quinta-feira, 28 de junho de 2012



E eis que resolvo ser como a sociedade pede.

Tomo um banho morno, sentindo a água tocar o que ele deveria estar tocando... escolhi um vestidinho preto, que como já cantou Skank é indefectível, uma calcinha pequena e um perfume perfeito. Prendi a franja, passei um batom e escolhi a sandália mais alta e mais bonita.

Andando pela rua, percebo que essa coisa de ser mulher fatal não combina muito comigo. Mas deixei a Sammynha sonhadora dentro do vestidinho estampado lá em casa.

Encontrei-o todo bonito também, cheiroso, e com olhos que me percorriam a todo instante. 'Onde vamos", perguntou ele. Eu sugeri: 'vamos pra sua casa'. O apartamento dele era como nos filmes, quase sem móveis, com vista bonita, meu salto fazia um barulho irritante, ele sugeriu que eu tirasse... [nunca! seria desarmada]

Perguntou-me o que eu queria beber, aceitei vinho... [geralmente é o que sobe mais depressa e me ajudaria ser a Sammynha fatal]. Enquanto ele enchia meu copo, notei o quanto ele é bonito, seu rosto foi desenhado com perfeição, pele morena, cabelos pretos, dentes perfeitos, o cara certo pra eu beijar, morder, lamber e amar. Amar? perai... eu não amo esse cara, eu nem sei muita coisa sobre ele, se ele mudou desde  a ultima vez, se ele ainda dá bem com a mãe, se ele ainda curti rock, meu Deus...que eu tô fazendo aqui? Calma, calma, respira Sammynha , cadê a mulher fatal que saiu de casa?

Tomo o vinho, ele coloca John Mayer [ufa, tem bom gosto musical], ele me pega pela cintura, me fala que sou linda, que sempre me quis, que sou cheirosa e me beija. O beijo é bom, a química tem todas as ligações de carbono, o vinho fez efeito e me entrego. Tiro a roupa dele com pressa, sussurrando coisas que todo cara adora ouvir, passeio pelo corpo dele arrancando sorriso, gemidos e as mais diversas reações. Ele faz o mesmo, não tenho tempo de pensar. Mas quando consigo olhar nos olhos dele, mentalmente falo: 'Quero poder contar para as minhas amigas que eu fiz sexo selvagem e gostoso, e você foi o escolhido, portanto, acabe comigo'. O vinho, os movimentos, o calor me fazem esquecer que eu queria outro cara ali. O suor me deixa meio tonta e com as mãos dele puxando meu cabelo, meu corpo responde com espasmos, o dele minutos depois. Cada um pra um lado na cama bagunçada, nem reconheço mais a música que toca... ele chega perto e diz: 'Nossa!! você é um furacão.' E deita pertinho de mim, toca meus cabelos, enquanto eu respiro agoniada, a respiração dele no meu pescoço me perturba, a mão dele na minha barriga parece me prender pra sempre ali. Fui até o banheiro, lavei o rosto, me olhei... maquiagem borrada, cabelo todo bagunçado, corpo todo arranhado, cena de um filme... de terror.
O furacão que segundo ele, fui, agora chegou em mim. Me devastou, não me reconheço. Fui contra todos meus princípios, fui contra tudo que eu acreditava. 
Tinha ali, em uma cama, um cara lindo, mas não era nada além disso pra mim. Não hoje. Eu  o desejei por noites a fio, mas não deixei que ele me conquistasse a cada dia. Eu simplesmente entreguei pra ele o meu corpo, que tanto preservei de tantos canalhas em noites por aí...
Quando volto ele me dá mais uma taça de vinho, recuso, falo que já estou tonta, ele beija meu ombro e fala: Casa comigo? Dou uma gargalhada e digo que preciso voltar pra casa. 
No carro, ele me diz que quer me ver de novo, que eu sou exatamente o tipo de mulher dele, que não tenho frescura, que não fico querendo viver lindas histórias de amor. E nesse momento, caem as fichas das ligações químicas que deixei de ter com ele. Ia dizer que sou exatamente assim, como ele descreveu não gostar, mas troquei meia dúzia de palavras perdidas pelo silêncio. 
Em casa, tomei um banho pra tentar fazer com que meu corpo esquecesse essa noite. Que tola, água e sabão não limpa consciência, coloquei meu pijama da Betty Boop e senti vontade de fazer um cartaz, gritar na janela, postar nas redes sociais: eu fiz sexo, tá bom? eu sou quente, fogosa e gostosa, eu sou moderna, eu acabo com minha carência.
Mas senti uma lágrima fina percorrer meu rosto. Eu não sou assim.
E o que mais machuca nem é o fato de ter vivido essa noite... é de tê-la vivido com o cara errado.Que eu sempre achei que fosse o certo.Que eu achei que amava.
Essa noite será pra sempre lembrada, ele vai lembrar como uma noite gostosa com a mulher bem resolvida que nunca fui. Eu vou lembrar que nunca mais atendo porra de apelos de sociedade nenhuma.
Melhor dormir sozinha e inteira mil e uma noites, do que ser metade na cama de alguém.

Quando eu ficar meio louca, me leva pra sua casa e me cura? Quando eu achar que o mundo não me abriga, me faça sua?
Me faça serenata, tatue meu nome, me roube no trabalho, me ame no carro, me traga um livro, me dê insônia...
Me pegue pelo braço, segure minha cintura, me pegue no colo, goste do meu colo, me conte suas histórias, me mate de rir ...
Me apresente para os seus amigos, me deixe cozinhar com sua mãe, faça-me sua sobremesa, me provoque, me instigue.
Ache graça das minhas neuras, me cubra com suas mãos, me conte piadas sem graça, realize meus sonhos...
Elogie meu bronzeado, me olhe tomar banho, me deixe fazer sua barba, me deixe dirigir seu carro, me conte seus sonhos, não me solta.
Me queira pela manhã, me queira quando chegar do trabalho, suado, cansado... me acolha no teu abraço, diga que me ama e se derrame em mim.
Me peça pra ficar quando eu falar que vou embora, implique com meus vestidos, tire meus vestidos, me saboreie, me deixe te degustar.
Desapareça às vezes pra que eu fique desesperada atrás de você, volte no meio da noite, não fale nada, me dê seu sorriso mais safado.
Me traga um chocolate quando a TPM atacar, me deixe fazer uma massagem nas suas costas, traga a paz pra dentro de mim e a guerra também.
Me deixa te olhar no meio dos seus amigos, só pra ouvir meu coração confirmar que é você, que você é o mais lindo, o mais meu.
Se atrase meia hora, só pra me ver de braços cruzados e bicuda, só pra gente se pegar no sofá e se atrasar ainda mais.
Me deixe cuidar da sua gripe, secar seus cabelos, implicar com suas amigas, me conte do seu trabalho, me leva com você...
Me faça um jantar a luz de velas, encha meu copo a cada dois minutos, teremos comida sem mexer e corpos saciados.
Repare no meu esmalte cor de café, na minha calcinha vermelha, conheça minhas expressões, me deixe ser louca por você.
Não seja sempre cavalheiro, nem sempre fofo. Seja rude as vezes, não me pergunte o que eu quero, faça, faça por nós dois.
Roube minha coberta durante a noite, ronque, faça alguma coisa pra que eu acorde e possa ter a chance de te ver dormir.
Fique irritado, fale que tirei o seu sossego, que roubei sua paz, que roubei sua maçã, saia batendo a porta, volte no instante seguinte, me abrace e diga que é tudo besteira.
Reclame do meu tempero, reclame do meu ‘oi’ pro vizinho, reclame que eu não paro de falar e você quer ver o futebol, mas nunca me balance os ombros, nunca faça pouco caso.
Faça tudo e faça nada. Mas fique. Mas volte. Eu prometo em troca te dar tudo aquilo que você nunca achou que pudesse caber no seu sonho.


É tudo muito sem sentido.
Mas já dizia Quintana: "...E que fique muito mal explicado, não faço força para ser entendido.Quem faz sentido é soldado..."
Te sinto perto, te sinto junto. Pisco e não te sinto mais ali.
Dividimos momentos, você me conta da sua vida, ninguém sabe tão de mim quanto você. Você me conforta, me acalma... e depois, traz a tempestade ... que cai em forma de inseguranças, medos, brigas. Me sinto passado na tua vida.

Te chamo pelo nome e peço: 'Vem'. Insisto, provoco, instigo. Pelo simples motivo da vida ser melhor quando você tá por perto.
Sua voz faz com que todas as sementes que carrego dentro de mim, germinem... Quando você sorri e me chama de boba... nasce sol na mais escura noite.
E renascem todos os clichês românticos, a inspiração vem tomar café comigo, vejo teu rosto nos outdoors, sinto tua mão atrevida percorrer minhas vontades...

Às vezes vejo tudo se afogando, fico na margem, jogo uma bóia, me jogo na água, perco a vergonha, perco o orgulho... quase perco você.

E é tudo muito 'quase'. É quase compromisso, é quase 'todo dia', é quase 'adeus'. Só não é 'quase amor'.
Você me disse outro dia que só desiste se eu desistir. Eu não desisto. Mas cansa, as vezes, remar sozinha. O peito vai ficando cansado de puxar você e quase que te solta. Mas a corda que te puxa é feita da mesma matéria dos sonhos, desconhece a força que tem.


Deito no meu canto e outra nuvem de incerteza paira sobre mim. O que você está pensando agora?  Me inclui ou me exclui?  De mais nada sei, além de que te amo e sou louca por você. Não preciso de nomes, mas preciso de certezas. Óbvias como teu nome pequeno.


E do mais, talvez sejam todas essas palavras desnecessárias... talvez eu seja só aquela menina, que um dia você conheceu na internet... Talvez.


Era uma vez uma princesa de cabelos negros e olhos sonhadores.
Era uma vez um príncipe com barba por fazer e sorriso que derretia icebergs.
A linda princesa esperava pelo príncipe segurando a barra do vestido de fita. Ele chegava no seu carro vermelho, a tomava nos braços e beijava docemente sua testa. Olhos se cruzavam. Bocas se entrelaçavam e braços se confundiam.
O príncipe contornava sua princesa só com o seu olhar. Ela dançava por entre os girassóis e ele sorria ao ver sua pele morena contrastando com o amarelo da flor. Sentia-se rei por ser dono de toda aquela extensão de pele, cabelos e sorrisos.
Ela deitava na grama e ele também. Juntos descobriam novos desenhos nas nuvens, ela assoprava um dente de leão e outra nuvem se formava. E ela dizia: essa é minha!
E no macio da relva, a barba dele tocava a pele lisa dela, ela se arrepiava e isso pra ele era um 'eu aceito'. Aceito ser sua.
E os corpos são invadidos pelo desejo que é consumado. Lenta e deliciosamente.

E você aí achou que isso era um conto de fadas, né? Desde quando princesas usam vestido de chita e príncipes chegam de carro vermelho?
Os personagens dessa história trocam o vestido de plumas e cetim e o cavalo branco por uma história sem final feliz. Feliz é o agora.



Assisti o filme 'Sexo sem compromisso' e me apaixonei. Fazia tempo que eu não gostava tanto assim de um filme.
É um romance que fala sobre relacionamentos. Do quanto tem pessoas que se jogam e do quanto tem pessoas que travam. Por medo, por dúvida, por causa do amor à liberdade da vida sem ter compromisso.
Eu me identifiquei muito com o Adam, personagem do Ashton Kutcher. Ele não tinha medo do ridículo, se jogava, acreditava, amava... era fofo a ponto de gravar um CD pra ela ouvir na TPM. E ela, entretanto, só queria sexo. Queria matar a fome do corpo e nada mais. Queria ele sempre disponível sempre que ela estivesse a fim. No começo, óbvio que isso era interessante. Mas quem sobrevive só de sexo? quem sobrevive só de pele? Tem muito mais coisa por debaixo da pele do que vontades, sexo aquece a fome e nem sempre aquece o coração. Sexo é ligação, é calor, é explosão. Mas pra mim, pro sexo ser bom ele precisa de um 'antes' e de um 'depois'. Eu jamais conseguiria ser só sexo na vida de alguém. Ser nada mais além disso. Sem ser o café levado na cama, o banho dividido no vapor do chuveiro, a conversa madrugada afora, a pizza dividida, a coca-cola tomada no mesmo copo. 
E o desfecho do filme é encantador, ele cansa, ela recua. Tem medo do 'envolvimento', de 'ser dele'. E fica infeliz. Porque descobre que trapaceia o corpo com o sexo dele, enquanto a alma clama por carinho, por ter uma pessoa inteira, na cama e fora dela.
O final é ainda mais lindo quando ele diz: 'Se der mais um passo vai ter que ficar pra sempre'. E ela fica. E ela descobre que o sexo é infinitamente melhor quando se pode dormir de conchinha depois.

E é exatamente nisso que eu acredito. Em sexo com compromisso, com amor, com continuidade, o sexo que não acaba, quando ' acaba'. E, mesmo vivendo em um mundo onde compromisso é antiquado, eu ainda acredito no dormir junto depois te ter feito o melhor sexo da minha vida... até o da noite seguinte. Ou o dormir juntinho, abraçadinho, depois de um dia difícil, cansativo, corpos unidos, almas que amam.

É... sou infinitamente romântica, doce e boba. E ainda me emociono com filmes de amor. E me pergunta se quero ser diferente?


Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.

Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta(ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criado pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.

Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gostaria de ser a Alice.

É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings.Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.

É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.

Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.

Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.

Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.

Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.

Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.

Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.

Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.

De Rosemary Urquico
(Tradução e Adaptação de Gabriela Ventura)


Está decretado que hoje é o dia da vontade.
Vontade de arrancar essa sua camiseta e sentir teu peito todo grudado em mim, vontade da sua boca me lambendo, sua boca saciando minha fome de você.
Vontade de te cobrir de beijos em suas crises [agudas] de chatice, vontade de me perder no seu olhar, de ver meu desenho na sua íris, de contornar seus pecados com minha língua, de bagunçar [ainda mais] os seus cabelos.
De te dar colo, de ter colo, de te olhar fumar, de te ver fazendo planos, de te ver com a carinha de menino que muitas vezes só eu vejo... vontade de fazer um macarrão pra você, enquanto te ouço cantar suas músicas malucas. 
Vontade de tomar banho contigo, molhando seu corpo, secando o desejo, me entregando, sorrindo no seu ouvido, entre o beijo na boca e o gemido abafado o 'eu te amo'. Um 'eu te amo' dito debaixo do chuveiro tem mais poder, revela estudos na Nandinávia.
Vontade de fazer casa no seu peito em todos os nossos 'depois'. Eu te amarei ainda mais nos nosso 'depois', sua voz mais calma [eu já disse que adoro sua voz né? sim, eu sei que disse 9.786 vezes, mas sou repetitiva], meu um metro e sessenta e nove todo tomado pelo seu cheiro. Cheiro do meu homem. 

Vontade também de sentir saudade. Vontade de brigar com você, de te ver irritado, de chorar uns 3 dias achando que posso te esquecer e descobrir que minhas lágrimas não afogam a saudade, muito menos o amor. O amor usa boia. 
Vontade de te contar como foi minha infância, de chorar no seu ombro, de sorrir ao te ouvir contar as coisas que aprontou, de ter ciúme das mulheres que você amou, ter ciúme do seu primeiro beijo, de quem já pode deitar no seu peito que hoje eu moro. Sentir ódio profundo de quem te fez ou faz mal, te dar a certeza que meu peito nunca te mandará embora.

Vontade de fazer caretas enquanto você tem uma conversa séria no telefone, só pra te fazer rir, vontade de usar meu corpo pra te provocar, pra te atiçar, aguçar, pra te sentir dentro, inteiro, meu, só meu. Te usar, ser usada e usar com amor é isso, usa, usa e nunca devolve. Reintegra-se. Reaproveita-se.
As vontades são do corpo mas quem as coloca em ordem é o coração. Creio eu que coração sente desejo, ele só não sabe muito bem como fazer, dai deixa a paixão que mora sempre ali, em uma cantinho de sol, agir. A paixão é tal dona, a que manda nos desejos, ela cega o amor e deixa o coração tão extasiado que ele explode em tesão. E o corpo se rende... as vontades sufocam... quero você aqui, entre as letras, as pernas, os sonhos.

E é por querer tanto que hoje faxinei o coração, decidi jogar fora as mágoas, raivas e decepções de ontem. E não é que nem ficou espaço vazio? Você me ocupa toda. Ainda bem.


Eu tenho um caso com as palavras. Engana-se quem pensa que é um caso de amor. Tem amor, mas tem ausência, tem ódio, tem beleza e tem muita, mas muita coisa feia.
Agora mesmo estou com vontade de gritar, e como se fizer isso serei louca ou eternamente incompreendida, escrevo. Escrevo porque não estou aguentando mais o turbilhão de sentir que eu me transformei. Escrevo porque cansei de fingir que estou bem, quando estou destruída por dentro, quando tenho que esperar a solidão de um quarto vazio pra desfazer o sorriso que já não é meu, quando preciso estar longe de todos pra poder chorar, porque meu pranto é incompreendido.
Escrevo porque eu sinto falta de ter um pai, alguém que implique com minhas calças justas, meu jeito despojado de mascar chiclete, meu jeito errado de comer, mas alguém que me falasse, em toda lágrima minha, que daria a vida por mim.
Escrevo porque sinto falta do meu irmão, porque minha vida é vazia sem ele aqui pertinho, sinto falta de poder abraça-lo e ouvir ele dizer: te amo, minha baixinha. E tenho que silenciar, porque as pessoas gostam de comungar da sua alegria, nunca da sua dor.
Escrevo porque estou fisicamente longe das minhas duas melhores amigas e sei que tenho falhado com elas, não tenho sido o que elas esperam que eu seja, não tenho dado colo, carinho e amor. Mas queria que elas soubessem que eu não sei fazer o certo quase sempre, que eu desaprendi rezar, mas quando falo com Deus, me lembro delas e peço todas as coisas mais lindas do mundo pra elas duas. Só queria que elas entendessem que eu tô meio perdida, sem rumo certo e que por vezes, se me ausento, é só pra não levar problemas, tristezas, medos, incertezas, dores. Mas eu as amo, muito.
Escrevo também porque amo um cara e não sei muito bem o que vai ser desse amor, eu sei que ele gosta de mim, lá do jeito dele, mas sei também que ele algumas vezes não sabe muito o que fazer com esse gostar, se perde, não acha o caminho de volta, fica no escuro, procura uma lanterna, me magoa, se magoa, a gente se perde, se tromba de novo, resolve cada um ser feliz sozinho, não é feliz, se reencontra, se acarinha, acha que pode ser diferente, mas não tem muita certeza de nada. Escrevo porque não é fácil estar longe dele, a ausência dele deixa um buraco que nada preenche. Escrevo pra não me desesperar, pra não correr pra perto dele sem pensar em mais nada. Escrevo pra pensar. Porque quem ama, não pensa. Escrevo porque sempre acho que vou me magoar, escrevo porque sempre acho que não vou ser pra ele o que de fato, ele precisa. Escrevo só pra entender como uma coisa que era pra ter tanta cor, acaba ficando meio cinza.
Escrevo pra quem já foi, é uma tentativa, deveras frustrada, de traze-los pra perto. Como dói, como dói ver fotos, rostos, se tocar que esqueceu a voz, que esqueceu como era o toque e é por isso que eu escrevo. Pra tentar manter, mesmo que de aparência, um sorriso no rosto, 'sorriso lindo' como as pessoas que gostam de mim dizem.

Enfim, escrevo, porque escrevendo posso ser algo melhor do que de fato sou. Posso me imaginar em um campo de girassóis, posso me imaginar sentada no chão da sala comendo brigadeiro com as minhas amigas, ou então, me imaginar quente e acolhida no peito do homem que eu amo. Escrevo porque as letras tem o poder de deixar a realidade mais leve. Porque a poesia é isso. Ela torna o sofrido, não menos sofrido, mas mais bonito. Escrever e ser nua nas letras é talvez a única maneira que a gente de doer bonito. E de superar o peso de um coração carregado de dores. Ou escrever aumenta o coração, ou diminui a dor. Como disse Fernando Pessoa: "Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir"
E que nunca, por nada, me tirem as letras. Amém.


Na tentativa de ocupar meus pensamentos eu fui ajeitar umas coisas nas gavetas. E no meio de tanta coisa encontrei aquela calcinha branca que você adorava, aquela sem toda-cara-de-mulher-sexy mas que combinava com meu corpo e com minha pele. 
Segurando a calcinha na mão, perto do coração, sentei na cama e lembrei das noites que eu deixava de pertencer pro mundo e era só sua. De quando você segurava meus cabelos de um jeito que parecia que eu ficaria presa pra sempre em ti.
Lembrei de você todo com cheiro de banho, com sua camiseta branca de gola toda zoada e cara de menino-homem-mais-lindo-planeta. 
Quando eu te conheci eu comprei felicidade no mercado e levei pra casa. Só que sei lá, por descuido eu coloquei muito na beirinha da prateleira e acabou caindo, já tinham me dito que felicidade era frágil, mas eu sou meio estabanada e era legal fazer café olhando pra aquela felicidade ali, tão linda, tão possível.
Você deixou tudo com um gosto feliz, os lençóis da cama, as toalhas do banheiro, as xícaras, os quadros, as cortinas. A felicidade só era no fundo, o seu reflexo.
Te olhava dormir, te olhava conversar no celular, te olhava dirigir, te olhava enquanto meus quadris dançavam no teu colo. Como eu amava te olhar. Parecia que meus olhos eram fascinados por ti, como se tivessem recebido algum tipo de magia. Eu viveria só pra te olhar, se possível fosse.
E agora agarrada com essa calcinha que eu nunca mais vesti, parece que até sinto seu cheiro. Fecho os olhos bem apertados e sinto sua mão me pegando pela cintura, você me silenciando minha birra, você me mostrando meus caminhos, me percorrendo, sendo dono. 
Lindo quando você me apresentava pro seu amigo da faculdade, como 'sua' menina. Lindo quando você em fazia dormir e depois me carregava pra cama, lindo quando você contava pra sua mãe que eu tinha aprendido fazer o bolo que você adorava. Você foi lindo. Continua lindo, mas comendo outros bolos, colocando outras pra dormir e até apresentando outras meninas pros seus amigos de faculdade. Meninas que não merecem nem um jogo de futebol na TV ao lado do meu melhor namorado*.
A felicidade caiu, quebrou, tentei colar, nada que é colado pode ser bonito de novo. 
Da palavra felicidade, ficou só o 'cidade'. Talvez uma indireta pra que eu me jogue nas ruas atrás de ti. Mas não. A gente se quebrou também, do eu-e-você ficou só o eu. E as lembranças que teimam em não se quebrar.


O sol não espera, o dia não espera, a vida não espera, Cazuza lindamente disse que o tempo não para.
Você se arrisca, joga alto, aposta todas suas fichas, marca casamento, decora a casa, troca os móveis e acaba sentada na soleira da porta, chorando, sozinha, com as chaves do futuro que sonhou sozinha nas mãos.
Se desespera, se descabela, aluga as amigas, manda SMS pra ele, manda e-mail pra ele, sente ódio dele, sente ainda mais amor, sente saudade.
Acha que nunca vai passar. É igual quando se é criança e a mãe da gente sai pratrabalhar, achamos que ela nunca vai voltar. 
E quem vive a dor da mãe não voltar consegue aceitar qualquer outra dor.
Lambe as feridas, passa uma base pra disfarçar as olheiras e fala: Tô bem e sorri. Sorri o sorriso de olhos apertados e dentes brancos. O coração fecha os olhos pra não se chatear com tanto fingimento. Lábios são fingidores.
Vivendo, mas sempre com aquela sensação estranha ao chegar em casa, deitar na cama... ‘podia ter dado certo’, ‘é ele que eu quero’ , ‘ai que saudade dele, caralho’.
Evita as músicas, apaga as mensagens, apaga as fotos, sente falta, sente vontade de dar na cabeça dele com uma frigideira de ferro e suspira aliviada no final de cada dia: tá passando.
E passa. Você vai lendo coisas, situações que te fazem crer que não era como imaginava.
O coração começa abrir os olhos porque os lábios não fingem mais. O ‘tô bem’ é verdadeiro, ainda dói, mas já dá pra sorrir.


Pra quem aprendeu a ser sozinha, a solidão de verdade dói menos que a solidão que vem acompanhada.