terça-feira, 19 de julho de 2011

Não sei beijar o amor...

Eu não sei. Nunca soube beijar o amor. Talvez boca seca, talvez seja salivante demais. Talvez mãos que fogem uma da outra. Talvez, só falta de sorte. Eu não sei beijar minha alma. Talvez seja tão malfadada. Talvez, só falta de sorte e mais nada. Nas noites em claro do mais profundo sono de fuga do corpo. Durmo, sonho, corro só para te esquecer. Almofadas vermelhas, luzes escuras, o vento transparente... Você, um lugar seguro que não posso me refugiar. O amor são meus dedos, minhas unhas cravadas nas pálpebras tuas. O amor é minha teia, veia, pés. Oh amor, eu não sei beijar-te. Eu não sei te fazer dançar. Procuro ritmos descompassados, malfeitos, desleixados... encontro você, tão perfeito e drástico. Oh amor, eu não sei beijar. Entre permanecer e morrer com teu veneno doce... fico! Fico sem saber o que fazer, porque a velocidade da paixão que tenho, ultrapassa a digitalidade das fotos que são rápidas em registrar-te parada, fugaz. E já me pergunto. E já me respondo. Eu não sei beijar, amor meu, princípio da minha lealdade expressiva e das falas poeticossintetizadoras.

Eu e meu anacronismo. Eu e meu antagonismo. Uma toupeira, um bicho romântico que não sabe falar ao celular. Que anda em contramão à evolução. Que quer retornar, mas sabe que as pernas não suportariam sozinhas e que quer seguir em frente, mas sabe que os cabelos mudaram de cor. Não sei mais tocar borboletas, nem revolver vulcões. Muito pior ou menos, sei ajeitar meu jardim com bancos coloridos para que você repouse. Encontrei uma placa no caminho arborizado pelo qual caminhava e ela balbuciava assim: "Aqui mora teu remédio. Vire à direita". Segui em frente e li outra: "Passaste por teu remédio e não o tocou. Beba a tua dor. Vira à direita". Em outra placa mais a frente ouvi os seguintes dizeres: "Senta, ouve, pára. O amor também ensina a beijá-lo. Embora não tenha manual, ele te explica o que não cabe em livros. Fique. Espere. Respire. Não vá para direita, nem para esquerda, nem ande, nem volte. Fique".

Me peguei a pensar nisso tudo. E assustada esfregando os olhos com as mesmas lágrimas ácidas, percebi que tenho várias placas dentro de mim. Mas que sendo o amor movedor de toda a minha poesia (sim! Poesia que é a vida minha), eu deveria me guiar somente por ele. Apesar de nunca ter sabido beijá-lo de forma eternal, eu posso esperar que ele me beije. Me ensine, me dê palmadas. Desenhe flores ou pedras em meus caminhos. Me tire a miopia, me tire toda a razão que movem os homens sem fé e sem emoção. Aprendi que posso beijar maçãs, ou livros, ou violões, ou fotos, ou vidas. E não preciso saber fazê-lo. A desconstrução é a maior dádiva que o ser pode guardar nos seios. Quebrar ondas de mar e fios elétricos é desconstruir, porque você aprende que o beijo não é tudo,mas um dia ainda vou beijar "o amor".

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