terça-feira, 10 de julho de 2012

A proxima viagem

Ela havia preparado tudo, sua lista de sempre já estava preenchida, as coisas estavam milimetricamente do seu jeito preferido e sua mala a espera do horário exato chegar. 
Ela deixara tudo como se não fosse retornar, suas roupas dobradas por ordem de cores, seus bibelôs davam um toque especial de saudade. Sua cama tão bem arrumada como se estivesse à espera de um alguém, encima continha duas vestimentas, uma para a manhã de trabalho e a outra tão duvidosamente escolhida para a viagem. Ao som de sua música preferida ela olhava fotos antigas, que continham lembranças fortes de sua infância. Uma mistura de medo, angustia e tristeza tomava conta daquele pequeno ser que ficava sem movimento sentindo o chão frio, esfriar seu corpo. Abraçada em seu urso de pelúcia ela chorava incessantemente desejando que alguém a tirasse dali, mas sem saber o que fazer ela escutará um barulho forte batendo a porta, era sua mãe que mais uma vez interrompia seus pensamentos e tentava ligeiramente controlar cada suspiro que ela dava. Rapidamente ela levantou, tomada pela raiva abrira a porta deixando que sua mãe entrasse, ouvia gritos, palavras sendo jogadas sem nenhum dó e uma pessoa que parecia descontrolada querendo simplesmente ver lágrimas caindo a sua frente. Ela se conteve ao máximo e nenhuma palavra pronunciou, precisava naquele momento apenas de um abraço daquela que por anos vem lhe atingindo sem motivo algum. Poderia ela mesma tomar a tal atitude, poderia ela seguir seu coração, dizer algumas palavras, mas a mágoa era maior e ela não conseguia esquecer tudo. Não agüentando mais aquela situação foi à rua, a escuridão já havia coberto as estrelas e a lua nem fazia questão de aparecer, sentou na grama úmida e mais uma vez as lágrimas não conseguiu evitar. Agora ela sentira saudade, uma saudade que nunca sentiu, mas que tanto temia sentir. Ela queria todos os seus amigos ali, ela queria sentir o abraço forte de seu namorado, ouvir sua cadelinha batendo a porta de seu quarto pedindo pra entrar. Ela queria sentir o cheiro do café com leite de seu avô, o gosto da comida de seu pai e de ver sua mãe fazendo aula. Ela queria brincar com seu afilhado, tirar foto com sua amiga, escrever uma poesia feliz. Ela queria muito coisa, mas naquele momento ela não poderia ter nada. Cansada, com frio e não agüentando mais seu corpo, ela resolveu entrar, fez um chá, deitou-se e escutava as lembranças que não paravam um segundo de revirar seus pensamentos. Momentos de dúvidas sobre o que fazer no dia seguinte, minutos de arrependimento por algo não feito e mais uma vez ela se sentira perdida, sentindo que restava algo a ser terminado. A incerteza da volta, o medo do fim e a impotência de não poder se ajudar lhe fazia chegar à conclusão que ela estava cansada demais pra tudo isso, necessitava sair dali e no silêncio triste daquela casa que muita coisa aconteceu, ela adormeceu.
Na manhã seguinte ela estava renovada, como em todas as outras pronta pra mais um dia, pra próxima de muitas viagens que ainda tinha que fazer, ela quis assim, não tinha medo mais da vida e muito menos de mais uma vez sofrer, só tinha medo que nada fosse diferente.

Bom esse texto eu escrevi a um bom tempo atrás, mas hoje me deu vontade de postar ele. Sei que é triste, carente e depressivo. Mas eu gosto quando minhas palavras atingem essa potência. Espero que gostem :) Ótima semana a todos ;)

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