quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Aquilo menos tudo

ombro dele é meu, o meu é dele, e tudo vai bem assim já há uns bons meses. Ele faz coisas que eu curto, tipo não me deixar dirigir, enfiar o cartão na carteirinha de couro sem nem me deixar ver a conta e imitar minha compulsão pela minha franja. Eu faço coisas que ele gosta, tipo carinho na perna, servir mais vinho quando o garçom some e ficar que nem monga alongando enquanto ele corre e paquera peruas acéfalas no parque. E nada disso me enlouquece, considerando que tem semanas que ele some e eu nem mesmo percebo. Quer dizer, perceber eu percebo, mas não chego a sofrer por isso. Talvez um pouquinho, mas um pouquinho eu já sofro só de fazer a troca de ar dentro das minhas narinas. O fato é: nada até aqui é culpa ou desleixo ou abuso dele e isso possibilita nosso lindo e calmo relacionamento sem pau. 
Algumas mulheres acreditam no sexo com o pau amigo, o homem limpinho que aparece de vez em quando só pra dar uma comidinha e tchau. Eu acredito no sexo com o amigo sem pau. O homem que aparece de vez em quando e te busca em casa, abre a porta do carro, elogia sua roupa, escolhe os melhores ingressos, faz você morrer de rir, conversa sobre tudo, dá conselhos, cuida de você, sobe com você até seu apartamento, curte um som, dorme de conchinha, te abraça forte e…vai embora. Isso sim é dar uma, ao meu ver. O trepar e jogar fora da mulher é se sentir amada sem ter que dar. 
Pau nunca pode ser amigo, pense bem. Experimente encontrar, sem querer, seu pau amigo num jantar romântico com uma mulher. Você não gosta do cara, não quer namorar o cara, ele é mala, burro, ele é só um pau. Você só usa o cara e está super segura nesse papel. Mas só porque você e ele, juntos, dividiram um pau, algo dentro de você, ainda que pequeno (pois é) quer ir até a mesa do fulano e fazer um escândalo: ahhhhhh me comeu e agora tá com outraaaaaaaa! Como assiiiiiiim seu desgraçaaaadoooo! Se bobear dá até pra chorar de rímel borrado achando que é amor. Mulher e pau não são compatíveis. Homem é a melhor companhia do mundo, acreditem, mas o pau dele não. Pau é a desgraça humana. É o elemento descentralizador do controle da alma. É o conflito personificado numa espada de guerra. É o fim de tudo. Pau amigo é coisa de sapatona. 
Enfim, mas voltando ao meu melhor amigo. Esse ser maravilhoso que mexe no meu cabelo, e paga tudo, e me elogia, e me abraça, e me aperta e vem aqui em casa sempre tão perfumado e tomamos vinho e falamos de tudo e...simplesmente não rola pau… ahhh... eu acho que vou matar esse idiota.

Que é isso de ser mulher?

É brinco vermelho grande? Vou lá e compro. E já deixou de ser. Coça, arde, arregaça o buraco da orelha. Não é isso não. É botinha bico fino? É isso ser mulher? Vou lá e compro, e espreme meu pé pequeno com dedão grande. Pé estranho de menina. Com um pé desses, dá pra ser mulher? Mesmo com essas unhas pintadas de vermelho paixão? São pés de menina? Quase de menino. Sou quase um menino. Essa cabelo curtinho, as roupinhas de moletom que uso, porque tenho medo, já que sou mulher. O porteiro, o taxista, o cara da padaria, o faxineiro, o lindo rapaz e suas boas intenções. Todo mundo. Esse mundo é cruel com as mulheres. E com os meninos? Então lá vou eu, só falta um boné. Mas às vezes, quase sempre, fico numa taradice e preciso de pinto. Já que pinto, vejam só, não tenho. É isso ser mulher? Precisar de pau? E então me visto como uma puta, já que é pra ir direto ao assunto que saio de casa, já que odeio sair de casa. É isso ser mulher? Ter desespero? E vou, e fico mesmo tão bonita. Quando quero, não tem, não tem não. Eu vou mesmo e pego o que melhor me parecer. E como. Olha lá. Eu como. Porque a puta, meu amor, essas roupas que de vez em quando me invento, essas roupas, a puta, meu amor. Você não sabe? É puro pinto. É puro poder. E isso então, caramba, é ser mulher? Nada em mim é passivo. Tudo em mim fura, arrebenta, endurece, estoura na cara dos outros. Isso é ser mulher? Me diz! Por que no auge do meu buraco eu tenho mesmo é uma faca? Por que vou do menino com boné, e seu pinto, para a puta que tudo pode, com seu pinto? Onde está o caralho da mulher? E tudo isso, vejam só, porque pinto não tenho. O que é ser mulher? A minha loucura de mulher não me permite calar muito tempo, seria coisa de quê? De homem bobo? Homem bobo é que cala, pode reparar. Ou mulher de homem bobo. Quem cala? Mas se saio assim, me jorrando pro mundo, logo vem, o cansaço de não mais me sentir mulher. E a necessidade de me calar pra tentar ser. O que é então essa porra de ser mulher? Que é? É meu sonho, eu com medo do mar gelado e fundo e escuro e então, eu quero ajuda, eu quero pedir, alguém mais forte que me socorra, mas não posso perder e então, o que eu faço? Eu como o forte, para o forte ter. Eu como o pinto, para o pinto ter. Querer tanto ter, é coisa de mulher? Guardar no meu ventre a vida é mulher? Esparramar pro mundo é ser mulher? Tentar não vomitar o resto de tudo que ainda não encaixa aqui? O que é ser mulher? E o depois, esse estado deplorável que fico, arrasada, destruída, usada, podre. Que é isso? A ressaca de querer devorar o mundo e o dia seguinte totalmente cuspida por ele. O que é? É coisa de menina, sempre tem cara de menina. Também não é mulher. Daí, quando canso então, da puta homem, da menina assustada da puta homem. Quem vem? Vem a velha. A velha cansada de tudo isso, querendo dormir e tomar banho desses que esfrega pro tempo passar mais rápido e levar embora alguma coisa minha que dá essa liga insuportável com o mundo. A velha, a venha é ser mulher? O que é ser mulher. Hein? Quando eu vou com meu tênis e minha gola alta, ver um filme, só um filme, e nenhum batom na boca. É só porque tenho preguiça e nojo de mulheres que a tudo seduzem. E o tempo todo. O buraco aberto como um banheiro público. Eu sei meu papel e nele me encaixo, ó mundo sedento de minha vagina! Preguiça desse papel. Não quero. Seduzo quando estiver a fim, pode ser? Mas eles não deixam. Eu vejo os olhares. O homem da banca de jornal. O homem na fila do cinema. O olhar de você podia, mulher. Ser mulher. Tem uma mulher aí. Então, por quê? Hein? Por que não querer dar ao mundo isso que você tem, esse castigo e esse mérito. Esse de joelhos e esse chute no saco? Porque se “enfear”, menino, só pra me irritar? Ser mulher. Por quê? Porque tenho preguiça. E medo. Cansa ser toda uma espera. Mulher é dos pés à cabeça uma longa espera. Do elogio, do amor, do acolhimento, do nascimento, do se tornar. E eu, mundo, quero que você enfie esse seu charme da felicidade no cu. Enfia essa passarela no cu, mundo! Enfia mesmo. Eu só quero ver meu filme em paz. E não ter sexo. Ou, caso você venha querer que eu tenha mesmo algo, já que o tempo todo temos que nos definir pra não sermos definidos, então prefiro ter uma pica imensa, pra você nunca, nunca, nunca, ousar. Homem basta, percebe? Mulher ta sempre correndo atrás pra agradar. A passarela é nossa, e então, quem não quer, é o quê? Nunca, ouse. Chegar perto de roubar aquele meu riso nervoso e o medo do frio cortante. A coisa mais linda do mundo. Porque depois, depois dessa preliminar de menina, eu sou tão mulher. Tão mulher. Mas pra quê? Hein? Quem mesmo, até hoje, deu conta? Quem mesmo, até hoje, amou? Quem mesmo, até hoje, honrou? Quem mesmo, até hoje, me deixou ser mulher? Hein? Por isso, lá vou eu, meu tênis, o boné, os olhares. O que é ser mulher? Ser mulher é algo que simplesmente, embaixo de tudo isso. Você não vê? Eu trepo minha mulher pro mundo como um homem, enquanto não chega quem trepe minha mulher como um homem pra mim. Tanta força, mostrando pra todos esses pintos o quanto eles são moles sem isso que nem sei o que é. Mas que tenho. Sem nossa força, aquilo, aquilo é só uma massa sem direcionamento. É isso. Eu tremo quase de não terminar, precisava, é isso, escrever, ser a mulher que eu sou, não a mulher pra casar, não a mulher para um homem, não a mulher do namorado, não a mulher pra que digam “olha, uma mulher”. Mas isso, a mulher que sei ser e que, acreditem, é tão mais mulher que cabeças tolas a chacoalhar brincos grandes e rodar saias e seus babados e rebolar periquitas que jamais derrapam de amor no dia seguinte. E quem não vê, quem não enxerga, quem não ama, quem não sabe. Isso tudo, sabe, isso tudo não é o que vai me impedir, de não saber exatamente nem quando nem como ser mulher, mas acabar sendo tanto, tanto, tanto, que nem parece. Que nem dá pra ver. É isso. É ser obcecada pela própria natureza de já ser. É ser cega pro que invade de tão óbvio. Duvidar do que não tem se não. É o tempo todo querer ser mulher, ter medo de não ser, não saber ser. Ser mulher é a hipocrisia ao contrário. É a desgraça do avesso. É a simplicidade depois do choque. É tentar até o fim o que já nascemos sendo. É se tornar o que já se sabia mas dói tanto e se vai aos poucos. Um aos poucos todo esfolado por conta das aceleradas que é ser mulher. Ser mulher é um atropelamento em câmera lenta, que a cada frame é visto com a maior velocidade que sem tem notícias no mundo. Porque não é a saia, não é a cor. Também não é a loucura, a dor, o brinco, o casamento, o filho, o buraco, a roupa, o choro, a fragilidade, o grito. Não é nada disso. É o que passa despercebido pelo cara da fila, pelo nosso espelho. É o intervalo de todas as tentativas de ser e, principalmente, de não ser. Quando eu serei uma mulher? Ser mulher é esperar ser mulher até o fim. Ser mulher é somente morrer tentando.ps:os ultimos 3 textos são de autoria de Tati Bernardes, e eu sou mai uma d suas fãs.

Carta para o homem que morreu e um pouco de verdade viva

Você pensa que eu não sei?
Eu sei que tenho soluçado risos nervosos por aí. Sempre um por aí perto dos seus ouvidos.
Tudo para você ver o quanto eu me divirto, o quanto sou charmosa. Para você lembrar de como a gente se diverte, com a minha risada, com a sua.
E eu grito um pouco rindo, eu sei disso também. Que é para você lembrar de quando eu sinto prazer. De quando você me dá prazer.
Eu passo quieta por você, você passa quieto por mim, e eu ainda escuto o barulho que a gente faz.
Vocês pensam que eu não sei?
Escova no cabelo todos os dias, lápis nos olhos, perfume de morango. Eu sei, eu sei, a paixão é ridícula.
Sei que não cumpro o que prometo com olhares de mulher. Pois é, eu sou uma menina. Surpreso? Eu não.
Você está surpreso mesmo? Achou que era uma mulher te instigando para fugir da lógica? Isso é coisa de criança.
Lógica? Que se foda a lógica.
Eu não tenho tesão nenhum em separar o certo do errado. Espero não aguentar mais a dor do caminho errado para mudar de vida, é só isso que acontece.
E o caminho certo também não me dá muito tesão não.
Menos aquele que a gente fez para fugir, menos aquele que a gente fez para se pegar, se entrar, parar de pensar em sentir e sentir de uma vez.
E a inspiração para escrever Meu Deus! Foi para onde?
Foi para o mesmo lugar da minha outra paixão esquecida. O homem para o qual dedico este texto.
Aquele que tirei do pedestal e nunca mais coloquei em lugar nenhum.
Foi para depois. Depois que eu resolver o que é verdade, o que é de verdade.
Você pensa que eu não sei que você sabe que eu estou mentindo? Eu sei.
Quer um pouco de verdade? Leia o começo deste texto, não é sobre você que eu escrevo não.
Essa é a verdade, mas você me ensinou que ela não é necessária.
Eu sei bem. E sei que você mente também. E sei que a gente se atura porque perder pessoas é muito triste.
Por mais que você não venha me encoxar no meio da noite, não me agarre no corredor, não jogue a porra do controle remoto para longe, não fale no meu
ouvido o quanto você está precisando me comer naquele momento. Por mais que você não seja esse homem, você respira quietinho ao meu lado enquanto dorme, lindo.
E quando você dorme quietinho assim, eu sei que, apesar de eu não abalar sua vida em nada, você precisa de mim.
E você já abalou tanto a minha vida. Que pena, agora você morreu.
Mas eu continuo vendo você respirar, quietinho, ao meu lado.
A verdade é que eu ainda acredito em reencarnação.
E eu te olhei tantas vezes implorando. Não morre, por favor. Seja ele, seja o homem que perde um segundo de ar quando me vê.
Mas você nunca mais me olhou quase chorando, você nunca mais se emocionou, nem a mim.
Você nunca mais pegou na minha mão e me fez sentir segura. Nunca mais falou a coisa mais errada do mundo e fez o mundo valer a pena.
Eu treinei viver sem você, eu treinei porque você sempre achou um absurdo o tanto que eu precisava de você para estar feliz.
De tanto treinar acostumei.
E cadê a inspiração? Foi embora junto com a minha pureza, a minha crença, a minha fidelidade.
Eu sou comum, igualzinho a você, a vocês. Eu cometo erros mesquinhos e sou capaz de grandes momentos.
Para cada grande momento, milhares de erros mesquinhos no ar, no lençol, no ralo de um banho cheiroso.
Para cada fundo do poço, milhares de motivos de perdão boiando, bóias de coração para eu me agarrar.
E eu nunca me agarro em mim, sempre espero alguém chegar.
Eu não queria ter ido tão longe. Nem seguido um que não posso, nem aturando outro que nunca pude.
Eu só queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nó.
O homem que vai ser o pai dos meus filhos e não dos meus medos.
O homem com o maior colo do mundo, para dar tempo de eu ser mulher, transar para sempre. Para dar tempo de seu ser criança, chorar para sempre.
Para dar tempo de eu ser para sempre. 
Cansei de morrer na vida das pessoas. Por isso matei você.
Antes que eu morresse de amor. Matei você.
Eu sei que sou covarde. Surpreso? Eu não.
Desculpa, eu tinha prometido nunca mais escrever tão subjetivamente.
Te amo, viu?
Você renasceu de novo.
Eu sei que sou louca.
Louca e covarde.

Romântica pra cacete


Nem todo dia tem Sol, nem toda sobremesa é cheese cake e nem toda relação homem e mulher é romance.
E você vai fazer o quê?
Vai se matar por causa do cinza acima da sua cabeça? Vai tremer hipoglicêmica e carente porque só sobrou torta holandesa? Vai se manter virgem e intacta até aparecer o homem que vai te dar uma casa com cerquinhas brancas, cachorrinhos e bebês?
Claro que não, você vai viver a vida, curtindo o que ela tem de melhor. E o que um bonitão que só quer te comer pode ter de melhor? Bom, eu poderia fazer uma lista. Mas a droga do romance estraga tudo isso, a droga dos filmes românticos nos enganam como as propagandas de cerveja que enchem de gostosas os babacas segurando um copinho.
Por que raios a gente tem de romantizar qualquer demonstração de carinho de um homem se na maioria dos casos eles só querem nos comer? E por que ficamos tão putas se eles apenas nos comem e caem fora?
Quem disse que eles são obrigados a nos amar eternamente só porque conheceram de perto a nossa beleza interior? E, finalmente: que mal há em sermos gostosas e os homens quererem nos comer? Por que isso parece ofensivo? Por que nos sentimos usadas se ambos estão lá de livre e espontânea vontade?
Isso é herança das mulheres pudicas, sonhadoras e donas de casa do século passado ou a célula do romance vai eternamente se multipilcar e passar de geração em geração através das mulheres?
Eu tento, juro que tento. Mas a droga do romance não me deixa em paz.
É uma praga.
Conscientemente eu sei que nem todos os caras querem namorar comigo, e mais conscientemente ainda eu sei que eu também não quero namorar com a maioria deles. Mas lá dentro fica a dúvida: será que fui usada?
Da onde vem esse sentimento fraco, submisso, antigo, arcaico, pobre e idiota de que numa relação sexual o homem é o dominante que come e a mulher a coitada que é comida? E por que se ele te tratou tão bem, com tanto carinho e respeito, só quis te comer e caiu fora? Precisava se dar tanto trabalho?
A vida é complicada. E a vida é complicada porque nós mulheres romantizamos tudo, ou quase tudo. Ou justamente o que não deveríamos.
A gente faz planos mesmo em cima dos silêncios deles. A gente vê beleza em cada sumiço. A gente vê olhares de amor no mais puro olhar de tesão. A gente acaba de trepar e é batata: deita no peito deles!
Ah, o romance! Mulher que é mulher não consegue fugir de um.
Você vai para o banho super senhora de si, mas enquanto a água escorre, você fica na dúvida entre se ele vai ligar no dia seguinte e o nome dos filhos. Será que ele vai ter os olhos do pai?
Eu cansei de ser assim, por que não consigo ver os homens como diversão se eles conseguem tão facilmente nos ver assim? Por que não posso aceitar que nem tudo é romance?
Por que a droga da chuva me lembra todas as vezes que eu voltei para casa sonhando e no dia seguinte me deparei com a frieza do dia seguinte?
Aonde está você pelo amor de Deus! Aonde está você? Não vê que estou cansada de pertencer a todos e não ser de ninguém? Não vê que minha devolução me enfraquece cada vez mais em me entregar?
Não vê que na loucura de te encontrar não meço as entregas? E elas nunca são entregas porque eles nunca são você.
Porque comecei este texto tão bem e mais uma vez esqueci de ser a mulher moderna que eu tanto gostaria de ser para lembrar a mulher romântica que espera por você a cada esquina, a cada decote, a cada riso nervoso que solto em forma de grito à espera do seu socorro.
Eu vou continuar vendo você em todos esses crápulas que fingem ser você para vulgarizar o meu amor. Eu vou continuar cheirando você em todos esses suores fugazes que me querem num conto pequeno. Eu vou continuar lendo a nossa história em contos pequenos.
Cadê você que some a cada som que não me procura? Cadê você que parece ser e nunca é porque desaparece no cansaço das relações?
O meu amor acaba por todos, a minha espera cansa por todos, a minha raiva ameniza por todos. Mas a minha fé por você cresce a cada dia.
Eu posso transar no primeiro encontro, eu posso transar por transar. Eu posso trepar. Eu posso te encontrar num flat na hora do almoço para uma rapidinha. Eu posso reclinar o banco do meu carro e mandar ver. Eu posso deixar você não me beijar na boca. Eu posso aceitar que você nunca me leve de mãos dadas a um cinema. Eu posso ser uma noite e nada demais. Eu posso ser um banheiro e nada mais. Eu posso ser nada mais.
Mas eu nunca, em nenhum momento, deixo de romantizar a vida, cada segundo, por mais podre que seja, dela. Eu nunca deixo de procurar você. Eu nunca deixo de acreditar que você exista, e eu nunca deixo de acreditar que você faz o mesmo a minha espera.

Ilusões de mulher



Ando buscando a sobriedade,
Nas mais insanas realidades.
Acabo me perdendo em razões ilusórias
E me remetendo a um ser sem história.
Sem histórias, sem realidade.
Afogada nas ilusões do mundo real.
Redescubro-me a cada instante,
Um ser sóbrio, sombrio,
Menina triste e crescida, mulher fatal.

Depressão Mórbida.
Eu vaguei por esse mundo profano,
Em todas as suas ruas.
Nele fui o alfa, fui o ômega,
Não estava nem ai para o opio.
Eu tinha tudo em minhas mãos
Até que a vida resolveu me ferir.
Tirou toda a minha felicidade.
A minha alma só sente um
Grande peso aflito,
Que nem me permite ter magoas.
Por vezes tentei me esconder
Nas nuvens negras do céu.
Fiquei sufocado na mórbida
Oscilação de grandes oceanos,
E ainda estou aqui...

Carrego uma maldição
Que nem o sofrimento de uma vida inteira
Pode me poupar.

Sinto que estou sendo vigiado
Pelos olhos do diabo.
E que só o amor não pode me tirar desse martírio
Que chamam de vida.
Se bem que a minha vida já está por fim
Já sinto um clarão ardente me tirando a visão.

Não há mais tempo para
Os meus desejos insanos.
Assim muita gente já morreu.
No silencio mortal da depressão.
Sendo crucificado, sem poder disfarçar ou afogar.
A minha dor.

Talvez o longo encontro com a paz,
Ainda me traga esperanças.
Meu terror, minha lamuria,
Meu suplicio.
Levam a minha alma
Ao imortal desconhecido,
Mas a maldição não acaba por aqui.

Em meus ultimos dias de vida,achu que me refugiaira  em livros,historia q sei que nunca poderia viver, que meus minutos estariam contados.Morreria só, na companhia de um livro de poesia talvez e entregue à contemplação da vida através dos raios de sol que entrassem pela janela do meu leito terminal no hospital e olhando o jardim lá fora (caso não pudesse andar).
A última pessoa que veria seria a minha mãe mas, por um breve período antes da minha ida porque, pelo menos nos meus minutos ou horas finais, gostaria de ter uma última conversa sincera com Deus e perguntar-lhe por que ele nunca me ouviu, porque me abandonou, se realmente existe e, se pelo menos, sabe o meu nome.
Além da minha mãe, não estaria deixando ninguém ou nada mais de valor nesse mundo.

NÃO SE COME UMA MULHER


NÃO SE COME UMA MULHER

Fabrício Carpinejar

Já ouvi muito que sexo não é seguir a cabeça e deixar as coisas acontecerem. Sexo seria não pensar. Não concordo, sexo não é inconseqüência, é conseqüência da gentileza. Conseqüência de ouvir 
o sussurro, de ser educado com o sussurro e permanecer sussurrando. Perder o pudor, não perder o respeito. Perder a timidez, não perder o cuidado.

Sexo é pensar, como que não?

E fazer o corpo entender a pronúncia mais do que compreender a palavra. Como se não houvesse outra chance de ser feliz. Não a derradeira chance, e sim a chance.

Uma mulher está sempre iniciando o seu corpo. Cada noite é um outro início. Cada noite é um outro homem ainda que seja o mesmo. Não se transa com uma mulher pela repetição. Seu prazer não está aprendendo a ler. Seu prazer escreve — e nem sempre num idioma conhecido.

Ela pode ficar excitada com uma frase. Não é colocando de repente a mão na coxa. Ela pode ficar excitada com uma música ou com uma expressão do rosto. Não é colocando a mão na sua blusa. Mulher é hesitação, é véspera, é apuro do ouvido.

Antever que aquelas costas evoluem nas mãos como um giz de cera. Reparar que a boca incha com os beijos, que o pescoço não tem linha divisória com os seios, que a cintura é uma escada em espiral.

É comum o homem, ao encontrar sua satisfação, recorrer a uma fórmula. Depois de sucesso na intimidade, acredita que toda mulher terá igual cartografia, igual trepidação. Se mordiscar os mamilos deu certo com uma, lá vai ele tentar de novo no futuro. Se brincou de chamá-la de puta, repete a fantasia interminavelmente. Assim o homem não vê a mulher, vê as mulheres e escurece a nudez junto do quarto.

Amar não é uma regra, e sim onde a regra se quebra.

Não se come uma mulher, ela é que se devora.

Crônica do meu novo livro "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus" (Bertrand Brasil, 256 páginas)