não ter notícia. Não me dou bem com a distância. Não entendo relacionamentos abertos. Não admito traição. Não entendo quem gosta e não quer ficar junto. Não entendo quem diz que ama e não sabe se quer. Não entendo alguém que quer certezas sem apostar no relacionamento.

O dia que eu coloquei meu passarinho no dedo, levei ele pra rua e ele não quis ir embora, mesmo podendo voar, eu entendi o que é liberdade. É querer estar junto mesmo com milhares de outras possibilidades lá fora. É poder ir e querer ficar. É ter a chance de escolher. Liberdade é ter milhões de caras na sua cidade pelos quais você poderia se interessar mas você se enfia num aeroporto lotado pra atravessar o estado e ficar com quem você quer. Liberdade é poder falar que ama. Liberdade é poder falar do que não gosta. É saber conviver com a diferença e respeitar isso. É entender que ninguém é exatamente do jeito que você imaginou que fosse. É estar junto e fazer planos. É estar junto sem saber o que vai acontecer amanhã. É querer continuar mesmo que os planos dêem todos errados. Mesmo que você não tenha nenhuma certeza.

Vou seguir o que dizem e deixar livre. Vou seguir. Livre. Fazendo planos pra minha própria vida. Ou não. Vou simplesmente deixar que as coisas sigam seu curso natural. Livre. Que a vida continue. Que as incertezas passem. Que a paz reine. Que o amor renasça. Que possamos fazer escolhas certas e escolhas erradas. Que a tal liberdade sirva pra isso. Pra nos permitir viver errando, acertando, amando, descobrindo.

Eu nunca quero ter certeza de tudo na vida. Acho que amar é isso. Saber dar sem garantias. Sem exigir nada em troca. Arriscar, acreditando que vai dar certo. Sem olhar pra trás e se arrepender porque deu errado ou porque não era bem assim que você planejou. Acho que amar é a incondicionalidade. Não impor condições. Não ter prazo de validade. Não sei nada sobre amar, mas desconfio que não tem nada a ver com certezas.

RAZÃO PRA SER. EMOÇÃO PRA QUE?

Vi na TV, recentemente, um psicólogo dizendo que a mulher demora mais pra terminar um relacionamento, mas quando faz, é porque já tentou de tudo. Já deu chance, já perdoou, já pediu pra mudar, já mudou, já fez e aconteceu e nada mudou. Já os homens têm mais facilidade em jogar tudo pro alto. Porém, na maioria das vezes, eles voltam atrás. Se isso é verdade, eu não sei, mas eu, particularmente, ando mais adepta da razão.

Nós, mulheres, somos mais tolerantes. A gente fica em casa enquanto o namorado vai beber com os amigos. A gente fica em casa enquanto ele vai jogar futebol. A gente fica em casa enquanto ele viaja a trabalho. Mas, enquanto a gente ta em casa, a cabeça pensa, dá voltas, procura uma saída. A cabeça pesa. A cabeça põe na balança os prós e os contras. Enquanto ele grita, a gente fica muda. E pensa. Dizem que a mulher é mais emoção, mas, me desculpem. Quando decidimos algo importante na nossa vida, somos só razão.

E a razão demora. Pensa. Repensa. Pesa. Calcula. Avalia. A razão dá chance. Acredita na mudança. A razão faz a gente mudar. A emoção é toda atrapalhada. A emoção sai batendo a porta. A emoção grita. Xinga. Esperneia. Faz pirraça. Chora. A emoção põe tudo a perder no momento errado. Mulher é muito assim. Emoção pura ao longo do caminho. Mas a gente sabe que, quando a decisão é séria, a coisa precisa ser pensada. E a gente não põe tudo a perder a toa.

Quando damos a cartada final é porque não há mais nada a perder. A gente já olhou por todos os ângulos, já fez os cálculos de todas as probabilidades disso dar certo e concluiu que não dá. A gente vai sentir falta. O domingo à noite vai ser foda. Vai doer pensar que ele vai ser de outra. Mas tudo isso a gente já pensou antes. Nada disso vai ser mais foda do que continuar no relacionamento.

Relacionamentos são pra deixar a gente mais feliz. Estou falando de rolo, namoro, casamento. Se veio mais um pra ficar com a gente, é pra somar. Se ta dando dor de cabeça, se ta pesado, se ta sofrido, se ta fazendo mal, melhor sem ele. Um namorado me disse, certa vez, que não estava feliz comigo. Achei justo que terminássemos. A última coisa que quero, no mundo, é fazer alguém infeliz. Se já não é fácil agüentar a própria infelicidade, agüentar a dos outros é quase impossível.

Já fui só emoção. Daquele tipo de mulher que desliga telefone na cara, depois liga de novo (a doida, né?!). Que termina namoro na hora que ta irritada. Que vai embora da casa do namorado carregando a mala. Que procura pra voltar, em prantos. Que fala, grita, xinga e chora ao mesmo tempo. Nada que uma dose cavalar de razão e cabeça fria não resolvam. Hoje, deixo as coisas pra resolver depois. De cabeça fria, a gente pensa melhor e corre menos risco de fazer merda. Hoje, depois de ter dito muita coisa que magoou muita gente e ter ouvido muita coisa que me magoou, eu penso antes de falar. Eu respiro fundo e conto até cem mil se precisar. A palavra dita não tem volta. A ferida que ela causa fica pra sempre. Então, hoje, prefiro ser mais razão e menos emoção. Prefiro demorar pra tomar decisões, mas fazer a coisa certa.
MEUS HERÓIS MORRERAM DE OVERDOSE
Ronaldo, o jogador-fenônemo-pegador pegou tanto que resolveu mudar de time pra ampliar o campo de atuação. Britney, a namoradinha da América, depois de dar pra meia América, virou alcoólatra, perdeu os filhos e vive se internando nas clínicas de reabilitação.A Amy que morreu de overdose. Paris-faz-nada-Hilton ganha a vida deixando “vazar” seus vídeos eróticos na Internet e fazendo cara de “vem me comer” pros fotógrafos de plantão. E agora mais esta: a Mulher Baleia, ops, Mulher Melancia que... ham... faz o que mesmo? Ah, claro! Mostra a bunda na Tv! Sim, esses são nossos ídolos.

E não, eles não se tornaram loucos, alcoólatras, drogados, depravados, fúteis e causadores de escândalos porque são nossos ídolos. Pelo contrário. Eles se tornaram nossos ídolos justamente porque são loucos, alcoólatras, drogados, depravados, fúteis e causadores de escândalos. Alguém se interessa pela vida ou pela carreira de Cláudia Raia? Mãe, atriz, dançarina, cantora. Alguém assistiria na Luciana Gimenez um especial com alguém que tivesse talento ao invés de 121cm de bunda? Que tivesse voz ao invés de 500ml de silicone? Acho pouco provável.

Isso porque a tosqueira é inerente ao ser humano. Explico: o ser humano é tosco. No sentido exato da palavra. Grosseiro. Rude. Sem lapidação ou polimento. Li uma vez que homem gosta de ver mulher pelada, mesmo que seja índia velha na matéria do Fantástico. Achei isso de suma elegância e desenvolvimento intelectual. Coitado de Darwin! Deve estar se revirando no caixão uma hora dessa. Cadê a teoria da evolução?

A gente gosta de ver o pai que joga criança pela janela. A gente gosta de ver a puta que derruba governador. A gente gosta de ver a atriz bonitona que chifra namorado galã. A gente gosta de ver as mulheres que mostram a calcinha “sem querer” (ou a falta dela, na maioria das vezes). A gente gosta de ver a Britney ir parar na delegacia bêbada pela cinquentésima vez. A gente gosta de ver que a Paris Hilton nunca fez nada útil na vida e é ídolo. Que a Mulher Elefante, ops, Melanciiiiiia foi despejada de casa (tadinha!). Que o Ronaldo é humano e versátil (uh!). É do ser humano isso. A tosqueira está em você e está em mim (que sei disso tudo que está escrito aí em cima, ainda que nada disso vá mudar minha vidinha igualmente tosca).

A gente não tem exemplo. Nossos heróis são toscos. Nossos heróis são os Marcelos D2 que acendem um baseado bem na nossa cara. São os Lulas que não sabem de nada. São as Cicarellis que dão na praia. São as mulheres-melancia que dançam “créu” (vergonha alheia!). São os 50Cents que valem exatamente meio dólar. São os Snoop Doggs que colocam a mulher como objeto em seus clipes. São os travestis que vão pra Luciana Gimenez. São os jogadores que gostam de travestis e de putas. São as putas. Fomos nós que os elegemos nossos ídolos. Heróis. Nossos exemplos. Porque eles são a nossa cara. São nosso alterego. O reflexo daquilo que a gente admira no outro. O retrato mais fiel da nossa própria tosqueira.

MULHERES, HOMENS E XAMPUS

MULHERES, HOMENS E XAMPUS

Um sonoro “não” e o polígrafo confirmou: ele disse a verdade. “Não” foi a resposta de Juca Chaves quando Sílvio Santos perguntou se ele trairia sua esposa mesmo que ela não tivesse como descobrir. Não, ele não trairia. Juca Chaves teve o aval do polígrafo, “a máquina da verdade”, e a aclamação velada do público. Fidelidade é assunto careta para alguns, está fora de moda na tevê, mas, aposto, sem precisar de nenhuma pesquisa, que nove entre dez mulheres gostariam de ter um marido fiel. Nove. Chutando pra baixo.

Fora das telas de tevê e das máquinas da verdade, as mulheres ainda querem fidelidade. As mulheres ainda acreditam em promessas de xampus caros e homens baratos. Compramos sonhos, promessas, juras de amor eterno. Dizemos que os homens são todos iguais, mas queremos escolher a dedo. E, na verdade, nós, mulheres é que somos todas iguais. Seguimos um padrão de beleza (ou nos frustramos por não estar no dito modelo). Compramos xampus de noventa e seis reais com o rótulo em francês e uma linguagem inventada que diz: Masquintense. Acreditamos na pró-vitamina, nas ceramidas, na queratina e em todos os outros nomes tirados de traz da orelha dos publicitários como ceraflash, cera liss system, serum-reparador e uma lista sem fim. Acreditamos simplesmente porque queremos acreditar. No fundo, sabemos que rótulos e nomes estranhos em línguas não identificadas são criados por publicitários. Acreditamos em creme-anti celulite, em remédio para emagrecer em duas semanas, em cara-metade ou no amor das nossas vidas. Acreditamos no pra sempre que nunca se acaba, ao contrário do que dizia Renato Russo. Fazemos planos de encontrar a pessoa certa. Casamos com votos de até que a morte nos separe. Exigimos exclusividade, fidelidade, sinceridade, transparência, respeito, cumplicidade. A lista é extensa e, nesse ponto, somos todas iguais.

Confesso que me deu uma pontinha de inveja da esposa do Juca Chaves. Quer declaração de amor maior que essa, em rede nacional? Eu não faria mesmo que minha esposa jamais fosse descobrir. Pra mim, essa é a verdadeira fidelidade. É a fidelidade da intenção. É simplesmente não ter vontade de fazer. Não apenas ser fiel porque alguém vai ficar sabendo, porque respeito meus filhos, porque sou um cara casado. Não. É porque não tenho vontade. Caraleo! É por isso que todas nós, mulheres, esperamos (sentadas). Esperamos que a gente não precise pedir, implorar, obrigar. Ninguém é obrigado a namorar, a casar e a ficar junto. Ficamos porque queremos. Namoramos, juntamos, casamos pra garantir exclusividade. Aliança, coleira ou gps não são garantia de nada e sabemos muito bem disso. Então, a única garantia que temos é a intenção do outro.

Eu sei que muita mulher toma chifre e finge que não vê ou simplesmente não liga e também faz o mesmo. Mas to dizendo de mim e da maioria das mulheres que conheço. A mulher que não quer dividir o cara que tem dentro de casa, a mulher que não quer homem chegando de madrugada com cheiro de perfume barato, a mulher que abomina o estilinho Reginaldo Rossi de ser. Foi-se o tempo em que as mulheres ficavam em casa fazendo tricô enquanto seus maridos boêmios comiam putas no centro da cidade. Hoje, mesmo ainda acreditando em promessas de homens e xampus, somos independentes, somos livres pra fazer nossas próprias escolhas, somos pouco tolerantes e sabemos muito bem o que queremos. Queremos alguém para quem fidelidade não é obrigação, é uma escolha.
AMOR PRA VIDA INTEIRA
Sou do signo de Gemeos,Ar. Sou direta. Franca. E exijo o mesmo das pessoas. Não gosto de meias-palavras ou meias-verdades. Só uso meias pretas. Mas nunca passo o reveillon de branco. Sou do avesso. Talvez eu seja, sim, o oposto daquilo que você espera de mim. Sou hiperativa ao extremo. Gosto de todos os bichos. Não gosto de muitas pessoas. Minha vida é desalinhada. Dirijo como um homem e choro como uma criança. Talvez eu mereça mais que isso.

Talvez meu jeito estúpido de amar as pessoas ao meu redor não seja suficiente. Talvez eu precise começar do zero e aprender a amar. Aprender a viver como se diz no manual. O colégio de freiras não serviu pra muita coisa na minha vida. Minha família nunca me ouviu de verdade. Por isso, sou temperamental. Aprendi com as aves. Não gosto de ser incomodada sob o risco de eu te dar uma bicada e arrancar seu dedo fora. Gosto da liberdade, mas adoro companhia. Adoro minhas pernas encostando nas suas na hora de dormir.

Admiro as araras azuis. Aprendi no Discovery Channel que elas passam a vida inteira com o mesmo companheiro. São livres. Ninguém, nem nenhuma lei, obriga ninguém a ficar junto por mais tempo do que o amor consegue fazê-lo. Eu acredito nisso. No amor livre. No amor enquanto houver amor. No respeito, na cumplicidade, na transparência.

Por não saber o que quero da vida, vivo fazendo o que não quero. Por não saber amar, vivo levando na cara. Por amar demais, vivo sonhando. Por não acreditar nos sonhos, vivo me ferrando. Por me ferrar sempre, vivo me fechando. E por me fechar demais, vivo sem amor. Vivo com poucos amigos, poucas cifras e poucos CDs. Vivo com alguma poesia, uma caixa de lápis de cera e duas calopsitas. Vivo sem sorte no jogo e apostando no amor.

Não quero amor de fim de noite. Não quero amor de uma noite só. Não tenho mais idade - nem saco - pra micareta. Não sei mais paquerar ou fazer joguinho de “não te quero só pra você me querer”. Não preciso que me queiram pra massagear meu ego. Tenho foco. Sou mulher de um homem só. Não preciso de conversinha com ex-rolos no Messenger porque sei bem o que eu quero. Não preciso de homem pra massagear meu ego. Não preciso testar meu poder de sedução mantendo possíveis casos amorosos na internet. Não preciso de ninguém pra me dizer o quanto sou linda, gostosa e inteligente. Pra isso, tenho espelho, academia, papel e caneta. Não preciso usar meu corpo ou muito menos minhas palavras pra conquistar alguém. Pra isso, tenho sentimentos que falam por mim.

Acredito no amor, apesar de o amor não acreditar em mim. Valorizo as pequenas coisas, como o chocolate no fim da tarde e o almoço no meio do dia. Valorizo a boa intenção. A boa fé. Acredito nas palavras do coração pra fora. E nos sentimentos do coração pra dentro. Acredito em tudo que vem de dentro da alma. Acredito no agora e desconfio – muito – do futuro. Desejo o bem pra quase todas as pessoas que conheço. Acredito no desejo. Acredito na vontade que faz acontecer. Acredito que tudo que queremos de verdade acontece. Não acredito em signos, cartas e tarô. Respeito todas as crenças. Acredito no amor que dura uma vida inteira. Desconfio do amor que dura uma noite. E respeito todas as formas de amar.

NÃO ME INTERESSA

NÃO ME INTERESSA

Não me impressiono com cifras, títulos ou promessas. Não acredito em palavra dita ou escrita. Acredito em atitudes, somente. Palavras, eu já tenho. Nasci com esse dom. Posso te contar minha vida inteira e, ainda assim, você não vai saber nada de mim. Quer me conhecer lendo meus textos? Nem tente. Eu não conseguiria descrever um décimo de tudo que eu penso mesmo que eu soubesse todas as palavra do mundo.

Não reconheço um homem meu tipo à distância. O homem meu tipo vai muito além de um cara bonito qualquer que cruza meu caminho. Não sou do tipo que precisa ser paquerada pra aumentar minha auto-estima. Isso eu já tenho de sobra. Me amo desde os horríveis dedos dos pés aos bem tratados fios de cabelo. Uso xampus ,cremes,óleos. Me cuido como se eu fosse uma princesa. E exijo ser tratada como tal.

Não preciso dar golpe do baú, golpe da barriga ou golpe da periquita louca. Tem muita mulher se dando bem dando pro homem certo, mas eu prefiro me dar bem do meu jeito. Vim ao mundo a passeio. Não pretendo construir nenhum império nem ficar aqui por muito tempo. Cuido dos meus pets que são as coisas mais importantes na minha vida. Todo resto é bobagem. Posso um dia ter meu carro, meu dinheiro, minhas roupas. Só preciso dos meus documentos pra eu lembrar quem sou. Como se eles, os documentos, pudessem me dizer.

Nunca seria política. Não sei agradar ninguém dizendo algo que não penso. Ou que não é. Tento dar bons exemplos. Tenho consciência de que sou responsável por tudo que escrevo uma vez que deixo alguém ler. Falo palavrão na hora certa. Xingo na hora errada. Escrevo tudo que vem à minha cabeça sem roteiro, sem pensar se vão gostar ou não. Escrevo tudo que penso. Não penso em tudo que escrevo. Escrevo porque é a forma de organizar meus pensamentos. Escrevo porque é a forma de eu me conhecer mais e de você me conhecer menos.

Não me importo em ser clichê, nem em repetir isso a cada texto. Não me importo de escrever mil vezes sobre o mesmo tema. O amor é clichê e inesgotável. Impossível não ser igual a tudo que já foi dito. Impossível não dizer de novo a mesma coisa. Ouvi na rádio esses dias uma bandinha “emo” cantar que “pra existir história, tem que existir verdade”. Clichê? É. Mas é a maior verdade que ouvi nos últimos tempos.

Não existe mesmo história sem verdade. Mentira tem perna curta, já diz o ditado. E eu digo mais: meias-verdades andam de perna-de-pau. Uma hora, inevitavelmente, elas vão cair. Toda palavra dita se torna mentira sem uma atitude coerente. A verdade está na coerência, na transparência e nas atitudes. Acredito nisso. Acredito em calopsitas, xampus caros e atitudes coerentes. Todo resto é bobagem.

DO QUE NEM EU ENTENDO

DO QUE NEM EU ENTENDO
Vivemos esperando. Vivemos nos frustrando. Vivemos nos frustrando porque vivemos esperando. Vivemos olhando para o futuro e criando expectativas de que vamos encontrar a felicidade em um lugar que ainda não chegamos. A tal felicidade está sempre no pote de ouro no final do arco-íris que não chega nunca. A felicidade está no dinheiro que eu não tenho, no corpo que eu nunca vou ter, no carro que eu não dirijo, no amor da minha vida que é o amor da vida de outra. Mas e quando a gente consegue o corpo que a gente queria, o emprego dos sonhos, o amor pra vida inteira? Pra onde vai a felicidade que nunca chega? Por que é que a gente está sempre achando que falta alguma coisa pra ser feliz, mas essa alguma coisa está sempre naquilo que a gente não tem?

O ser humano quer aquilo que ele não pode ter. Ouvi isso esses dias e concordo totalmente. A gente vive na eterna busca para permanecer vivo. Estamos sempre atrás de algo que está sempre distante. Criamos expectativas irreais. Criamos modelos de felicidade baseados em um padrão ideal. Buscamos a felicidade na perfeição. O melhor emprego, o melhor casamento, a melhor família. A gente tem que ser bem-sucedido, a gente tem que casar e ter filhos antes dos 30, a gente tem que ter filhos. Falsos modelos de sucesso criados pela sociedade e por nós mesmos. Sucesso é ter um emprego milionário, mesmo que você abra mão da sua vida pra ganhar dinheiro (tenho uma amiga morando num lugar onde ela não conhece ninguém, acorda às 5h20 da manhã pra trabalhar, volta pra casa às 23h20, trabalha de segunda a segunda, não namora há dois anos, mas ta fazendo seu pé-de-meia). Sucesso é ter um casamento por 30 anos, mesmo que você durma no sofá há 23. Sucesso é ter se casado antes dos 30 mesmo que você tenha se casado com um pangaré qualquer pra contar pras suas amigas que você encontrou o homem da sua vida. Sucesso é ter filhos mesmo que você não tenha a mínima vocação pra maternidade e que não tenha um pingo de paciência com crianças. Sucesso é uma palavra criada pelo ser humano pra definir uma coisa qualquer que você precisa ter ou ser, que nem você mesmo sabe se queria ter tido ou sido.

A gente se frustra porque o final do arco-íris nunca chega. A gente se frustra porque mesmo com o melhor emprego, a melhor família, o melhor casamento, os melhores amigos, os melhores tudo, não nos consideramos felizes. E continuamos achando que a felicidade está naquilo que não temos. Felicidade é a nossa busca interna. Que nunca tem fim. Sucesso é um rótulo criado pela sociedade, pela mídia ou por qualquer outro nome que se queira dar para conceitos que são enfiados nas nossas cabeças desde pequenos, feito uma lavagem cerebral. Felicidade e sucesso são caminhos que nem sempre se cruzam.

Largamos nossas carreiras de músico, bailarina, ator, pintor, porque isso não dá dinheiro. Largamos nossos sonhos, nossas vocações, aquilo que realmente sabemos fazer, para fazer uma faculdade de direito, de engenharia, de medicina porque é isso que aprendemos que dá dinheiro e sustento na vida. Não nos casamos aos 18 porque somos muito novas, e nos precipitamos em ser certeira aos 35 porque já passou da hora. Qual é essa maldita hora? Qual é essa infeliz fórmula da felicidade? Quem escreveu as regras do sucesso? Eu vou ser infeliz se aos 30 não tiver achado o homem da minha vida? Se eu nunca quiser ter filhos. Se eu for morar na praia. Se eu virar hippie. Se eu não ganhar dinheiro, mas fizer aquilo que eu gosto. Eu vou ser uma pessoa pior pra quem? Pra mim mesma ou pro resto do mundo? Ter sucesso de verdade é ser feliz do seu jeito.

COISA DO DESTINO

COISA DO DESTINO

E aí você acha que é coisa do destino. Sim, o destino, aquele desgraçado que só te arruma confusão. Aquele mesmo que vive aprontando com você e te metendo em enrascadas homéricas. Afinal, que outra força do universo colocaria você naquela situação tão inusitada depois daquilo que teria tudo pra ser o dia mais fracassado do ano (ou, quem sabe, da sua vida toda)? Coisa do “destino” e da sua cabeça maluca que acha que a vida é um filme de comédia romântica.

O “destino” glamouriza tudo. Um término de namoro, um começo, um recomeço. Seu ex-namorado te liga bem no dia que você saiu com aquele cara incrível - e foi uma merda. Aí, você acredita que é um sinal, que era pra ser assim, que aquilo foi um plano traçado por Deus ou pelos deuses ou por qualquer outra força superior que não depende da sua intervenção. A verdade é que nós, mulheres, somos seres carentes. Precisamos, o tempo todo, de sinais divinos, de finais felizes, de príncipes encantados. Enxergamos príncipes em sapos. Descobrimos o amor das nossas vidas com uma semana de namoro. Nos apaixonamos no segundo encontro (ou até mesmo antes do primeiro). Acreditamos em amor à primeira vista.

Usamos o “destino” como um calmante. Era pra ser assim. Você fala pra si mesma no dia que tomou o maior e mais dolorido pé na bunda de todos os tempos. Não era pra ser. Não era pra você namorar aquele imbecil. Era pra você sair com aquele lindo tudo de bom. Inventamos o “destino” pra justificar todas as coisas que acontecem que não dependem da nossa vontade. Chamamos isso de destino pra podermos seguir em frente sem mágoas e mais confiantes. Como se tudo de bom ou de ruim que acontecesse fosse pro nosso bem. Como se não fôssemos livres pra intervir e mudar o rumo das coisas. Excluímos de nós toda culpa, mas também todo mérito. Eliminamos o acaso da nossa vida. Não acreditamos em coincidências. Tudo era pra ser. Um plano traçado imutável.

E você vive sua vida esperando que o destino te arrume um bom plano pra seguir, espera que o sapo vire príncipe (mas só o contrário acontece), espera conhecer um cara bacana quando precisa de uma informação pra pegar um táxi numa rua deserta às onze da noite. Espera que esse cara te convide pra subir e que ele seja tão bacana quanto parece à primeira vista. Você espera que ele seja lindo e macio e gentil e um fofo. Você espera que ele te convide pra passar a noite ainda que você não aceite só pra não pegar mal. Você espera que você goste tanto quanto ele ou que ele goste um pouquinho mais. Você espera que todas as suas percepções façam jus à realidade. Você espera que isso seja mesmo coisa do destino. E que o destino (esse ingrato!) não esteja de novo te pregando uma peça.

SIM, ACEITO

SIM, ACEITO

Não é de hoje que casamento é negócio. As pessoas se casam pra pagar menos no plano de saúde de família. Pra ter uma esposa pra apresentar na empresa e conseguir uma promoção pra um cargo. Pra ter um marido pra pagar as contas. Pra pertencer a um grupo social. Pra ter uma família pra quem deixar a herança. As pessoas se casam por diversas razões. E amor poucas vezes está incluído no pacote.


Vi essa semana na tevê que o tal do Tiger Woods, jogador de golfe americano, se separou da mulher e ela embolsou 750 milhões de dólares dele. Mais a guarda dos filhos. Em troca, a ex-esposa não poderá falar nada sobre os romances que o ex-marido teve fora do casamento. Vou traduzir pro texto ficar mais claro: a cidadã aceitou ser corna durante anos - sei lá quantos - para embolsar uma bolada depois. Isso é amor ou negócio? (Na verdade, eu acho que isso tem um outro nome, mas aí já é assunto pra um outro texto).


Tem hora que eu fico meio puta. Dá vontade de chutar o balde e dançar conforme a música. Arrumar um homem rico que pague minhas contas e fazer tudo conforme manda o novo figurino. Foda-se o amor que só me fode a vida, foda-se que eu acredito que casamento tem que ser por (e com) amor, foda-se que eu gostaria de me casar com alguém que eu ame ao invés de me casar uma conta bancária. Tem hora que me dá vontade disso mesmo. Mas o surto dura poucos segundos e logo volto ao meu estado normal.


Acho muito espertas as Daniela Albuquerques da vida que se casam com velhos gordos carecas, 40 anos mais velhos que elas, pra ter um programa meia-boca num canal meia-boca e lançar kit de beleza. Juro que acho. Mas eu não aguentaria viver de esperteza. Perder minha juventude e minha beleza sendo esperta ao invés de ser amada. Acho muito espertas as Gimenez da vida que dão pra velhos roqueiros ricos e casados pra embolsar uma pensão gorda. Mas, sinceramente, eu não conseguiria. Primeiro que não tenho o mínimo dom pra fazer sexo por dinheiro. Segundo que eu acho que filho é coisa séria, deve ser parte de uma família, e não uma fonte de renda.


Mas nada disso é privilégio da vida moderna. É assim desde que o mundo é mundo. As pessoas trocam amor por dinheiro, sexo por dinheiro, dignidade por dinheiro. Casamento é negócio. Troca de interesses, na maioria das vezes. Admiro pessoas que se casam por amor porque é bem mais difícil de dar certo. Tem que ter fidelidade. Companheirismo. Compreensão. Tolerância. Cumplicidade. Amizade. Carinho. Respeito. E uma lista interminável de quesitos que as pessoas que se casam por amor não estão dispostas a trocar por dinheiro algum. Não é fácil. Amar dá trabalho. Muito mais prático fazer do casamento um negócio mesmo. Eu ainda to na peleja. Tentando acreditar que amar pode dar certo e que casamento por amor é que vai funcionar pra mim. Não preciso de tanto dinheiro assim pra viver. E ainda que eu precise, acho que posso conseguir o meu pé-de-meia sem negociar meus valores num casamento de conveniência.

ESSE TIPO DE GENTE

ESSE TIPO DE GENTE


Acredito que todo mundo uma vez na vida já teve uma amiga invejosa, ou que quisesse puxar seu tapete, ou que desse em cima do seu namorado. Ou que, simplesmente fosse uma pessoa que se dizia sua amiga mas não era. Ou aquela “amiga” que parecia um corvo de filme de terror e tudo que você contasse pra ela dava errado. Já teve uma amiga assim? Então você sabe do que eu estou falando.

Tem gente que não sei. Tem uma energia ruim. Não sei explicar. Tudo na vida da pessoa dá errado. A vida dela parece um inferno. A casa já foi roubada. O irmão morreu afogado. A mãe tem problemas com drogas. O carro, já bateu duzentas vezes. A placa foi clonada. A cabeleireira errou na química e destruiu o cabelo. Tudo – mas tudo – acontece com ela. Namorado, já trocou cinco vezes no ano e nada dá certo ou vai pra frente. Doença é uma por semana. É um verdadeiro mau agouro a vida da pessoa.

E esse tipo de gente, não sei. De novo, não sei. Parece que esse tipo de pessoa atrai coisa ruim. Atrai doença, desastre, acidente. Já conheci três pessoas assim na vida. E elas espalham o mau agouro por onde vão. As coisas vão dando errado pro resto da família. Como um dominó que vai derrubando um por um em seguida.

Esse tipo de gente negativa geralmente faz amizades por motivos diferentes dos nossos. Não, elas não querem a nossa companhia. Não precisam dos nossos conselhos. Elas simplesmente precisam da gente. Precisam da gente pra ouvir seus lamúrios e reclamar da vida. E o pior: elas querem te ver reclamar. Não, elas não agüentam te ver feliz. Não, elas não admitem que nada dê certo na sua vida. Sim, elas vão sempre ver o lado negativo de tudo – absolutamente tudo – que você comentar que vai fazer. Elas estão sempre te dando conselhos pra te fuder e te ver no fundo do poço (mas na hora que você está precisando de conselho, você não consegue perceber isso).

Esse tipo de gente adora te ouvir. São capazes de te ouvir por horas se você quer reclamar ou lamentar a vida. Vão te ouvir eternamente se você quer falar mal dos homens, ou do quanto sua vida anda ferrada ou do tanto que você se deu mal no novo emprego. Ou simplesmente falar mal de algo ou de alguém. Mas não ouse falar do tanto que seu trabalho novo é incrível, que sua amiga nova é legal ou que seu namorado é bacana. Você vai ouvir um “que bom” ou simplesmente um pitaco errado. Um palpite sobre algo, mesmo que elas não façam a mínima idéia do que estão falando. Sim, elas entendem de todos os temas do universo. E sempre acham um defeito em tudo. Tu-do. Essas pessoas têm uma lente de aumento que funcionam só pras coisas ruins. Um amplificador de desgraças.

De gente assim, já deu pra mim. Cansei de compartilhar a infelicidade alheia, até mesmo quando a infelicidade nem existia. Cansei de ver o alheio querendo refletir sua infelicidade em mim. Cansei de ouvir que “não vai dar certo”, que “você não está bem”, que “não é pra você”. Essas pessoas são suas melhores amigas quando você está na lama. Conhecem, de cor, uma lista de remédios pra depressão e vão falar que você precisa de pelo menos uns três desses. Mas elas não querem resolver o seu problema, não suportariam te ver feliz. Elas só precisam de companhia pro problema delas.

CASA, COMIDA E CAFÉ COADO

CASA, COMIDA E CAFÉ COADO


“Por isso que esses moços de hoje não querem se casar. Essas moças de hoje não sabem coar um café”. E de repente, anos e anos de indagação se resolviam de uma forma simples e objetiva. Meu avô acabava de pronunciar a sábia frase que respondia a grande questão que assola o universo feminino. E, sabe de uma coisa? Se pararmos pra pensar, meu avô está certo.

Antigamente casamento tinha um outro sentido. Na época dos meus avós, casamento era pra sempre. A mulher parava de trabalhar, de estudar ou de fazer qualquer coisa que fosse, pra se casar e virar esposa. Não havia outro sentido pra vida que não fosse aquele. Ser mãe e esposa. E era por isso que os homens se casavam. Pra ter quem cuidasse da casa enquanto eles trabalhavam pra sustentar a família. A mulher ficava em casa “coando café” e cuidando dos filhos enquanto o marido saía. Pra trabalhar ou pra sei lá o que fosse.

Até que um belo dia, a mulher plantou o pé no saco de café e resolveu sair de casa pra trabalhar. E se fudeu. A mulher passou a ter que trabalhar, cuidar dos filhos, cuidar da casa. E coar o café. Só que agora, o café é pra ela. O homem ficou meio perdido no meio dessa história. E o casamento como conhecíamos perdeu a razão de existir.

No fundo, bem lá no fundo, eu acredito que todo homem pensa que “Amélia é que era mulher de verdade”. E que a esposa ideal é aquela meio burrinha que acredita que a marca de batom na camisa é molho de tomate. Aquela que acha lindo quando ele diz que chegou às onze em casa porque estava numa reunião (mesmo não entendendo o cheiro de cerveja e perfume barato no sujeito). Um cidadão uma vez me disse que “mulher feliz é mulher ignorante”. É meio que isso. Aquelas tapadas que acreditam no molho de tomate na camisa.

Uns cinco ou seis anos atrás, li numa Veja uma pesquisa que dizia mais ou menos a mesma coisa. Que os casamentos que davam mais certo eram aqueles entre homens com QI mais alto com mulheres com QI mais baixo. Não só o QI, mas escolaridade, classe social e alguns quesitos do tipo contavam. Em resumo: casamento que dá certo é aquele em que um bonzão-fodão se casa com uma anta-tapada. Ou seja, um cidadão muito foderástico com uma topeira total tem chance de ficar anos e anos casados. Um cidadão foderástico com uma cidadã igualmente foderástica, as chances de dar certo são tipo nulas. Acontece que as antas e topeiras estão cada vez mais perto de entrar em extinção. E o casamento idem.

Existem ainda aquelas que se fazem de sonsas pra manter o casamento, mas de sonsa não têm nada. Não sei. Eu não teria tanto sangue frio. E acho que comigo não funcionaria. Ao primeiro sinal que me desagradasse, a casa ia cair. Nunca me imagino casada cuidando de filho enquanto meu marido passa o final de semana na rua. Sabe as chances disso? Nulas. Negativas. Zero. Tenho dó de quem vive isso. De verdade mesmo que tenho. Acho que ninguém consegue ser feliz assim. O casamento feliz hoje tem um novo conceito. A mulher deixou de ser aquela que fica em casa coando o café e passou a ser companheira do homem. E nem todo homem entendeu isso ainda. A maioria ainda procura a Amélia. A ignorante feliz. Tenho um pouco de dó. Dos homens, claro. Porque eles estão procurando uma coisa difícil de se achar hoje em dia. Melhor comprarem um coador de café logo.

O QUE QUEREM AS MULHERES

O QUE QUEREM AS MULHERES


Desde que o mundo é mundo, nós mulheres tentamos entender os homens. Tentamos minimizar as diferenças descobrindo o que se passa na cabeça desses outros seres tão diferentes da gente. Na maioria das vezes, caímos em estereótipos do tipo “homem é assim”, “mulher é assado” e limitamos toda a humanidade dentro das nossas próprias percepções do mundo. Como se nossa percepção fosse única e absoluta.

Eu ando treinando o “desestereótipo”. Treinando ver o mundo de outra forma. Explico: não é porque eu comi uma maçã podre do pacote que todas estão podres (como eu achava até então). Ando tentando ouvir com menos atenção os casos corriqueiros de homens cafajestes e dando mais importância aos raros casos de homens do bem. Sim, eles existem. E quando minhas amigas começam com “ah, é porque homem é assim mesmo” eu ligo o mute interno e começo a pensar na lista de maquiagens que quero adquirir no momento. Não, gente, homem não é “assim mesmo” e eu cansei de engolir esse papo. Tem mulher pirigueti, tem mulher do bem. Tem homem babaca e tem homem do bem. É exceção? Pode ser. Mas existe. O grande lance é que não dá pra julgar por antecipação. Aquele cidadão bom moço pode te decepcionar e aquele outro que você não dava nada por ele pode te surpreender.

E enquanto nós, mulheres, não entendemos os homens (e nem eles entendem a gente), acho que deveríamos ser mais claras no que queremos, ao invés de fazer joguinho. Grande parte dos homens não tem criatividade ou sequer paciência pra ficar decifrando nossos códigos. Ao contrário da gente que acha que tudo que eles falam são códigos secretos e querem dizer muito mais do que o que foi dito. (Eu já superei essa fase da interpretação faz tempo, mas tenho amiga que interpreta cada palavra que o cidadão fala).

Ainda vamos demorar pra decifrar o que os homens querem. Mas entender o que nós queremos não é nem um pouco complicado se eles prestarem atenção. Não queremos anel de brilhante. Um anelzinho de papel de bala feito na hora resolve nosso problema. Não queremos dormir num palácio, só queremos deitar a cabeça num ombro que nos acolha. Não queremos a presença física o tempo todo, mas queremos saber com quem podemos contar se precisarmos. Não queremos a senha do email, mas queremos alguém em quem possamos confiar de verdade. Não queremos vigiar o celular, mas queremos alguém que não nos surpreenda com telefonemas suspeitos. Queremos alguém com quem possamos passar nosso aniversário. Passar o Natal. O reveillon. A vida. Queremos alguém que nos inclua nos planos, ainda que esse plano seja apenas a comemoração de alguma coisa banal. Queremos alguém pra quem não tenhamos que contar nada, pois esse alguém simplesmente sabe porque faz parte da nossa vida. Queremos alguém cuja prioridade é a própria vida, porém a própria vida nos inclui. O que nós, mulheres, queremos é tão simples que esse texto nem precisaria existir pra explicar isso. Tão simples que parece tão óbvio. Mas não é. Ainda existem homens que ignoram o básico. Alguns. Não são todos. Porque, como eu estava dizendo, os homens não são todos iguais.

POR FAVOR, NÃO ME AME

POR FAVOR, NÃO ME AME


Dizem que as mulheres que passam dos trinta ficam desesperadas pra casar. Dizem. Ninguém diz nada dos homens. Ou melhor, não diziam. Porque, agora, eu vou dizer. Cansou minha beleza esse papo de mulheres desesperadas, afobadas e apressadas pra casar com o primeiro que aparecer. O que eu tenho visto por aí é muito diferente disso. Os homens estão desesperados à procura de uma mulher bacana pra namorar. Pra namorar, que fique claro. Porque pro resto está sobrando.

Com o tanto de mulher fácil que tem por aí, os homens estão ficando mais seletivos e – acreditem – querendo um relacionamento sério com uma pessoa só. Quando sexo era artigo de luxo, sexo prendia um homem a uma mulher. Hoje em dia, sexo eles conseguem na primeira noite, então os critérios de seleção passaram a ser outros. E com o tanto de mulher dada por aí, os homens pararam de procurar sexo (porque sexo ta em promoção na banca da feira) e começaram a procurar um relacionamento. Relacionamento sério hoje em dia virou o novo artigo de luxo.

Criamos a carência masculina. Homens saturados de noites calientes e camas vazias. Homens que cresceram como bebês chorões e pidões. Cidadãos que te ligam vinte vezes no dia seguinte e não querem desligar o telefone (isso não era coisa de mulher?). Cidadãos que querem namorar antes mesmo de te conhecer direito. Estamos provando do nosso próprio veneno. Gostamos? Ainda é cedo pra avaliar. Mas já é fato que não são mais as mulheres que estão desesperadas depois dos trinta.

O cidadão já quer te conhecer te enchendo de perguntas indiretas pra saber se você vai ser a futura mãe dos filhos dele. Oi??? Por que você ta me perguntando se eu quero ter filhos, meu filho? Já ta na hora desse assunto? Ele já te inclui no próximo final de semana e nas férias dele. Oi??? Não ta indo muito rápido? Nem sei se eu quero nada sério com você. Não importa. Ele quer. Antes mesmo de te conhecer, ele quer um relacionamento sério. Na cabeça dele, ele cria a mulher ideal. Aí escolhe uma pra vestir o personagem criado por ele e pronto. Achou a mulher ideal – ele pensa. Tamanha a afobação.

Quando eu era bem nova (não faz muito tempo, ta?!), existia um livro chamado “Por favor, não me ame”. Nunca cheguei a ler esse livro e hoje em dia não está mais à venda. Mas acredito que quem escreveu aquele livro me entenderia hoje. Não que eu não queira ser amada. Pelo contrário. Quero amor de verdade. Não quero preencher carências de gente que quer se casar a todo custo. Não quero que me amem porque eu preencho certos requisitos pré-definidos. Não quero que me amem porque a idade chegou ou porque é hora de pararem com as baladas e constituírem uma família. Não quero ser tapa-buraco de ninguém. De homens que nunca levaram ninguém a sério e resolveram fazer isso agora. De homens separados e sem filhos que não aguentam mais ficar sozinhos. De homens que nunca se casaram e decidiram que a hora é essa. De homens que ficaram tão carentes com a idade que não aguentam a si próprios.

As mulheres, que antigamente tinham medo de ficar pra titia se não se casavam antes dos trinta, agora têm um novo medo: de homens desesperados porque que passaram dos trinta.

O CAFAJESTE E O BOM MOÇO

O CAFAJESTE E O BOM MOÇO

Ando muito preocupada com um tipo de homem que se prolifera por aí: o bom moço. O bom moço é aquele em que você acredita. Ele faz planos com você. Ele te apresenta pra mãe dele na segunda semana de namoro. Ele quer namorar com você na primeira vez que vocês saem juntos. O bom moço é tudo de bom. Ele chega na sua casa com presentes fofos. Ele é fofo. Ele te mima. Ele fala macio. Ele beija macio.

Mas é justamente aí que mora o perigo. O bom moço é aquele que nunca vai levantar suspeitas. Você nunca vai imaginar que ele está fazendo nada de errado (mesmo que ele te ligue de um lugar barulhento sexta-feira onze horas da noite e te diga que está trabalhando). O bom moço está acima do bem e do mal. O bom moço é um cidadão acima de qualquer suspeita.

Deve ser por isso que sempre gostei dos cafajestes. Pelo menos eles assumem que não prestam e não ficam bancando os santos. Você sabe o que você vai levar pra casa na hora que compra. Não tem surpresa depois de dois meses de uso contínuo. Porque os cafajestes são aquilo que são. Não usam máscaras ou qualquer truque pra seduzir as mocinhas desprevenidas.

O cafajeste é aquele que não vai te ligar. Não vai te mandar flores, nem te dar presentes. O cafajeste vai correr dos mínimos sinais de compromisso. O cafajeste não vai passar a noite com você. Ele vai embora assim que o dia clarear. Não vai deixar escova de dente na sua casa (afinal, isso seria um sinal de compromisso sério, na cabeça dele). O cafajeste é o oposto do bom moço. Não vai te apresentar pros amigos, não vai te convidar pro almoço de família. Ele não faz nada pra parecer fofo ou bom moço pra você.

E a vantagem do cafajeste é justamente esta: ele não está tentando te enganar. Ele é aquilo. Bom ou mau, ele é o que é. Ele não vai te fazer promessas, não vai ser romântico, não vai assumir compromisso. Ele não vai te enrolar. Ele vai te ligar segunda-feira depois de você ter passado o final de semana inteiro esperando um telefonema. E vai sumir sempre que chegar a sexta-feira. Ele não vai te dar desculpas pra não te encontrar. Simplesmente vai te dizer que tem um outro compromisso e não vai te incluir.

Pode parecer que eu estou ficando doida, mas hoje tenho medo do bom moço. O bom moço, inevitavelmente, vai te decepcionar. Não porque ele possa fazer uma grande merda (e sim, ele pode), mas porque você não espera isso dele. Ele te faz acreditar que ele é incapaz de te decepcionar. Ele te faz acreditar que ele é o príncipe encantado, mas obviamente, uma hora o príncipe vira sapo. Já o cafajeste é sapo por natureza. Ele já entra na sua vida como sapo. Por isso, você não espera dele atitudes de príncipe. O cafajeste é inofensivo, acredite em mim. Perigoso mesmo é o bom moço.

Mulher com M maiusculo,diria mais macho que muito homem por ai

Mulher com M maiusculo,diria mais macho que muito homem por ai

Eu não estou procurando namorado. Já falei mil vezes que me dou muito bem com a minha própria companhia. Não tenho interesse de fazer meu ficante-médio-interessante subir pra posição de namorado. Namorar por conveniência é para os fracos. Pra mim, não. Eu sou guerreira. Vou atrás do que quero e o que eu quero é um homem de verdade. Quero um homem que seja mais homem do que eu. Isso mesmo: um homem que seja mais homem do que eu.

Não é fácil ser homem, eu imagino. É esperado que vocês tenham um bom salário, que vocês paguem a conta, que vocês tomem a iniciativa, que vocês sejam altos, que vocês sejam fortes, que vocês tenham pintos grandes. E que se convençam de que tamanho não é documento. Eu sei. Não é nada fácil ser homem. Mas eu coloco meu lado homem todo dia em exercício. Troco pneu de carro, troco chuveiro elétrico. Me viro sem precisar da força de ninguém a não ser da força física. Sou mais homem do que quase todos os homens que já passaram pela minha vida. Sou homem de terminar um relacionamento com dignidade sem precisar dar motivos toscos pra outra parte sair fora. Sou homem na hora de assumir o que eu quero sem precisar manter relacionamentos paralelos pra massagear meu ego. Sou homem na hora de ter uma conversa séria ao invés de gritos e acusações. Sou homem do começo ao fim de um relacionamento. Ou, como cantava a canção: sou mais macho que muito homem.Uma mulher com M maiusculo.

Dureza é ver homem que não honra as próprias calças, como dizia meu avô. Que precisa trair ou magoar alguém pra fazer essa pessoa ir embora ao invés de simplesmente dizer adeus. Dureza é ver homem que mente descaradamente e se faz de bom moço. Dureza é ver homem que acha que é melhor do que a mulher porque tem um salário maior. Dureza é ver homens castradores que proíbem as mulheres de usar saia curta ou qualquer coisa que as deixe sexy, enquanto compram revista de mulheres nuas pra ver exatamente aquilo que eles fazem elas esconderem. Dureza é ver homem que proíbe a mulher de ter amigos enquanto ele paquera até a moça do café no trabalho. Dureza é ver homem que corta a Internet da mulher enquanto ele adiciona as vizinhas no Facebook. Isso pra mim é, como eu ia dizendo, não honrar as próprias calças. Isso pra mim é falta de hombridade. Falta de ser homem de verdade mesmo. E esse tipo é o que mais tem por aí.

Mas o homem que eu estou querendo não tem nada a ver com isso. O homem que eu quero precisa invadir minha vida de um jeito que nenhum homem fez ainda. O homem que eu estou procurando precisa ser capaz de trocar não só pneu de carro, mas todos os conceitos machistas arraigados por uma visão mais atual dos relacionamentos. O homem que eu estou procurando precisa mais do que dirigir um carro por longos quilômetros de estrada, precisa saber conduzir um relacionamento por alguns períodos intempestuosos. O homem que me atrai não precisa pegar duzentos quilos na academia, mas precisa saber segurar uma barra quando nem tudo forem flores. Porque, pra mim, ser homem não é uma questão de sexo apenas. É uma questão de atitude diante das situações mais adversas. E esse homem que eu quero precisa ser homem de verdade. Precisa ser mais homem do que eu. Porque eu sou muito homem.Ou mulher demais,pra pouco homem.

NUA E CRUA

NUA E CRUA

Eu queria ser famosa. Estampar as capas das revistas com minha felicidade instantânea e dizer que estou ótima depois de uma separação traumática. Queria ir pro Big Brother e fazer melhores amigos em uma semana. Queria dizer que amo com um mês de namoro. Queria que, quando alguém me chamasse de gostosa, isso fosse um elogio ao meu caráter e não um “eu te comeria se você me desse mole”. É provável que eu fosse mais feliz assim.

Mas eu sou tradicional. Sou convencional, apesar de não ser normal. Se eu me corto, eu sangro. Se bato o dedo no pé da mesa, dói. Sou uma pessoa comum. Acredito no até que a morte nos separe e também no eterno enquanto dure. Acredito que, se eu sou capaz de ser fiel, alguém mais pode ser. Acredito que eu não sou uma laranja, mas preciso da minha outra metade pra me sentir inteira. Valorizo as pequenas atitudes, assim como condeno pequenas mancadas. Sou rancorosa, guardo por anos uma coisa que me magoou de verdade. Sei perdoar. Passo por cima dos erros pra ficar junto das pessoas que eu gosto. Tenho meus limites. O primeiro deles é meu amor-próprio. Perdôo uma vez, porque errar é humano. Perdôo duas porque o ser humano é estúpido às vezes. Mas não posso viver perdoando porque isso seria incompetência minha.

Acredito que as pessoas aprendem com os próprios erros e com o tempo. Acredito também que quem traiu uma vez e foi perdoado vai trair de novo. Acredito que aquelas pessoas que vivem falando mal dos outros vão falar mal de você com esses outros. Acredito que as pessoas só mudam por vontade própria e nunca pelo pedido de outra pessoa. Acredito que tudo que eu acredito hoje vai mudar com o tempo. E que, no futuro, talvez, eu acredite em menos coisas. Ou em nada mais.

Nunca vendi meu corpo, nem nunca sequer considerei essa possibilidade. Eu sei exatamente o tipo de homem que sai com puta. E esse tipo me dá náusea. Nunca precisei experimentar drogas pra pertencer a nenhum grupo. Me dou bem com todo tipo de gente e as pessoas costumam gostar de mim apesar do que eu sou. Tenho verdadeira repulsa por homem mulherengo. Detesto aquele tipinho “caminhoneiro” (que fala pra esposa que tem uma em cada ponto, mas ela é a única que ele ama). Detesto mulher corna que se explica pras pessoas “mas ele me ama”. Sexo com outras pessoas só é perdoado quando é o homem que faz. Detesto homem machista. Detesto o tipinho que vai pra farra enquanto a mulher tonta espera em casa. Detesto mulher tonta.

Eu queria ser famosa pra fingir que não sinto dor. Pra fingir que sou perfeita na capa das revistas masculinas. Pra fingir que não preciso fingir. Queria ser famosa pra ser uma fruta e não uma cabeça que pensa. Mas escrever nunca deu dinheiro, nem capa de revista, nem melhores amigos no Big Brother. Escrever é pra pessoas de quinta como eu, que não vão fazer seu primeiro milhão vendendo o que tem no meio das pernas pra adolescentes de 30 anos de idade. Queria ser famosa pra experimentar uma vida que, dizem por aí, é melhor que a minha. Queria ser famosa pra ver se eu conseguiria ser eu.

EU NÃO VALHO A PENA

EU NÃO VALHO A PENA

O primeiro erro que alguém pode cometer num relacionamento é se apaixonar pela outra pessoa antes de conhecê-la bem. A paixão é cega. Ou melhor, a paixão deixa as pessoas cegas. Elas começam a idealizar as outras e esse é o primeiro passo para um relacionamento dar errado. Quando a realidade dá as caras, ninguém é tão perfeito nem tão amor infinito quanto o outro imagina.

Mulher nenhuma dá conta de ser tão linda quanto o outro acha que ela é. Tão legal quanto o outro acha que ela é. Tão desgarrada e sem ciúme quanto o outro gostaria que ela fosse. Isso é coisa do começo, quando os homens ainda enxergam em nós, mulheres, a perfeição. E depois de alguns meses, somos obrigadas a corresponder às expectativas que eles criaram por conta própria. Cadê aquela mulher perfeita, linda, exuberante e legal que eu conheci? Não, querido, essa pessoa nunca existiu a não ser na sua imaginação.

Esse texto poderia ser parte da minha auto-biografia premeditada. Coisas que podemos escrever antes que elas aconteçam, pois inevitavelmente vão acontecer. Eu nunca consegui ser tão boa companhia quanto pensavam que eu fosse. Nunca consegui ser tão culta quanto pensavam que eu fosse. Nunca consegui ser tão descolada quanto pensavam que eu fosse. Nunca consegui ser tão assídua na academia quanto pensavam que eu fosse. Nunca consegui ser tão dona da minha própria vida quanto pensavam que eu fosse. Nunca consegui ser tão bem resolvida quanto pensavam que eu fosse.

Talvez eu passe uma imagem errada de mim. Não sou metade da cabeça pensante que pareço, não tenho metade da empolgação pra malhar que já tive, não me viro tão bem sozinha quanto digo que me viro, não gosto tanto assim da minha própria companhia quanto eu digo por aí. Sou chata mesmo e tem hora que nem eu me agüento. Sou extremamente simples, caseira e cheia de manias estranhas (como ouvir Bruno e Marrone e dançar no meio da rua). Faço coisas “de homem” como trocar chuveiro, pintar a parede e consertar descarga em pleno feriado.

Já se apaixonaram por mim diversas vezes e, ainda assim, continuo solteira. Cada vez mais, quero que não se apaixonem por mim, afinal não vou ser metade da fantasia de alguém. Nem tento. Já vou dizendo logo quem sou, pois meu negócio é a realidade. Não tenho mais idade pra namoros adolescentes ou pra me interessar por viver uma ilusão. Todos que se apaixonaram por mim me fizeram sofrer no final. Queriam que eu fosse alguém que eu não sou pra eu corresponder a uma expectativa que não fui eu que criei.

Eu não pareço, nem de longe, a garota da camiseta molhada da revista. Eu não tenho vocação (nem bunda suficiente) pra andar de shortinho enfiado. Nunca vou colocar silicone e meus peitos vão continuar do jeito que eu gosto que eles sejam. Nunca vou achar normal traição e meu conceito de traição inclui trocar telefone (ou outro meio de contato) com uma mulher na balada. Nunca vou deixar solto quem eu amo. Minhas verdades mudam com o tempo, meus valores não. O que alguém acha de mim não vai determinar quem eu sou. Mesmo assim, não vou discordar quando alguém achar que eu não valho a pena. Eu valho. Eu valho a pena se tentarem me amar ao invés de se apaixonarem por mim.