segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Me Escreve Um Texto?


Pessoas me pedem pra escrever textos para elas.
"Ô, Sami... Faz um texto pra mim?"
Porque elas tem essa mania de sempre, sempre pedir isso?
Juro que não consigo entender! Pensando sobre isso, percebi uma coisa: em sua maioria, quem pede, não escreve. Nada. Só redação de escola pra passar arrastado. E passa, que bom. Mas não escreve escreeeve. Não escreve quando tá arrasado. Quando acorda com o ovo virado e não quer ver ou ouvir ou ler ou sentir nada. Não levantou desalmado porque perdeu alguém querido ou porque não tem ninguém pra perder. Não colocou um pé pra fora da cama e não encontrou motivo pra colocar o outro, e assim, o recolheu antes que se arrependesse de ser covarde e ceder ao edredon quentinho. Não sabe o que é a saudade de um edredon quentinho. Por qualquer motivo que seja. O quentinho do edredon, quero dizer. Nunca respirou e sentiu que o ar que sugava com sofreguidão não era suficiente. Nunca se sentiu no limite. Entre a vida e a morte. Entre o amor e o ódio. Entre o orgulho e a vontade. Entre o querer e a saudade. A vida é feita de ruas estreitas e quem não escreve não consegue senti-las e/ou vê-las no seu total. Não sentiu os arranhões nos braços quando tentou fugir de alguém ou de tudo. Não sabe como esse apertado pode salvar sua vida quando está achando que vai desabar e não tem onde se apoiar. Não sabe o que é malemolência de conseguir remexer o corpo todo só pra poder passar sem incomodar. Ou o que são aventuras de le parkour quando é necessário achar impulso de onde não tem, contradizendo todas as leis físicas, só porque você tem que passar por cima de algo pra seguir em frente. E consegue. E passa. Mas, claro... Não sem as consequências do impacto da aterrissagem. O que eu quero é que você entenda que existe n motivos pra se escrever! E se você ainda não tem um texto meu, agradeça! Significa que você não me incomodou. Não me decepcionou, não me frustrou. Não me tirou do meu normal, no pior sentido da palavra. Não acha que isso é bom??? Acredite, se você ler um texto meu feito pra você, você não vai gostar. A não ser, uma daquelas milagrosas excessões!
Quando eu escrevo, não meço palavras pra dizer o que sinto. E o que não sinto.
Talvez você consiga entender. Ou não.
A mensagem final é: tudo está terminado quando eu escrevo um texto.
Toda a agonia, toda a expectativa, todo o sentimento sem nome gritando no meu peito. Ou todo o silêncio pertubador que me permite sentir o escorrer do meu sangue.
Porque se incomoda, é porque ainda existe.
Mas quando ele vai pra ponta do lápis ou pra ponta dos dedos, já foi pensado e decidido.
Virou um texto...

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