Sobre as tardes que morrem.
Soprava fria a tarde imensa. Meus pés apressados íam traçando na estrada
um caminho torto. Os pensamentos que de cansados doíam, costuravam o
céu cinza feito avião partindo triste. Solidão esvoaçava, esvoaçava a
alma, o amor, a fé.
E foi assim, que na dança infinita do acaso fitei os olhos no horizonte e
vi, que o sol ainda acendia uma ponta de esperança nos morros vazios.
Esta, que de longe me esticava um aceno, vaga, sutil, e acesa, acesa
feito uma tarde de verão.
Dei um suspiro tão longo que engoli o azul do horizonte inteiro, engoli o feixe de sol que acendia a esperança, engoli a tarde e todo o tempo que lhe prendia.
Foi um suspiro tão longo que por um instante achei que tivesse morrido e
morri. Quando recuperei o fôlego meus cabelos estavam embaraçados,
embaçados estavam os meus olhos, a minha boca sorria só, involuntária, riam as nuvens no céu.
Inexplicável feito a vida que a gente leva, mas eu passei a fazer parte
daquele universo paralisado. Súbito como o encontro da chuva com a
vidraça, como o despencar de uma estrela madura.
Eu estava ali e isso era tudo. Eu engoli aquele instante como uma criança sedenta engoliria um suco de laranja gelado e doce.
E eu me permiti jorrar feito a chuva até estilhaçar a vidraça. Me permiti encontrar o chão feito a estrela e brilhar por dentro.
E eu não sei, de verdade, não sei. O que é que tu é capaz de absorver
dum por de sol. Sei que pra mim cada dia que morre é uma esperança que
renasce.
Afinal, amanhã eu não sei bem o que será, mas sou capaz de superar
sempre que houver um feixe de luz, uma gota de chuva, uma estrela madura
ou um sorriso sincero. Amanhã eu não sei bem o que é que vai ser, mas
serei feliz se tiver olhos pra ver e coração pra sentir. Simples assim.
Espero que qualquer dia tu possas me entender.
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