domingo, 27 de março de 2011

Sobre você, devagar.

Sobre você, devagar. Sobre seus olhos, movimento-me como as marés. Eu os admiro em câmera lenta como se na direção deles desprendesse os pés da pedra no salto final, num mergulho. São olhos de oceano, tão claros que até o mundo fica mais nítido em seu reflexo. Sobre você, devagar. O mundo não se resume mais nos quadris, mas onde quer que haja contato, onde quer que você me engula e eu engula você. Somos ondas, somos espuma. Isso que pingou no seu rosto, não é lágrima de alegria. É água do mar.
No dia que em que surgiu você, saltei para fora do silêncio – e o silêncio é uma coisa densa. O sol pulverizou pedras. E o dia em que você está começa não com um sorriso, mas gargalhadas. É uma espécie de hino feito de aurora. Finalmente, depois de tanto tempo, entendo a palavra júbilo. Pássaro azul vezes mil, doce preferido vezes mil, beijo único, beijo primeiro. Beijo, sim, seus pés que o trouxeram até mim. Percorro, sim, minha boca por todas, todas mesmo, todas as partes de que é feita você. Assim, meus lábios não dizem o seu nome. Mas, ao contrário, o relevo de seu corpo explica como devo chamá-lo quando estiver sozinha e quiser sonhar com sua pele. Seu corpo tem um nome ainda a ser apreendido. Reconheço-me no seu relevo com a língua, sua alma é um sabor.
Sobre você, devagar, como num sábado, quando não há pressa e não há vida lá fora. Você descobre-me movimentos que nem eu imaginava. Decifra em meu sorrir não os dentes, sempre mais para morder, mas um detalhe da face. No falar, não as palavras, mas uma sutileza nas pausas, que já se flagra a imitar, sem querer. Estar junto é estar meio igual.
Sobre você, devagar. Como se o mundo fosse ter fim no próximo instante. Pressa pra quê? Deixe que o telefone toque. Deixe que alguém bata à porta. Deixe que as contas cheguem. Que os advogados me processem. Deixe que os vizinhos, sempre eles, reclamem do barulho. Deixe que o prédio pegue fogo e que a noite não caia e que o sol não nasça e que os relógios parem e que os animais comecem a falar. Deixe que a estupidez tome conta do planeta. Deixe que a mentira tome conta do planeta. Deixe que a indecência tome conta do planeta. Neste quarto, sobre você, devagar, contaminamos tudo o que nos cerca com sabedoria e verdade. Fui santificada ao aconchegar-me entre suas pernas.
Sinto realmente luzes em torno da cabeça. Quero você em mim como um farol e em você sempre minha atenção voltada para onde devo ir. Somos nós os navios a atravessar o improvável. Diz-me para onde aponta sua bússola para que eu saiba para onde girar meu leme.
Sobre você, devagar, as histórias passam rápido. Pois paramos de repente, sem avisar. Tudo nos ultrapassa. Árvores crescem em torno. Precisamos de sombra, precisamos de frutas, precisamos de abrigo. É vital que aqui permaneçamos sem interrupções. É vital que o meu sangue seja o seu e por isso não pode haver tais interrupções. Todos sabem que o fluxo das artérias deve ser constante a fim de que haja vida. Aqui, sobre você, devagar, há muita.
Não sei onde estou, não sei mais de onde vim. Dispenso esses conhecimentos, que agora só resta um caminho em frente e corro para esses lados. Sou o último de uma espécie. Conheci coisas más e, de propósito, senti coisas más. Um bicho ruim eu sou. Mas alisa-me a cabeça e me doma como se faz às feras. Você mostra que, na constância, posso ser constante. E o óbvio passa a ser poesia.
Sobre você, devagar, como se nunca fosse acabar. Isso, agora, foi só uma gota. Dizem que o mar é infinito. Eu mesma nunca vi o fim.Me dexa entrano seu coração?E prova que não será indispensavel nunca,que ja faz parte de mim,FOREVER

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