segunda-feira, 21 de março de 2011

Busco a mim mesma...

O dia amanhece sem razão. O sol cintila. Os olhos perambulam, avistando a paisagem da janela. Céu azul, um dia que clama para ser visto. As mãos esfregam os olhos, a cabeça agita-se freneticamente para livrar-se de devaneios passados e as mãos apóiam-se na cama. Não há coragem, mas há força. Uma força inata. Um desejo de vislumbrar o mundo por mais vinte e quatro horas.
O vento parece acariciar o asfalto. As árvores são embaladas como se fossem bebês ao som de uma canção de ninar. De repente, avista-se carros em fúria e fumaça; pessoas em alta velocidade, matando o tempo para dominar com precisão seus compromissos. É uma correria desenfreada: as lojas com letreiros coloridos e exibicionismo. O mendigo a querer beneficiar-se com o fruto do esforço alheio. A mulher com expressão cansada carregando o filho no colo. A crianças sorrindo à caminho da escola. Eu a observar, e pensar: "Qual o real sentido da existência?"
As pessoas nascem, crescem, talvez venham a gerar descendentes, para depois cair no vazio, na morte, como uma flor que murcha, cansada de esbanjar beleza.
Logo olho em outra direção, e percebo que ainda sou a flor cheia de vida. Que mesmo em um jardim ensangüentado, recebo a luz do alto, e posso continuar a florescer.
Busco meu caminho. Às vezes nada dá certo: as portas se fecham. Os carros quase me atropelam. As crianças me olham e caçoam baixinho da minha "vida adulta". Eu tropeço no mendigo. Vejo minhas cartas de amor no lixo. Minha vida a ser delineada, e não há chances para o contorno acontecer. Penso que é mesmo tudo muito difícil, e eu poderia deixar de acreditar em futuros êxitos. Mas a noite me acalma, me acalenta e me dá esperança para continuar buscando partes de mim perdidas pela cidade. Eu tenho a ilusão de viver para montar meu quebra-cabeças, e nada mais. Caio no mundo escuro dos sonhos; para mais tarde acordar para mais um dia. Com ou sem razão.

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