E essa coisa toda de deixar um "cheiro" ao invés de um beijo, às vezes confunde muita gente. Por aqui, no nordeste, usa-se muito isso. E de onde veio esse costume já foi muito especulado, mas creio eu que ainda não haja uma boa explicação.
Os esquimós têm o beijo significando cheiro, como nós. Lá, como já é sabido, eles roçam os narizes. Mas ainda não é como o nosso. Dizem porém que tudo surgiu na China, onde eles de fato, aspiravam não só as pessoas, como também as coisas. Cheiravam moedas, por exemplo, para descobrirem a qualidade (como assim??)...
Por aqui, acho que a coisa é mais "poética". Não seria exatamente um beijo sem lábios, mas um beijo que absorve também o cheiro do objeto do nosso afeto. Ah sim, devo esclarecer pois, que o cheiro em toda a sua completude, só é dedicado mesmo a quem se tem muito afeto e ternura. Não se dá cheiros em qualquer um. E "dar cheiros" é uma expressão meio... redundante?! Concordo, já que na prática ninguém dá cheiro em nada, apenas sente-se, podendo-se até deixar cheiros, no sentido de odores que se espalham.
O cheiro daqui e que eu tanto dissemino entre vocês, é um hábito de muitos. Na minha opinião é mais abrangente do que o beijo convencional, pelo fato de que além de tocar a pessoa com os lábios, encostamos o nariz também. E como já disse, é um gesto de mais intimidade e carinho. É comum, as mães fazerem isso nos cabelos dos filhos, por exemplo. É um gesto muito afetuoso. Esperamos, contudo que esetejam todos sempre muito cheirosos para evitar qualquer "desconforto" nasal...
E fazendo votos de que estejam vocês também muito perfumados - deixo muitos e muitos cheiros pra vocês. *Sintam-se todos então, devidamente "aspirados e beijados" por mim.*
Venceslau de Morais registra em Traços do Oriente (19-21, Lisboa, 1895) a origem do "cheiro": - "os chineses não dão beijos... Não dão beijos, ou dão-nos de uma maneira muito diferente da nossa, sem o uso dos lábios, mas aproximando a fronte, o nariz, do objeto amado, e aspirando detidamente... O china beija o filhinho tenro, beija a face pálida da esposa, como ele é nós beijamos as flores, aspirando-lhes o perfume; a assimilação é graciosa... Tendo agora por conhecida, e é coisa que não se contesta, a extrema agudeza olfativa dos chineses (os negociantes cheiram as moedas de ouro que julgam falsas, e assim conhecem o grau maior ou menor da liga de cobre), podemos talvez conceber uma vaga idéia do prazer da mãe, respirando sobre a carne fresca do filho um ambiente que ela não confunde como outro; o prazer do mandarim apaixonado, conquistando à brisa o perfume de uns cabelos negros, que ele aprendeu a adorar."
Fonte: Jangada Brasil
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