segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Monopólio


Não sei porque te escrevo se você nunca lê. Eu sei que é por que nunca chega até você, mas mesmo assim, eu continuo escrevendo. Pra você. Por você. De você. E escrevo e penso em palavras que combinem, que soem da maneira certa que soa sua voz quando fala comigo. Ou, pelo menos, do jeito que eu ouço. Talvez, não mude nada. Mas pra mim muda tudo. Muda e grita tudo o que pensa. Porque é sempre assim, só no pensamento. Te narro passos e expressões e voz e sorrisos e arqueios de sobrancelha. Te narro todo e tudo. Te escrevo. Mas você não lê. Nem ouve. Porque é só aqui e não chega até você. Nada. Nunca. Não sei se faz diferença, mas faço. Faço porque não sei não fazer e quando dou por mim já está feito. Narrado. Escrito. Feito. Pra você. Por você. De você. Monopólio não revogado. Espaço já tomado e nada pode-se fazer a respeito. Ou pode. Te apago e te rasgo. Em pensamentos. Talvez, não mude nada. Mas pra mim muda. Mudo seus passos e expressões e voz e sorrisos e arqueios de sobrancelha. Mudo tudo porque quero silêncio. Te ouvir me deixa tonta e me faz perder os sentidos. Me obriga a direcioná-los a você e me perco. Em você. Te olhar me faz esquecer o que eu quero falar e eu percebo que esqueci e você percebe que eu percebi que esqueci e nós rimos porque é ridículo, eu só olhei pra você. Balançados de cabeça e fechadas de olhos e suspiros e sorrisos de canto me entregam de uma forma cruel. Em pensamentos. Te narro todo e tudo. Te escrevo. Mas você não lê. Nem ouve. Porque é só aqui e não chega até você. Nada. Nunca. Mesmo não fazendo a mínima diferença te ponho em palavras porque preciso te pôr em algum lugar. Transbordar de você afoga todos os outros e leva quem está ao meu redor. Leva e lava tudo. Em pensamentos. Não sei porque te escrevo se você nunca lê. Mas, mesmo assim, eu continuo. Te narrando. Te escrevendo. Tudo e todo. Em pensamento.


"Eu penso em te escrever
 Escrever uma carta definitiva
(...)
Descartar, embaralhar você!"..
 Engenheiros do Hawaii.

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