sábado, 22 de setembro de 2012

É amor ou paixão


Nada melhor do que estar com os amigos! Assim penso e sempre pensei. Considero a amizade um sentimento maior que o amor, pois a amizade é livre, enquanto o amor tem uma tendência de posse. As pessoas se acham donas uma das outras, enquanto na amizade cada um faz o que quiser fazer. Isso é liberdade, e não sufoca. Pode até parecer estranho esta afirmativa, mas ela se fundamenta nos princípios de liberdade de escolha, embora muitos prefiram o sentimento (sublime) do amor.

Amor e paixão, amor e ódio, caminham juntos, unidos por um sentimento que, como escreveu Dom Quixote… “A paixão febril é prima irmã do delírio e mãe da loucura.” Mas esse tal de Dom Quixote entendia muito era de matar monstros (moinhos), auxiliado por um maluco alienado que o seguia e destruía tudo que ameaçava suas conquistas. Lutava contra os moinhos em busca da liberdade e deixou belos versos, mas que não tratam do amor como uma questão sentimentalista, mas sim de um amor platônico, neurótico e burro. Trata da paixão!

Vitor Hugo também disse: “As paixões devem existir, mas não necessariamente devem ser burras.” Isto é uma confirmação do que falei aí em cima. E por que digo isso? Porque existe uma enorme diferença entre amor e paixão. Definir amor é difícil, definir paixão é mais fácil. Se você consegue entender o que é paixão, então já definiu o que é amor. Mas vale repetir as explicações que se assemelham ou diferenciam um sentimento do outro. Os racionalistas amam, os idealistas se apaixonam.

Trocando em miúdos, quem ama, ama com o coração e com os pés no chão, com consciência, com sabedoria, com controle, com respeito ao ser amado, sem sentimentos de posse. A gente simplesmente ama. Ama com o auxílio da razão, como escreveu Nietzsche, desprezando a hipocrisia e o obsessivo sentimento de ser dono de alguém. É como se alguém dissesse: Eu te amo, mas você não é meu dono.

Paixão então podemos afirmar que é um sentimentalismo onipotente, inseguro, grudento, até chato às vezes, porque vem sempre seguida de exigências, explicações, dúvidas, além das exigências constantes de provas de amor. Considero estes fatos um desequilíbrio. Por isso quase sempre considero a paixão como uma doença. Ninguém ama outra pessoa com todas as suas forças. Precisamos de nossas forças para diversas outras atividades, e isso caracteriza a paixão como uma concentradora de forças, e por consequência um enfraquecimento do ser. Se uma paixão nos tira todos os momentos, forçando a pensar e agir plenamente sobre o ser amado, o que sobra para nós? Para o nosso trabalho, para a nossa família, para a nossa carreira profissional? Dedicamos tudo ao outro. E isso tem vários nomes: dependência, fragilidade, desequilíbrio, submissão.

Mas também não podemos amar só com a razão, utilizando somente a racionalidade simples e cruel. É preciso saber amar. E com se faz isso? Amando o outro com dedicação controlada, respeitando os limites, os desequilíbrios e acima de tudo os sentimentos de cada um. Podemos dizer então, que tais diferenças já não são tão diferentes assim. A paixão é posse, enquanto o amor é companheirismo, cumplicidade, é a realização de planos em conjunto, além de ser um perfeito sentimento de maturidade e de competência. Temos que aprender a amar, porque hoje, as pessoas se atiram às paixões na busca da felicidade, sem ao menos perceber que a felicidade está ali dentro dela, dependendo dela, e só esperando que ela a liberte.

Por tudo isso, me referi que a amizade é livre e não causa tantos estragos assim. Claro que sofremos ao perder um amigo, e sofremos tanto quanto ao perder um amor. Mas amigos podemos ter mais, dividir com os outros, compartilhar dos momentos ou nos afastar por longos períodos, e a amizade continuará a existir. O tempo não desmancha uma amizade, mas desmancha um amor. E aquela paixão que representava tudo na vida e que a gente jurava que era para sempre, também sofre influência do tempo, pois os dias passam e percebemos que “pra sempre” é muito tempo. Por isso ela acaba e perde o encanto.

Conclusão: Amor é sinônimo de companheirismo, respeito e admiração, de orgulho pelo ser amado, pela consciência das virtudes e pelo reconhecimento dos defeitos que o outro possui. Não tem essa de que o amor é cego. Cega é a paixão, que não permite que enxerguemos que o outro possui defeitos. Por isso a paixão só considera o outro um ser único e eterno. O apaixonado vive de devaneios, enquanto o amante se contenta com a certeza do amor sentido e correspondido. Não exige que todos os dias seja dito “eu te amo”, para se sentir seguro. Não precisa dizer a todo o instante que ama. A paixão exige que toda hora seja feita uma declaração de amor, mesmo que com um olhar, um aceno, um toque ao telefone, um encontro constante e diário. Insegurança é sinônimo de paixão, enquanto a certeza é sinônimo de amor.

Enquanto isso vamos amando com todas as formas de amar. Amor de amigo, amor de mãe, pai, filho e tantos outros tipos de amores que aparecem na nossa vida.

Esta história de dizer que o amor é cego é burrice, porque quem ama enxerga mais longe. E enxerga muito além dos que não amam, porque os amantes são pessoas normais. E uma pessoa normal é aquela que consegue controlar os seus desequilíbrios. Então o problema em si não está no ato de amar com paixão, na doce ânsia de esperar, quando alguém diz que vem, mas está no controle desta euforia. Por isso dissemos: tudo tem seu tempo. Se a pessoa que a gente ama diz que vem, não precisamos parar tudo e esperar. Ficamos eufóricos, é claro, porque ninguém ama só com a cabeça, mas continuamos nossa vida até a pessoa amada chegar, sem ânsias, sem traumas e sem devaneios.

Retornando à amizade. Ela não produz tudo isso, e assim assume uma importante posição na escala dos sentimentos. Ela alimenta a liberdade de cada um, e por consequência, quem se sente livre acaba amando. Sente segurança e a confiança se estabelece naturalmente, o que torna a relação mais estável, equilibrada e feliz. Enfim, eu acho…