quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Amante não amável, mas amado.


Tenho mania de definição. Tento definir tudo, inclusive – e principalmente – o indefinível. Gosto também de classificar o inclassificável, nomear o inominável, justificar o injustificável, perdoar o imperdoável. Amar o não amável.
Em alguns momentos é divertido. Tentar achar uma palavra que descreva o amor, ou uma que traduza a paixão, outra que abarque a felicidade. Mesmo sabendo que é uma busca sem fim, ou até por isso mesmo, é gostoso brincar com letras enquanto sinto todas essas coisas sem nome.
O problema é que às vezes esqueço que a vida é o que há de mais indefinível. E que é real, e que o tempo passa, e que se eu estiver ocupada demais tentando alterar a natureza de tudo que aconteceu, perco a possibilidade de viver o que está acontecendo. E que por mais divertido que seja brincar de alterar a natureza, subverter condições, ou modificar opiniões, fatos são fatos e eles alteram os sentimentos por mais que eu tente negar.
Quantas vezes é possível perdoar o imperdoável sem gerar raiva? É possível justificar o injustificável sem ficar com aquele ranço de que no fundo não deveria ser assim? Dá pra classificar o inclassificável sem perder parte da beleza que lhe é própria justamente por não se caber em tabela alguma?
Quando penso nessas perguntas, quando as escrevo, tenho certeza que essa brincadeira já foi longe demais. Que cansei de tentar classificar, que desisto de nomear, que não quero mais justificar nem perdoar. Mas aí o amor. O amor é o que me leva a fazer tudo isso. No amor tudo é inominável e inclassificável, e nada é injustificável ou imperdoável. No amor, tudo às vezes é nada, e nada pode ser tudo, e tudo depende de algo que não tem explicação. Amar o não amável é submeter-se às sem-razões do desejo. É perceber que classificar, definir, justificar, perdoar, são todas apenas variações do que, no fundo, é o que me move: amar. Você. Amante não amável, mas amado.

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