terça-feira, 10 de julho de 2012

A falta que ele me faz(conto)

Estava começando uma das últimas noites de agosto, um mês muito estranho, onde eu me dividia entre sonhos e realizações, entre medos e coragens, entre um amor e a dúvida, não pela duvida do amor e sim do amor por mim.
         Às vezes me acho tão complicada, não queria na verdade estar escrevendo tudo isso, mas as palavras parecem fluir naturalmente e incrivelmente eu não consigo controlar mais esses pequenos dedos que já escreveram tanto. Meu rosto está parecido com aquele dia que eu me senti tão sozinha no meio de tanta gente, quando um alguém disse para eu ver minha própria imagem, e tão vergonhosamente não consegui, na minha mente imaginei como me viria e como estava sendo estranho para aquelas pessoas me verem daquela forma.
         Na minha cabeça passavam cenas de uma vida incompleta e que por mais que eu tente me esforçar, permanece assim, simplesmente incompleta. 
         Ao meu lado uma xícara de chá, vários livros que não terminei de ler, minha câmera lotada de fotos com as últimas boas recordações de um final de semana, pelo chão papeis dobrados, amassados, com frases mal escritas, uma florzinha que eu ganhei recentemente implorando para ser salva, meus olhos continuam inchados da noite passada, minha roupa amassada esconde meu corpo bastante fraco querendo reanimação, pelas paredes riscos que eu mesma fiz num momento de desespero, meu roupeiro antes tão bem organizado agora se encontra vazio, é, porque todas as roupas estão amarrotadas em um canto, por todas as vezes que a duvida bateu de qual vestir. Do meu som ecoa uma música muito familiar, algo que por mais melancólico que seja, é a única coisa que me anima, e eu não me importo se ela ta tocando há duas horas.
         Entre linhas deste texto eu deixo lágrimas caírem, as mesmas lágrimas que caem por minutos sem saber ainda o motivo certo. Lá de fora eu ouço o som da chuva que chegou sem avisar, peço que o vento que a acompanha leve junto todos os meus medos e que eu possa agora cessar esse coração que tão aflito se encontra. 
         Meu telefone toca, - mas eu nem sei onde ele se encontra. – eu o procuro rapidamente, mas quando eu o encontro já foi perdida a chamada do numero desconhecido, impossibilitando assim que eu saiba quem haveria de se importar comigo naquela hora. Ele toca novamente, eu atendo meia sem voz e pra minha grande surpresa era meu namorado me cobrando o porquê do sumiço. Incrivelmente espantada eu o deixei sem respostas, porque eu nem lembrava que tinha um namorado. Dei uma desculpa qualquer e marcamos um encontro para essa noite, mas eu não estava a fim de sair da minha casa, do meu canto, do meu quarto desarrumado e muito menos ver pessoas se divertindo e eu ali com aquela cara de que tudo um dia vai mudar, ou, eu um dia possa mudar em relação a isso. 
         Vou ao amontoado de roupas e acho um dos vestidos que havia ganhado de Ítalo no nosso ultimo aniversário de namoro, um lindo tomara que caía, na cor lilás, com detalhes em pedrinhas brilhosas, curto, mais curso agora naquele pequeno corpo. Pego também um casaco combinando. Escolho uma linda sandália que tinha comprado na ultima vez que me presenteei, meu par de brincos preferido, uma linda gargantilha presente de minha mãe, coloquei na cama juntamente com perfume ainda na caixa que havia ganhado em uma dessas promoções que você tem que escrever uma frase bonita, onde a frase ganhadora não tinha nada de bonita e sim, um relato de um coração que ainda tem esperança de ser salvo. 
         Deixei tudo pronto e fui para o banho. Quando a água tocou meu corpo eu tive uma reação desesperada, minhas lágrimas não se controlaram e parecia que queriam ser expulsas de uma vez só. Por minutos estive ali, só sentindo aquela sensação gostosa, meu corpo exausto daquele dia cansativo, de horas de auto-ajuda após o trabalho, foi se reanimando.
          Saio do banho e minha mãe está no meu quarto, ligeiramente sinto o que está por vir e já preparo meus ouvidos para não escutar tudo aquilo novamente. Ela fica ali por minutos reclamando, gritando e xingando, eu somente continuo a me arrumar como se ela não existisse, pois, às vezes, não tocar no assunto é a melhor coisa a fazer, eu sei o quanto minha distância machuca os outros, mas nada perto do sofrimento que a mim mesma causo.
Esperei minha mãe se retirar e coloquei o vestido, passei uma leve maquiagem, pus o perfume e por último minhas bijus. Arrumei meu cabelo com uma simples trança para lado direito e franja para o esquerdo. Por fim, consigo escutar alguma coisa que preste da boca daquele ser que me colocou no mundo, ela, aquela que eu trato por mãe  disse que Ítalo estava a me esperar.
         Ao chegar à sala lá estava ele, lindo, com aquele perfume que me hipnotizava, com aquele olhar que espantava qualquer tristeza e nos braços um lindo buquê de tulipas vermelhas. Óbvio que fiquei sem reação frente aquilo, e lentamente tentava me lembrar que dia era hoje, mas minha mente estava aos poucos retomando ao normal. Ele pegou minha mão e elogiando o belo vestido que eu vestia e mais ainda o gosto de quem me deu, disse que hoje ele não havia trazido algo para que eu usasse, mas sim para eu nunca esquecer. Foi então que me toquei que mais um vinte e dois havia chegado e eu tão cruelmente não me recordava. Uma mistura de ódio e nervosismo tomou conta de mim e eu não sabia o que fazer. Depois de alguns segundos estatizada, sorri e disse para ele que importante mesmo não é o presente e sim a lembrança da data, coisas essas que cruelmente eu tinha esquecido depois de alguns anos ao seu lado. Ele me deu um beijo demorado e aquilo foi capaz de apagar todos os péssimos pensamentos que ainda restavam em mim.
         Lembro-me que a nossa noite foi perfeita, perfeita como todas as outras ao seu lado. Acordei na casa dele, eu ainda sonolenta abri os olhos, olhei pro lado esquerdo e lá estava o dono de todos os meus melhores sentimentos, o homem pelo qual eu não era nada sem te-lo por perto. Fiz café da manhã pra nós, coisa rara, porque sempre isso era algo que ele fazia questão de sempre ser o comandante.
         Depois de termos saboreado, modestamente aquele delicioso café, Ítalo foi tomar banho. Foi em fração de segundos longe dele para que eu me tornasse aquela pessoa antes do jantar. As lagrimas voltaram e a falta que algo me fazia me corroia. Queria imediatamente sair dali, me esconder de tudo novamente. Foi o que fiz.
         Encontrei a agenda dele, abri na data e escrevi as seguintes palavras:
         “ Mais uma vez você conseguiu me surpreender, mais uma noite ao seu lado inesquecível, mas eu me torno fraca sem você por perto. Obrigada por mais um dia ao meu lado, por mais uma vez acordar com teu olhar junto aos meus, por saber que eu sou amada. Porém desculpa por todas as vezes que fraquejei, por todas as vezes que lutei sem esperanças. Agora eu vou partir, como da última vez, na esperança que você não demore para me encontrar, na esperança que sua imagem não desapareça de novo  dos meus olhos e que aquele calor não se apague do meu coração. Esperei você por toda a vida, esperarei você mais uma vez. Daquela que ainda não é completa, daquela que sente sua falta como nenhuma outra pessoa, daquela que sabe o que precisa para ser feliz.
                         Daquela menina que se esconde de si mesma.”

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