terça-feira, 14 de agosto de 2012

Conto:Como és necessário


Daí que todo e qualquer cara o mundo de repente inventou de ter o braço tatuado. Só pra me mostrar o tanto tudo aqui é vazio sem ele. Porque eu olho a tatuagem, até olho o rosto, mas olho buscando um pouco dele, nunca encontro nada. 
Tento em algumas vezes me iludir, achando que o cara da mesa ao lado pode sim ter o jeito que ele me faz rir, ou o jeito que me bagunça toda e me faz ter vontade de ligar só pra ouvir aquele jeito tão gostoso que ele tem de falar 'oi'. Mas o tal cara não tem nada dele. Não tem o olhar, não tem a voz, nada. Assim, volto pro meu mundo e assumo, é assumo, me olhando no espelho de um barzinho movimentado, meio bêbada, assumo que tem que ser ele, que precisa ser ele e que se não for ele, não vai ser. E sorrio pro nada, pro espelho cheio de marcas de batom, ao lembrar-me dele falando: 'você bêbada fica mais safada'. Mas até minha safadeza tem dono, meus pensamentos mais impuros são todos com ele. Ele que poderia hoje tirar esse vestidinho e se fazer dono, só ele. 
Volto pra mesa, música alta, mas eu gosto da música, o cara canta Flávio Venturini, minha amiga ainda mais bêbada que eu me diz: Tá escrito na sua testa que você ama esse cara, eu dou risada e falo: É? escrevi com caneta de neon. Escrevi no meu corpo todo. 'sou dele'.
E como todo bêbado, passada a fase de euforia, vem a fase da melancolia, a música fala de coisas lindas ["Os beijos que eu guardei tanto tempo por ai, eram seus, agora eu sei"], começo me sentir culpada, culpada por buscá-lo onde ele não tá, culpada por olhar pra outros caras querendo ver ele, culpada por ser tão insegura, por ter tanto medo dele me deixar que às vezes já até me pego traçando alternativas pra isso. 
Uma lágrima cai e borra minha maquiagem, maquiagem que ele odeia, mas eu fiz de propósito, tentei me disfarçar da mulher que ele não gosta, pra ver se assim eu conseguiria ser a mulher que ele gosta. 
Fim de noite, volta pra casa, celular na mão e a vontade de ligar. A vontade de gritar, eu te amo, você entende que eu te amo? Você entende o fato de nenhum filho da mãe daqui ser como você? Você entende que desde sei lá quando você tava destinado a ser o homem da minha vida? Hein? Você entende? Essa hora, eu não entendo mais porra nenhuma. Sério, foda-se, tô falando palavrão, deixei a doçura na bolsa.
Não liguei, deitei na cama, agarrei a almofada, sussurrei pra ela o nome dele, encaixei um travesseiro no meio das minhas coxas [que também pedem por ele] e me senti uma derrotada. Porque nenhum fim de noite vai me trazer aquilo que uma noite com ele traria. Meu vestido tomara-que-caia só poderia cair nos seus pés. Só a língua dele pode apagar os escritos que deixei com neon aqui. Só as mãos dele poderiam acalmar, só o colo poderia salvar. Só ele. Tá entendendo? Me imaginei chacoalhando ele nesse momento. Tá, é meio estranho imaginar isso, porque sou pequena demais perto dele, mas me imagine de alguma forma lhe jogando isso na cara. E sei que ele vai me imaginar fazendo isso com toda doçura do mundo. Porque vê coisas lindas em mim até quando todos os mercados da cidade param de vender açúcar de confeiteiro pra que eu possa me polvilhar.
Lembrei de quando eu tinha decidido odiá-lo. Nunca consegui.
Nessa madrugada tentei de novo. Porque eu sou assim?? Não sei, nem Freud, Woody Allen, Nietzsche ou Padre Quevedo saberiam explicar isso.
Ei moço, é complicado te amar. É dolorido te amar. Eu enlouqueço de ciúme de você. É gostoso te amar. É uma delícia te amar. [sim, estou na beira da loucura].

E se pra esse loucura existir uma cura, eu não quero. E se a cura for você, morro louca, suspirando em seus braços.A gente só precisa de cura pra doenças, não pra coisas que botam um sorriso no rosto e dão graça pra vida. Não mesmo. 

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