domingo, 27 de março de 2011

Domingo é o meu inferno astral.

Duvido que haja algo mais entediante. É dia de descansar, de almoço em família, de ir ao parque: o domingo é benevolente demais. Não tem a malícia do sábado nem a determinação da segunda. É um dia em cima do muro, não é dia de festa nem de trabalho. Nem lá, nem cá. Nem mais, nem menos. Suporto tudo nessa vida, menos as fases transitórias, aquelas onde já abandonamos o lugar em que estávamos mas ainda não chegamos aonde queremos. Viajar de avião, por exemplo. Tem coisa que nos deixe mais sem chão, literalmente? Estrada tem ao menos a paisagem para distrair, e quem quiser sair do carro, sai. Mas você não pode sair de um avião. Nem de um domingo. Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. (...)

Inteligência é afrodisíaco.

Os homens mais inteligentes (cuja pesquisa inclui também os ateus e os politicamente liberais, mas nisso ninguém se ateve) são aqueles que estão atentos às transformações sociais e que se deram conta de que mais vale ter uma mulher incrível ao lado do que uma coleção de biscates, e resolveram reduzir a farta distribuição de sementinhas. Sendo homens seguros, não precisam copiar o padrão machista de seus pais e avôs. Captaram, com mais rapidez que os neurologicamente desfavorecidos, que o risco de perder a mulher amada é grande e que a fidelidade pode ser um bom investimento a longo prazo. Como é que ficaram tão espertos?

Martha Medeiros.

Venha logo

Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo; aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim. Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto. É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias. É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena. É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito, preparar uma massa, sentir seus cílios. Claro, "o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato". Mas e o dia de hoje? Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar. Não negue, apareça. Seja forte. Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto. Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados. É preciso que você venha nesse exato momento. Abandone os antes. Chame do que quiser. Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates... Apague minhas interrogações. Por que estamos tão perto e tão longe? Quero acabar com as leis da física, dois corpos ocuparem o mesmo lugar! Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha. Não sou pedaço. Mas não me basto.

Sou dessas mulheres que dizem sim.

Meus amigos reclamam quando suas namoradas o perseguem. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falarem praticamente nada, o cerceamento dos horários. Sempre as mesmas tramas de tolhimento da liberdade, que todos concordam e soltam gargalhadas buscando um refúgio para respirar. Eu me faço de surda.
Fico com vontade de pedir emprestada a chave da prisão para passar o domingo. Acho o controle comovente. Invejável. Não sou favorável à indiferença, à independência, ao casamento sartreano. Fui criada para fazer um puxadinho, agregar família, reunir dissidentes, explodir em verdades. Duas casas diferentes já é viagem, não me serve. Aspiro ao casamento pirandelliano, um à procura permanente do outro. Sou um totalitário na paixão. Uma tirana. Uma ditadora. Não me dê poder que escravizo. Não me dê espaço que cultivo. Não me eleja democraticamente que mudo a constituição e emendo os mandatos. Quero um homem perdigueiro, possessivo, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero um homem que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandaloso na briga e me amaldiçoe se abandoná-lo. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando.
O homem que ninguém quer, eu quero. Contraditório, incoerente, descabido. Que me envergonhe para respeitá-lo. Que me reconheça para nos fortalecer. O homem que não sabe amar recuando e não tolera que eu ame atrasado. Que parcele em dez vezes seu dia, que não pague a conversa à vista na hora do jantar, que não junte suas notícias para contar de noite como um relatório. Admiro os bocados, as porções, as ninharias. Alegria pequena e preciosa de respirar rente ao seu nariz e definir com que roupa vou ao serviço. O amor é uma comissão de inquérito, é abrir as contas, é grampear o telefone, é cheirar as camisas. É também o perdão, não conseguir dormir sem fazer as pazes. O amor é cobrança, dor-de-cotovelo, não aceitar uma vida pela metade, não confundí-la com segurança. Exigir mais vontade quando ela se ofereceu inteira. Enlouquecê-lo para pentear seus cabelos antes do vento. Enervá-lo para que diga que não a entende. E entender menos e precisar mais.
Quem aspira ao conforto que se conserve solteira. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha. Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-lo: avisá-lo para espiar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-lo, sublinhar uma frase para guardá-lo.
Sou doida, mas doida varrida. Bem limpa. Aprendi a usar furadeira e agora entro fácil em parafuso. Quero um homem que não seja imaturo, que possa adoecer e se recuperar do meu lado. Um homem que me provoque quando não estou a fim. Que dance em minhas costas para me reconciliar com o passado. Que me acalme quando estou no fim do filtro. Que me emagreça de ofensas. Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém. Quero um homem que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonada para nunca desmerecê-lo, que esteja apaixonado para não diminuí-lo aos amigos.

Bipolar?!Eu

Eu amo desorganizada, desenvergonhada. Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso. Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte. A confusão é quase uma solidão adicional. Uma solidão emprestada. Sou daquelas que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer. Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio. Quisera resistir mais. Mas eu faço comigo a minha pior vingança. Amar demais é o mesmo que não amar. A sobra é o mesmo que a falta. Desejava encontrar no mundo um amor igual ao meu. Se não suporto o meu próprio amor, como exigir isso?
Um dia li uma frase em Hegel: "nada de grande se faz sem paixão". Mas nada de pequeno se faz sem amor. A paixão testa, o amor prova. A paixão acelera, o amor retarda. A paixão repete o corpo, o amor cria o corpo. A paixão incrimina, o amor perdoa. A paixão convence, o amor dissuade. A paixão é desejo da vaidade, o amor é a vaidade do desejo. A paixão não pensa, o amor pesa. A paixão vasculha o que o amor descobre. A paixão não aceita testemunhas, o amor é testemunha. A paixão facilita o encontro, o amor dificulta. A paixão não se prepara, o amor demora para falar. A paixão começa rápido, o amor não termina.
Não me dou paz sequer um segundo. Medo imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o suco, de ser violenta com a respiração e virar asma. Até a minha insegurança é amor. O pente nos meus cabelos é faca enquanto é garfo para os demais. Sofro incompetência natural para medir a linguagem das laranjas, acredito desde pequena que tudo o que cabe na mão me pertence. Minha lareira não dura uma noite, esqueço da reposição das achas, do envolvimento da lenha no jornal, de assoprar o fundo. Brigo com o bom senso. Ou sinto calor demais ou sinto frio demais. Uma ânsia de ser feliz maior do que a coordenação dos braços. Um arroubo de abraçar e de se repartir, de se fazer conhecer, que assusta. Pareco agressiva, mas é exagerado. Conto tragédias de forma engraçada, falo de coisas engraçadas como uma tragédia. Nunca o riso ou o choro acontece quando quero. Cumprimento como se fosse uma despedida. Desço a escada de casa ao trabalho com resignação, mas subo na volta pulando os degraus. Essa sou eu: que vai pela esperança da volta.

Doce mistério.

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E sinta vontade de escrever poemas. Garimpar estrelas. Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem no coração. Nesse mistério que nos faz olhar a mesma imagem inúmeras vezes, sem cansaço, seja ela feita de papel ou de memória. Que nos faz respirar feliz que nem folha orvalhada. Querer caber, com frequência, no mesmo metro quadrado onde a tal vida está. Cantarolar pela rua aquela canção que a gente não tinha a mínima ideia de que lembrava.
Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. Estive pensando nesse mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa nos deixe com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol que esteve o tempo todo ali e a gente somente não o ouvia cantar. Nesse mistério que nos faz trocar buquês dos olhares mais cuidadosos. Que nos faz querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que isso já é uma prece e a gente nem desconfia.
Estive pensando nesse mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer no amor com o tempero bom da ludicidade. Nesse clima de passeio noturno em pracinha de cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra recostar e repousar cansaços. Nesse lume capaz de clarear um quarteirão inteirinho da alma. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento embrulhado pra presente.

Qual é a minha nota, de um a dez? Acho que uns quatro.

Se ser feliz para sempre é aceitar com resignação católica o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é deste paraíso que quero fugir. Tenho medo de não conseguir manter minhas idéias, meus pontos de vista, minhas escolhas. (...) Eu tenho medo é da lucidez. Tenho medo dessa busca desenfreada pela verdade, pelas respostas. Eu me esgoto tentando morder meu próprio rabo. (...) Ok, eu sei que jamais vou derramar um copo de cerveja na cabeça de um homem, nem vou sair nua pelos parques protestando contra o uso de casacos de pele. Eu nunca vou fazer uma extravagância, e é isso que me assusta, porque uma piração de vez em quando pode ser muito bem vinda. Eu não tenho medo de perder o senso. Eu tenho medo é desta eterna vigilância interior, tenho medo do que me impede de falhar. Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, se acaso, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. (...) As coisas muito boas e as coisas muito ruins exigem explicação. Coisas mais ou menos estão explicadas por si mesmas. Perigoso é a gente se aprisionar no que nos ensinaram como certo e nunca mais se libertar, correndo o risco de não saber mais viver sem um manual de instrução. Sou quase oriental... sou latina muito raramente. Mas tudo mudou, ando tão mexicana por dentro, quase histérica. Eu estou apaixonada mas não é por uma pessoa. Estou apaixonada pela lembrança de algo leve, solto e rápido, como uma bola de gás que escapa da nossa mão e passa a ficar cada vez menor e mais distante. Estou apaixonada pelo impacto da vida, por um tiro certeiro e bem mirado, pelo arrebatamento provocado pelo descuido das minhas defesas. (...) Talvez lembre de mim como uma mulher vivida, descolada, que lida bem com relações descartáveis, logo eu que odeio copos de plásticos, canudinhos, tudo que não dure. Não gosto de nada que é raso, de água pela canela. Ou mergulho até encontrar o reino submerso de Atlântida, ou fico à margem, espiando de fora. Não consigo gostar mais ou menos das pessoas, e não quero essa condescendência comigo também. (...) Sexo deveria se como uma chuveirada. Uma gargalhada. Não gosto da vida em banho-maria, gosto de fogo, pimenta, alho, ervas, por um triz não sou uma bruxa. (...) Não gosto que me peçam para ser boa, não me peçam nada, mesmo aquilo que eu posso dar. As relações de dependência me assustam. Não precisem de mim com hora marcada e por motivo concreto, precisem de mim a todo instante, a qualquer hora, sei ouvir o chamado silencioso da amizade verdadeira, do amor que não cobra, estarei lá sem que me vejam, sem que me percebam, sem que me avaliem. (...) Eu me exijo desumanamente. Tenho impressão de que se eu não tiver uma vida bem argumentada ela vai se esfarelar em minhas mãos. Sou garimpeira, quero sempre cavoucar a razão de tudo, não consigo dar dois passos sem rumo determinado.

Metade de mim agora é assim: de um lado a poesia, do outro a dúvida

Igual a muita gente, sou uma soma. Soma de pensamentos, concepções, medos, reações... Sei que amo tudo o que me faz bem; Que definitivamente não sei disfarçar sentimentos; Que em momentos de ansiedade a cozinha vira meu cômodo predileto; Que rio muito; Que não gosto de desconfiança; Que falo muito e alto; Que o amor me faz um bem enorme; Que choro quando fico nervosa; Que não gosto de explicações; Que quando estou brava levanto a sobrancelha ; Que me dou bem com a maioria das pessoas; Que olho pra baixo quando fico sem assunto; Que quando acordo não sou eu; Que meus olhos incham a critério da rinite; Que odeio intromissões; Que na t.p.m. eu sou suportável, mas chorona; Que me desinteresso fácil; Que perdôo rápido; Que eu não tenho paciência pra passar muito tempo falando sobre a mesma coisa; Que enquanto me fizer vibrar, eu sou a mais interessada; Que sou vaidosa; Que estou no caminho certo; Que sou leitora e ouvinte de tudo o que se faz bom; Que preciso de mais determinação, pra não perder tantas oportunidades; Que sou feliz e que ainda vou ser muito mais; Que posso ser muito mais ou bem menos do que isso, só depende de mim.

Fazer do amor, uma oração.

Deitados em sua cama forrada... ele a fitou com ternura, acariciou o rosto dela com a parte externa da mão direita. Com a mão esquerda, por baixo da blusa que a cobria - um tanto que transparente e convidativa -, escorregou a mão sobre o tronco superior dela, do pescoço, passando por entre os seios até o umbigo. Olhou-a de novo com um misto de intimação e afeição e lhe disse: "Faz amor comigo, agora?". Ela se assustou. Olhou-o com ar de querer misturado com medo e lhe respondeu: "Mas, não estamos sozinhos em casa! A qualquer momento alguém pode abrir a porta!". O mesmo a encarou com um sorriso manso no rosto. Pegou em sua mão, beijo-a. Passou o seu dedo indicador da testa ao queixo dela. Pousou um beijo cheio de amor nos seus lábios. Pregou os seus olhos amendoados nos olhos que pertenciam a ele e lhe retrucou com perspicácia: "Viu? Acabamos, mais uma vez, de fazer amor, sem nem se quer nos tocar por inteiro". Puxou-a para perto do seu peito, afogou-a em seus braços. Ela sorriu, lisonjeada por ter conhecido ele, a quem tanto lhe ensinava sobre a divindade de viver e fazer o amor.

Sem respostas

Se soubesse quem sou, não seria daqui, deste mundo, deste plano, desta vida. Não teria tantas dúvidas, medos e culpas. Nem faria planos para o futuro. Se soubesse quem sou, apenas seria e ponto. Aproveitaria cada momento fazendo tudo aquilo que gosto. Sem ânsias, preocupações, ou mesmo pressa. Se soubesse quem sou, dispensaria descrições. E não ousaria tanto num mundo desconhecido. Seria uma gota de certeza num mar de dúvidas. A prova determinística de uma aleatoriedade limitada. Se soubesse quem sou, não haveria tantos pontos de partida, tantos sonhos, tanta liberdade. Talvez não tivesse me apaixonado novamente, não contaria minhas idéias, nem desejaria salvar o mundo. Mas o fato é que não sei quem sou, de onde venho ou mesmo porque estou aqui. Vivo em meio a descobertas que me proporcionam, a cada dia, um novo caminho. Uma nova vida que se regenera a cada instante, sem jamais permanecer igual. O não saber quem sou, propulsiona o desejo de me redescobrir a cada amanhecer. Um dia menina, outro mulher. Em meio a ciência, sonhos e vida real. Em busca de razão, equilíbrio, felicidade, respostas. Um ser só. Só aprendendo a ser. É como cantam os Engenheiros do Hawaii: "Se eu soubesse antes o que sei agora, erraria tudo exatamente igual. (...) Se eu soubesse antes o que sei agora, iria embora antes do final". Hoje sei muito do pouco que sou, embora saiba que nunca saberei tudo. Mesmo assim, posso dizer que, aos trancos e barrancos, me tornei a mulher que eu sempre quis ser. Hoje eu sou essa mulher, e tenho orgulho de ser.

Love is all we need.

Amar nada mais é do que uma simples forma de aceitar. É engraçado como a gente só aprende vivendo. Também não queria ter citado este clichê, mas já que citei... A experiência de vida e o tempo são os melhores métodos de provar que o amor precisa ser praticado. Não me refiro apenas aos casais apaixonados não! Falo de toda e qualquer forma de amar. E nesse "barco de amores" vale o amor de amigo, amor de irmão, amor de pai e mãe, amor de cachorro... (Isso mesmo, temos muito o que aprender com eles!). Amor pela natureza, amor pelo mundo, amor-próprio. Amor pela sua terra, pelo seu país, amor pela carreira, amor pelo próximo, amor por Aquele que nos ensinou a amar, amor pelos que precisam de você, amor suficiente pra repartir, amor pra distribuir, amor pra abrir um sorriso e fazer outra pessoa retribuir... Se pequenos gestos de amor fossem praticados diariamente, algumas pessoas e alguns lugares no mundo seriam menos "frios".

Amor tirou de mim tudo que era falta.

O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, mas principalmente, o que ele tira de mim: a carência, a ilusão de autossuficiência, a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, para qualquer coisa, a qualquer hora. Ele apazigua o meu peito com uma lista breve de prós e contras. Mas me dá escolhas. Eu me percebo transformada pelo que o amor tirou de mim por precisar de espaço amplo e bem cuidado para se instalar. O amor tira de mim a armadura, pois não consigo controlar a vulnerabilidade que vem com ele; tira também a intransigência. O amor me ensina a negociar os prazos, a superar etapas, a confiar nos fatos. O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade, de ir embora antes de sentir vontade, de abandonar sem saber por quê. E é por isso que o amor me assombra tanto quanto delicia. Porque não posso virar as costas pra uma mania quando ela vem de uma pessoa inteira. Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha quando o meu ser transborda companhia. O amor me tira coisas que eu não gosto, coisas que eu talvez gostasse, mas me dá em dobro o que nunca tive: um namoramento por ele mesmo. O amor me tira aquilo que não serve mais e que me compunha antes. O amor tirou de mim tudo que era falta.

Digo ainda mais: quando eu crescer, o que eu quero é ser criança!

Admiro a beleza das pequenas coisas, aquelas pequenas grandes coisas. E prefiro as pessoas pequenas. As pessoas grandes só se importam com o que vêem. Elas não têm dentro de si um sentimento maior, uma clareza do que é belo de verdade. Prefiro as pessoas pequenas. As pessoas grandes só se importam com o que podem tocar. Elas não têm dentro de si a beleza do que é intocável. As pessoas pequenas vêem a importância de uma semente ou de um simples pôr-do-sol. Porque, para elas, o que é invisível aos olhos, torna-se mais importante. Depois de ter lido O Pequeno Príncipe, desde criança, tenho certeza: "Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos". Ele referia-se à habilidade de ver sentimentos, de entender que o que se leva da vida é o que se faz por aqui. O que eu quero dizer, na verdade, é que a gente tem um mundo de escolhas pela frente. Mas as nossas escolhas fazem o que somos, e a gente sempre se torna o que é.

Desse tipo de gente que é de verdade

Sou dessa leva de gente que tem como sina ver demais. Sentir demais. Amar quase do tamanho do amor. Traço de nascença, uma estranha dádiva que, durante temporadas, pra facilitar a própria vida, egoísmo que seja, a gente tenta disfarçar de tudo que é maneira que aprende. Mas não tem jeito, nunca terá, nascer assim é irremediável, o que é preciso é desaprender o medo.
Por tudo o que é mais sagrado nesse mundo e em quaisquer outros que não tenho certeza se existem, mas suspeito, muitas vezes eu desejei não ver tanto. Criança, quando senti isso sem saber palavras, inventei minha miopia. Não adiantou: o encurtamento dos olhos é só do lado de fora, por dentro eu vejo muito comprido. Alguns sentem vida, sentem beleza, sentem amor, com doses de conta-gotas. Eu, não: é uma chuvarada dentro de mim.
Que os sensíveis sejam também protegidos! Que sejam protegidos todos os que vêem muito além das aparências. Todos os que ouvem bem pra lá de qualquer palavra. Todos os que bordam maciez no tecido áspero do cotidiano. Todos os que propagam a bondade. Todos os que amam sem coração com cerca de arame farpado. Que sejam protegidos todos os poetas de olhar e de alma, tanto faz se dizem poesia com letras, gestos, silêncios ou outro jeito de fala. Que sejam protegidos não por serem especiais, que toda vida é preciosa, mas porque são luzeiros, vez ou outra um bocadinho cansados, no escuro assustado e apertado, do casulo desse mundo.
Li em algum lugar e adaptei:

Você ainda vai amar e odiar a mesma pessoa, vai querer morrer e vai querer viver mais, vai se perguntar o porque de gostar, o porque de amar, vai rir das coisas que passou, vai rir de como você era, de como você é, e de como você pensa ser, vai querer mudar de nome, vai querer ser outra pessoa, vai querer rir com vontade de chorar, chorar com vontade de rir, vai acreditar e desacreditar, vai arriscar mesmo sabendo das consequências, vai deixar de tentar por medo, dúvida, vai se arrepender, vai querer voar, vai querer sumir, vai querer recomeçar, mesmo nunca tendo começado, vai fazer planos com outra pessoa, mesmo ela nunca tendo feito parte disso, vai perder o orgulho, vai perceber que mesmo sendo sempre a mesma pessoa, você nunca é uma só. E vai perceber que tudo um dia faz sentido, por mais tarde que seja.

Que sdd de mim...

Eu sou tão estranha... Às vezes eu gosto de ficar sozinha, de não falar com ninguém. Às vezes converso horas, com qualquer um. Às vezes eu fico exageradamente triste, feliz, ou com raiva, do nada. Às vezes, eu escuto uma música milhares de vezes sem cansar dela: "isso me acalma, me acolhe a alma, isso me ajuda a viver"... É que as músicas que eu gosto parecem ser um pedaço da minha vida. Guardo lições nelas. Às vezes eu falo coisas que não deviam ser ditas e deixo de falar as coisas que realmente importavam. E às vezes eu machuco as pessoas, às vezes elas é que me deixam em pedaços, mas não me perco. Junto, colo, guardo os pedacinhos. E sim, há vezes em que eu não peço desculpa. Algumas vezes me arrependo do que faço, do que digo, do que escolho. E quero voltar atrás. E na maioria das vezes, eu esqueço do quanto aprendi com meus erros e do quanto eles foram necessários também, do quanto eu cresci e do quanto eu me sinto bem agora, mesmo eu sendo assim, talvez tão estranha. Às vezes, esqueço de mim. Mas hoje, marquei um encontro comigo. Fazia tempo que não me olhava de frente, de perto. Não posso me atrasar... Estou ansiosa pelo encontro! É que de repente bateu uma saudade louca de tudo, dos amigos antigos, das pessoas que passaram pela minha vida, até dos amores que não deram certo, da infância, do tempo que que eu deitava a cabeça no travesseiro e só tinha coisas boas pra pensar, nada de preocupações, decepções... E ali eu tinha certeza de ser feliz! Ali eu aprendi a ser feliz, e segui praticando a lição, a duras penas. Só de piraça, só por teimosia, decidi ser feliz pra sempre. E tenho sido, mesmo quando não sei perceber. Não tenho saudade de ser feliz, tenho saudade de quem eu sou quando reconheço isso.

Com açúcar, com afeto.

Voz firme, voz de quem sabe cuidar de alguém, voz de quem leu até o sétimo capítulo do livro, aquele que diz: me dê o teu amor, que te cuido. E aprendeu, quase sem querer. Sei, parecia loucura, mas sempre foi real. Como um arco-íris é uma doce surpresa no fim de uma tarde chuvosa, ainda é quente: claro, não poderia ser diferente, temos corações quentes, vidas amorosas passadas que viviam da ansiedade por um amor que cuidasse da gente, que a gente cuidasse, de verdade. Todos, no fundo, mesmo que bem no fundo, queremos aquele amor-pra-toda-vida-amém. Foi assim que a gente se encontrou, dessa vontade de ser pra sempre de alguém, de ser de alguém todas as noites, as quentes e as frias, todos os dias da vida. Uma vontade mais forte que as decepções, que os acasos e ocasos, que os dissabores anteriores... Assim, pudemos flutuar pelas nuvens, por entre o sua voz calma particular e tua manha de come-quieto, quase como um mineiro, e por debaixo dos lençóis. Nós dois fomos feitos muito pra nós dois! Não importa como, ia acontecer, a gente sabia. A gente sempre soube... Em uma madrugada de muito amor, fragilidade, nada mais sera vazio, doces palavras me envolverão, enchendo de açúcar o meu sorriso. E sera meu o teu sorriso! Teu peito, meu abrigo.



ps:só conheço uma pessoa com voz ssim....

Sobre você, devagar.

Sobre você, devagar. Sobre seus olhos, movimento-me como as marés. Eu os admiro em câmera lenta como se na direção deles desprendesse os pés da pedra no salto final, num mergulho. São olhos de oceano, tão claros que até o mundo fica mais nítido em seu reflexo. Sobre você, devagar. O mundo não se resume mais nos quadris, mas onde quer que haja contato, onde quer que você me engula e eu engula você. Somos ondas, somos espuma. Isso que pingou no seu rosto, não é lágrima de alegria. É água do mar.
No dia que em que surgiu você, saltei para fora do silêncio – e o silêncio é uma coisa densa. O sol pulverizou pedras. E o dia em que você está começa não com um sorriso, mas gargalhadas. É uma espécie de hino feito de aurora. Finalmente, depois de tanto tempo, entendo a palavra júbilo. Pássaro azul vezes mil, doce preferido vezes mil, beijo único, beijo primeiro. Beijo, sim, seus pés que o trouxeram até mim. Percorro, sim, minha boca por todas, todas mesmo, todas as partes de que é feita você. Assim, meus lábios não dizem o seu nome. Mas, ao contrário, o relevo de seu corpo explica como devo chamá-lo quando estiver sozinha e quiser sonhar com sua pele. Seu corpo tem um nome ainda a ser apreendido. Reconheço-me no seu relevo com a língua, sua alma é um sabor.
Sobre você, devagar, como num sábado, quando não há pressa e não há vida lá fora. Você descobre-me movimentos que nem eu imaginava. Decifra em meu sorrir não os dentes, sempre mais para morder, mas um detalhe da face. No falar, não as palavras, mas uma sutileza nas pausas, que já se flagra a imitar, sem querer. Estar junto é estar meio igual.
Sobre você, devagar. Como se o mundo fosse ter fim no próximo instante. Pressa pra quê? Deixe que o telefone toque. Deixe que alguém bata à porta. Deixe que as contas cheguem. Que os advogados me processem. Deixe que os vizinhos, sempre eles, reclamem do barulho. Deixe que o prédio pegue fogo e que a noite não caia e que o sol não nasça e que os relógios parem e que os animais comecem a falar. Deixe que a estupidez tome conta do planeta. Deixe que a mentira tome conta do planeta. Deixe que a indecência tome conta do planeta. Neste quarto, sobre você, devagar, contaminamos tudo o que nos cerca com sabedoria e verdade. Fui santificada ao aconchegar-me entre suas pernas.
Sinto realmente luzes em torno da cabeça. Quero você em mim como um farol e em você sempre minha atenção voltada para onde devo ir. Somos nós os navios a atravessar o improvável. Diz-me para onde aponta sua bússola para que eu saiba para onde girar meu leme.
Sobre você, devagar, as histórias passam rápido. Pois paramos de repente, sem avisar. Tudo nos ultrapassa. Árvores crescem em torno. Precisamos de sombra, precisamos de frutas, precisamos de abrigo. É vital que aqui permaneçamos sem interrupções. É vital que o meu sangue seja o seu e por isso não pode haver tais interrupções. Todos sabem que o fluxo das artérias deve ser constante a fim de que haja vida. Aqui, sobre você, devagar, há muita.
Não sei onde estou, não sei mais de onde vim. Dispenso esses conhecimentos, que agora só resta um caminho em frente e corro para esses lados. Sou o último de uma espécie. Conheci coisas más e, de propósito, senti coisas más. Um bicho ruim eu sou. Mas alisa-me a cabeça e me doma como se faz às feras. Você mostra que, na constância, posso ser constante. E o óbvio passa a ser poesia.
Sobre você, devagar, como se nunca fosse acabar. Isso, agora, foi só uma gota. Dizem que o mar é infinito. Eu mesma nunca vi o fim.Me dexa entrano seu coração?E prova que não será indispensavel nunca,que ja faz parte de mim,FOREVER

Me desperdiço, me dôo, me comovo, me arrebento de existir.

Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinada por virtude, e sim como reação contra minha negligência; que pareço generosa para encobrir minha mesquinhez; que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiada e sempre penso o pior, que sou conciliadora para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas; que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma, e sim um signo do zodíaco.

Do amor.

Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento, relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já está pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor se manifesta. A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile. Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre o desconhecido, a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência. A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o amor. Não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas. O amor brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa, como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, o amor grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Morrer de amor é a substância de que a vida é feita, ou melhor, só se vive no amor. E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Extraído do CD "Eu falso da minha vida o que eu quiser", Paulinho Moska.

Só isso

Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para outro. Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem. Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de opinião. Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária. Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes como "estou confuso". Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a insegurança. Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um amor pela amizade. Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido. Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade. Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. Amar atrasado, com a respiração antecipando o beijo. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um longo exílio. Amar com sofreguidão, não adiando o que é véspera. Amar não disfarçando as mãos, amar com os fantoches das mangas. Amar como uma canoa engatinha na margem, árvore deitada de bruços. Amar quase que por, por bebedeira, amar sem dizer por que ama. Amar desavisado, com vírgula entre o sujeito e o verbo. Amar desatinado, pressionando a amar mais, a amar mais do que é possível lembrar. Amar com coragem, só isso.

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...

"Se antes de você aparecer eu já te amava, eu já te esperava, eu já sabia que você existia, como eu posso não te amar agora que você tem forma, sorriso, coração e nome?"

Eu teria dito tanta, mas tanta coisa que acho que nem vou dizer mais nada.

Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não achei que ia conseguir dizer, quero dizer, dizer tudo aquilo que escondo desde a primeira vez que vi você, não me lembro quando, não me lembro onde. Hoje havia calma, entende? Eu acho que as coisas que ficam fora da gente, essas coisas como o tempo e o lugar, essas coisas influem muito no que a gente vai dizer, entende? Pois por fora, hoje, havia chuva e um pouco de frio: essa chuva e esse frio parecem que empurram a gente mais pra dentro da gente mesmo, então as pessoas ficam mais lentas, mais verdadeiras, mais bonitas. Hoje eu estava assim: mais lento, mais verdadeiro, mais bonito até. Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse. Por dentro também eu estava preparado para dizer, um pouco porque eu não agüento mais ficar esperando toda hora você telefonar ou aparecer, e quando você telefona ou aparece com aquelas maçãs eu preciso me cuidar para não assustar você e quando você me pergunta como estou, mordo devagar uma das maçãs que você me traz e cuido meus olhos para não me traírem e não te assustarem e não ficarem querendo entrar demais dentro dos teus olhos, então eu cuido devagar tudo o que digo e todo movimento, porque eu quero que você venha outras vezes. (...) A cada dia viver me esmaga com mais força.

Parei um pouco de escrever para olhar pela janela e principalmente para ver se eu conseguia deter o parafuso entrando no pensamento. Acho que consegui. Porque quando começo assim não consigo mais parar, e não quero que eles me dêem aquela injeção, não quero ouvir eles dizendo que não tem remédio, que eu não tenho cura, que você não existe. Eu acho graça e penso em como você também acharia graça se soubesse como eles repetem que você não existe. Depois eu paro de achar graça e fico olhando a porta por onde não entra o telefone, por onde você não fala e me lembro do pedaço apodrecido daquela maçã e então penso que talvez eles tenham razão, que talvez você não exista mesmo. Mas não é possível, eu sei que não é possível: se estou escrevendo para você é porque você existe. Tenho certeza que você existe porque escrevo para você, mesmo que o telefone não toque nunca mais, mesmo que a porta não abra, mesmo que nunca mais você me traga maçãs e sem as suas maçãs eu me perca no tempo, mesmo que eu me perca. Vou terminar por aqui, só queria pedir uma coisa, acho que não é difícil, é só isso, uma coisa bem simples: quando você voltar outra vez veja se você me traz uma maçã bem verde, a mais verde que você encontrar, uma maçã que leve tanto tempo para apodrecer que quando você voltar outra vez ela ainda nem tenha amadurecido direito.

Eterno enquanto dure.

Todos os dias, milhares de casamentos chegam ao fim. Todos os dias, milhares de pessoas se casam. Então, por que tanta gente ainda se casa, se tem tanta gente se separando? Por que insistimos em acreditar no "pra sempre" que sempre acaba? Seria a vitória da esperança sobre a experiência? Sim, seria. Quando se trata de amor, somos mais insistentes. Lutamos até o fim por quem a gente ama. Agarramos com unhas e dentes. Acreditamos no futuro enquanto mal conseguimos viver em paz com o presente. Fazemos planos. Construímos castelos no ar. Vivemos sonhos que não são nossos. Compartilhamos a vida. Mais que isso, compartilhamos a idéia de um futuro juntos.
Esperança. Se não fosse ela, ninguém se casaria mais. Se não acreditássemos que sim, pode dar certo, não haveria porque arriscar. Nós apostamos nossas fichas no amor. Acreditamos em contos-de-fadas, nos filmes com finais felizes e na novela das nove. Assistimos ao "Em nome do amor" e ao "Vai dar namoro". Choramos quando Leonardo DiCaprio faz glub glub e se afoga nas gélidas águas do oceano junto com o Titanic. No fundo – sem trocadilho – acreditamos que amar pode dar certo.
Não nos casamos porque pensamos que vamos nos separar um dia. Muito pelo contrário. Casamos porque acreditamos que vamos ficar juntos e felizes para sempre. Temos o pé no chão e a cabeça nas nuvens. Temos o coração em outras mãos que não são nossas. Decidimos a nossa vida, o nosso final de semana. Nós. Pensamento conjunto pra uma vida a dois. Abrimos mãos das possibilidades infinitas de noites perdidas porque acreditamos ter encontrado a pessoa certa. A única. Aquela. Temos o genro que nossas mães pediram a Deus ou simplesmente temos o cara com quem gostamos de passar nossas tardes de domingo. Temos alguém que nos leva ao hospital segunda-feira de manhã e que sai pra comprar xarope sábado no meio da chuva. Temos um ao outro e talvez isso baste.
Amor não tem que ser pra sempre. Como já disse o poeta, que seja eterno enquanto dure. Mas não acreditamos que o amor tenha hora marcada pra acontecer. Que saiba a hora exata de chegar e de ir embora. De repente, amamos. De repente, não amamos mais. Assim mesmo, sem aviso prévio, sem data marcada, sem carta na porta. Amamos por diversas razões que desconhecemos. Deixamos de amar por outras que sabemos menos ainda. Desconhecemos razões.
Amamos simplesmente porque queremos estar juntos. Amamos porque gostamos do cheiro, do calor, do beijo. Amamos porque gostamos de assistir tevê sábado à noite deitados no sofá. Amamos porque não sabemos cozinhar. Amamos porque gostamos de ir ao supermercado juntos. Amamos porque não temos nada em comum um com o outro. Amamos porque dividimos o mesmo edredom. Amamos porque gostamos das nossas escovas de dente na mesma pia. Amamos porque gostamos do jeito dele deixar todas as coisas em seus devidos lugares. Amamos porque não entendemos a letra dele. Amamos porque não sabemos amar. Amar é acreditar. Acreditar que pode dar certo. Acreditar em um futuro juntos apesar de. Amar é não ter a mínima pista ou garantia de que pode mesmo dar certo. Amar é um álbum de figurinhas.

"Every end is a new beginning".

"Eu nunca disse que iria ser a pessoa certa pra você, mas sou eu quem te adora".
Pois é, ainda bem! Porque ninguém é simples, afinal, é só o começo. O importante é começar. E só agora eu percebi a importância do tempo... Ele existe para unir as pessoas. Nem que seja para resolver um "mal-entendido". É importante prestar atenção. Muita, muita atenção. Olhar menos pra dentro e mais pro que tá a tua volta. E ter paciência também. Vixe, muita paciência. Porque são meninos, eles. Aliás, somos meninos todos. Tentando e tentando acertar. Eu acho que lá no fundo, tu sabe de tudo isso. Mas, quis dizer mesmo assim. Eu acredito que a gente pode dar certo sim, que é possível ser pra sempre. Desejo até. De todo coração. Mas, sei que mais do que um sentimento, é uma escolha e que precisa ser feita todosantodia, amém. Eu tenho a maior fé em nós. "Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo".
"O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até às traições. Sem perdão não há amor. Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem você mais amou. O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele e diz: Mesmo fazendo tudo errado eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto".

Momentos.

Existe um momento na vida de cada um em que é preciso separar tudo que você já viveu daquilo que estar por vir. Existe algo que ninguém pode notar. Ninguém, ninguém além de mim. E eu sei. Eu sei o que acontece quando te cobram demais, quando exigem de você coisas que você não pode dar. Durante quanto tempo tivemos dúvidas? E o que temos agora? Talvez você pudesse me responder. Hoje, depois de tudo, não sei se há como esconder a insegurança na vontade de se deixar levar pelo momento. E acho que somente em momentos como esse, quando palavras se tornam desnecessárias, é que poderemos descobrir o que é ou não é real. E somente em momentos como esse, quando fechar os olhos se torna a melhor maneira de enfrentar os problemas, é que poderemos verdadeiramente sentir. Não quero falar o que quero falar. Por isso existe algo escondido. O segredo nas linhas que definem seu rosto, na amizade, na simplicidade de cada olhar que precisei deixar morrer. Ainda espero a minha resposta, ainda espero que a resposta venha de você. A minha parte já fiz, permanecendo aqui mesmo sem ter motivos para isso. E eu não preciso provar mais nada para ninguém. E você não precisa provar mais nada para ninguém. Porque ninguém, ninguém além de mim vai notar. E somente eu sei o que acontece quando te cobram demais, quando exigem de você coisas que você não pode dar. E isso é algo que jamais farei. Então, quando eu perguntar de novo o que temos agora, permaneça em silêncio. E não deixe que o arrependimento por ter tentado durante tanto tempo se torne maior do que a vontade de ficar pra sempre ao meu lado.

até a hora de parar

dizer não querendo dizer sim, mas chega um ponto em que torna-se inadmissível certas coisas. a gente aprende a hora certa de dizer adeus, e também a hora certa de dizer 'eu te amo', entende que as pessoas não são perfeitas, e dá murro em ponta de faca até aí, erra a perder de vista, faz o que era certo na hora errada, o que não devia de jeito nenhum, e apesar de quebrar a cara muuuitas vezes e se enganar com as pessoas, continua cheia de sonhos e ilusões, porque no fundo acredita, que no fim tudo vai dar certo, e vai ter um final feliz. se foi um adeus? se foi pra sempre? como saber? se o final feliz é com você? eu não sei, mas sei do que quero. demais, demais.

Eu não sei parar de te olhar.

'


Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente. Desculpa, tudo que vivi foi profundamente... Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços. Guarda-me apenas uma fresta. Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem. Até onde posso ir para te resgatar? Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade de me inventar de novo. Desculpa, se te olho profundamente, rente à pele a ponto de ver seus ancestrais nos seus traços, a ponto de ver a estrada muito antes dos seus passos. Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos! Eu não vou renunciar a mim, nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente. Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente'.

"O que tá guardado tá guardado".

"O que tá guardado tá guardado".
Sempre ouvi isso da minha mãe, e tenho pensado sobre, esses dias. Sabe, acho que deve tá guardado mesmo, népossível. Aliás, tão guardado, tão guardado que não se acha nunca. ¬¬


Em todo caso:
"O que tem que acontecer tem muita força".
"Não precisa correr tanto, o que é seu às mãos lhe há de vir".
"Não fuja dele, mas também não precisa correr atrás. Just be patient and he comes, i promise".
"A estrada para o verdadeiro amor sempre tem obstáculos".

Os incomodados que se retirem.

Dizem que os incomodados é que devem se retirar. Concordo. Se alguma coisa me incomoda, abandono o barco. Chuto o tal do balde. Ficar insistindo em uma coisa que não vai dar certo nunca foi a minha especialidade. Manter namoros estressantes, amizades interesseiras, empregos sem futuro não faz muito sentido na minha cabeça. Desculpe minha mania de ser clichê, mas a vida é muito curta pra gente perder tempo.
Não é nada fácil me agüentar, eu sei. Sou implicante. Pouco tolerante. Pirracenta. Mimada. Falo o que penso. Faço o que tenho vontade (só o que tenho vontade!). E pior: sou adepta de uma filosofia de vida muito objetiva que eu mesma desenvolvi: "Quer? Quer. Não quer? Não quer". Muito simples. E é assim que eu gostaria que agissem comigo. Não me quer, saia da minha vida logo. Me quer? Faça por merecer.
Não puxo saco de ninguém. Detesto que puxem meu saco também. Nunca saí com quem não queria estar comigo. Nunca fui à festa sem ser convidada. Não faço amizades por conveniência. Não sei rir se não estou achando graça. Não seguro o choro se o coração estiver apertado. Não atendo o telefone se não estou com vontade de conversar. Não namoro pra falar que tenho companhia. Nunca pertenci a grupos em que as pessoas pensassem, agissem e se vestissem todas iguais. Nunca precisei beber, fumar ou me drogar pra pertencer a nenhum grupo social. Isso não sou eu.
Sou eu a cidadã cansada dos padrões machistas da sociedade. Sou eu a cidadã cansada de ver as capas de revistas com corpos de fora e imaginar se o que conta realmente é ter alguma coisa por dentro. A cidadã que, de tanto pensar, não dorme. De tanto não dormir, não pensa. A cidadã que, aos onze anos de idade, queria consertar o mundo fazendo palestras nas escolas e falando pras crianças não se drogarem. A cidadã que não confia nos homens, não acredita na humanidade e gostaria de adotar uma girafa. A cidadã que planeja montar uma família com onças, aves e siris - além da girafa. Sou eu essa cidadã estranha. Sonho que sou a Branca de Neve e acordo engasgada com a maçã.
E de tanto comer maçã podre, aprendi. Agora, jogo fora o que não presta. Ou melhor, saio eu mesma do jogo. Não faz mais sentido acreditar que a sua amiga interesseira vai ser uma pessoa melhor depois que você conversar com ela. Ou que seu namorado vai mudar aquele hábito que te incomoda porque ele te ama. Ou que seu chefe vai reconhecer seu esforço e não vai te demitir quando precisar reduzir o quadro de funcionários. Não funciona dessa forma. Por isso, saio fora antes do final do jogo se eu não estiver de acordo com as regras. Me retiro se a incomodada sou eu.
O que incomoda vai estar sempre ali no mesmo lugar. Mas você não precisa estar. Mude de lugar. Mude de casa. Mude de emprego. Mude de amigo. De ficante. De namorado. De marido. Mude de atitude. Só não fique parada reclamando. Faça aulas de boxe. Aprenda a dar bicudos, a fazer gestos obscenos, a falar palavrão, a xingar as pessoas, a largar tudo pra trás. Aprenda a não levar a vida tão a sério. Aprenda que o stress só vai destruir seu estômago e torrar seu dinheiro em análises e remédios caros. Aprenda que as pessoas não são do jeito que você gostaria que elas fossem. Eu aprendi. Aprendi a hora de me retirar: vou embora antes do final da festa.