Ela
havia preparado tudo, sua lista de sempre já estava preenchida, as
coisas estavam milimetricamente do seu jeito preferido e sua mala a
espera do horário exato chegar.
Ela
deixara tudo como se não fosse retornar, suas roupas dobradas por ordem
de cores, seus bibelôs davam um toque especial de saudade. Sua cama tão
bem arrumada como se estivesse à espera de um alguém, encima continha
duas vestimentas, uma para a manhã de trabalho
e a outra tão duvidosamente escolhida para a viagem. Ao som de sua
música preferida ela olhava fotos antigas, que continham lembranças
fortes de sua infância. Uma mistura de medo, angustia e tristeza tomava
conta daquele pequeno ser que ficava sem movimento sentindo o chão frio,
esfriar seu corpo. Abraçada em seu urso de pelúcia ela chorava
incessantemente desejando que alguém a tirasse dali, mas sem saber o que
fazer ela escutará um barulho forte batendo a porta, era sua mãe que
mais uma vez interrompia seus pensamentos e tentava ligeiramente
controlar cada suspiro que ela dava. Rapidamente ela levantou, tomada
pela raiva abrira a porta deixando que sua mãe entrasse, ouvia gritos,
palavras sendo jogadas sem nenhum dó e uma pessoa que parecia
descontrolada querendo simplesmente ver lágrimas caindo a sua frente.
Ela se conteve ao máximo e nenhuma palavra pronunciou, precisava naquele
momento apenas de um abraço daquela que por anos vem lhe atingindo sem
motivo algum. Poderia ela mesma tomar a tal atitude, poderia ela seguir
seu coração, dizer algumas palavras, mas a mágoa era maior e ela não
conseguia esquecer tudo. Não agüentando mais aquela situação foi à rua, a
escuridão já havia coberto as estrelas e a lua nem fazia questão de
aparecer, sentou na grama úmida e mais uma vez as lágrimas não conseguiu
evitar. Agora ela sentira saudade, uma saudade que nunca sentiu, mas
que tanto temia sentir. Ela queria todos os seus amigos ali, ela queria
sentir o abraço forte de seu namorado, ouvir sua cadelinha batendo a
porta de seu quarto pedindo pra entrar. Ela queria sentir o cheiro do
café com leite de seu avô, o gosto da comida de seu pai e de ver sua mãe
fazendo aula. Ela queria brincar com seu afilhado, tirar foto com sua
amiga, escrever uma poesia feliz. Ela queria muito coisa, mas naquele
momento ela não poderia ter nada. Cansada, com frio e não agüentando
mais seu corpo, ela resolveu entrar, fez um chá, deitou-se e escutava as
lembranças que não paravam um segundo de revirar seus pensamentos.
Momentos de dúvidas sobre o que fazer no dia seguinte, minutos de
arrependimento por algo não feito e mais uma vez ela se sentira perdida,
sentindo que restava algo a ser terminado. A incerteza da volta, o medo
do fim e a impotência de não poder se ajudar lhe fazia chegar à
conclusão que ela estava cansada demais pra tudo isso, necessitava sair
dali e no silêncio triste daquela casa que muita coisa aconteceu, ela
adormeceu.
Na
manhã seguinte ela estava renovada, como em todas as outras pronta pra
mais um dia, pra próxima de muitas viagens que ainda tinha que fazer,
ela quis assim, não tinha medo mais da vida e muito menos de mais uma
vez sofrer, só tinha medo que nada fosse diferente.
Bom esse texto eu escrevi a um bom tempo atrás, mas hoje me deu vontade de postar ele. Sei que é triste, carente e depressivo. Mas eu gosto quando minhas palavras atingem essa potência. Espero que gostem :) Ótima semana a todos ;)
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